Um pouco do meu "Relicário"
Relicário foi um romance despretensioso, que teve como embrião um conto chamado “Uma noite, um infinito”, escrito por mim, ainda quando escrever era apenas um passatempo, narrado em terceira pessoa e contava com o nome real da protagonista. O texto do conto foi uma tentativa de recriar uma noite real vivida por mim, mas de forma muito romantizada, o que com o tempo começou a me causar incomodo, eu sentia que naquelas linhas algumas palavras transbordavam sentimentos e sensações e que o clima doce entre os protagonistas amenizava o verdadeiro espírito contido no conto.
Passar o texto para primeira pessoa e assumir a responsabilidade e escrever e sentir na pele o que os protagonistas viviam nas linhas foi o primeiro passo para me aprofundar mais nos personagens, em seus pensamentos, adicionar erros, defeitos e aproximar uma noite amorosa da realidade da vida, da invisibilidade que nos abate nas ruas, da cegueira que temos com as minorias, do ballet bem ensaiado e sem comunicação das pessoas passando diariamente umas pelas outras, dando sempre os mesmo passos, dando passos que já foram os passos de outros.
Assim o formato de conto foi ficando pequeno para o texto, para os novos personagens, novos locais, novas falas, novos acontecimentos, novas sensações. Acredito que assumir o formato de um romance ajudou a obra a conquistar , talvez, o seu maior mérito, o de conter um texto que não se contenta em ser apenas lido, ele precisa ser sentido, quase vivido.
As sensações, sejam boas ou doloridas, ajudam o leitor a sentir e compreender além do que se lê! Começa a ver que por trás de Selene, que de forma involuntária passa a ser a “busca “do protagonista, que começa a ver além do protagonista que também se torna a “procura”, por trás dos textos, passos, picos, sonhos, crises e ilusões, existe uma sociedade, organizada pela desorganização, é humanizada pela falta de humanidade, louca pela falta de loucura e injusta para se dizer justa.
Neste contexto turbulento ainda é capaz de admirar o céu estrelado de uma fria noite de outono, que serviu de pano de fundo para o encontro entre o protagonista e Selene, que deitados, bêbados, em uma calçada qualquer, contaram estrelas e experimentaram o que o amor e o tesão são capazes, transformando aquela noite em uma relíquia que ambos carregam ao longo de toda a história.
O amor tanto procurado na rotina, nas ruas, na sala de estar, na religião, na falta dela, nos remédios tarja-preta, bebidas, bebedeiras, baseados, doces, picos, voyeurismo, sexo, ménages, ou até mesmo naquela planta, crescendo entre os azulejos e o concreto das cidades, é encontrado quando não devia mais existir.
Mas não se engane Relicário não é apenas mais uma história de amor, é sobre a procura do amor em uma sociedade divida e entorpecida pelo ódio.
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