Um pai superprotetor no divã
(analisante) - Eu poderia ter sido um “alguém na vida” caso tivesse ouvido meu pai. Hoje trabalho muito e ganho pouco. De alguma maneira, consigo oferecer uma boa educação para os meus filhos dando-lhes oportunidades que nunca tive na idade deles.
Consigo-lhes oferecer o mínimo que não tive na idade deles: direito ao lazer, boas roupas, boa alimentação e aulas de inglês. Lhes dou uma mesada quando desejam fazer algo que eles queiram. Daí meus amigos me dizem: que eu protejo demais meus filhos. Pode até ser, sabe?
Ainda guardo dentro de mim as humilhações que eu passava na adolescência quando trabalhava. Andava com roupas remendadas, chegava suado para estudar a noite. As pessoas me olhavam com desdém. Era horrível para mim. As pessoas me olhavam com desdém! Para piorar às vezes eu dava sorte, sabia? Quando chegava depois da meia noite em casa e ainda tinha um feijão frio para forrar o estômago. Seria catastrófico demais para mim, só de pensar em ver meus filhos passando um décimo do que passei.
Não ligo para o que estou oferecendo, sabe? O que mais me dói é a indiferença deles de não perceberem o quanto são privilegiados e por valorizarem o meu esforço, pela vida diferente da que eu eu tive, que ofereço a eles.
(analista) - O reconhecimento que você tanto espera, só poderia vir de alguém quem teve a oportunidade de viver experiências que você, atualmente, afasta de vivê-las. Ter deixado de seguir os conselhos de alguém sobre o que poderia ser uma vida boa, te trouxe a oportunidade de ter construído a sua forma de viver.
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(analisante)
Após alguns segundos de silêncio…
- Acho que estou privando meus filhos pelo direito de se esforçarem afim viverem suas vidas do modo que lhes caibam…
Texto por:
Daniel Martins
Psicanalista Clínico