Um “turnarounder” para prefeito?

Um “turnarounder” para prefeito?

Uma velha raposa política dizia que “é nas cidades que a vida passa”. É por isso ele entendia que um prefeito era tão importante; pois é através dele que a boa ou a má política acontece em primeiro lugar.

Estamos em ano de eleições, e a crise da Covid 19 deu novo destaque para temas importantíssimos para a vida dos cidadãos:

·        A economia foi paralisada (ou quase) por muitos meses. O desemprego aumentou e com isso a demanda sobre os serviços públicos: saúde, educação e transporte.

·        A necessidade de isolamento social esbarrou na precariedade de infraestrutura das favelas e bairros pobres.

·        A educação pública - que já era sofrível - não conseguiu manter os seus alunos ativos por falta de computadores e do treinamento de professores para educação à distância. Mas, também, poucos alunos teriam acesso à internet e computadores do outro lado.

·        Clínicas e hospitais escancararam a situação de penúria, má administração e corrupção que era vista ou presumida há muito tempo.

·        O déficit publico do governo federal aumentou – e continuará aumentando – devido uma tempestade perfeita: a queda de arrecadação pela quebra das atividades econômicas + o custo das medidas emergenciais de apoio à população mais vulnerável. Isto é especialmente preocupante quando se sabe que 68% dos 5.570 municípios brasileiros tem no FPM (Fundo de Participação dos Municípios, gerido pelo governo federal) a sua maior fonte de receita!

Portanto – mais do que nunca – a escolha de um bom prefeito vai decidir o futuro de milhares de famílias pelo país afora. E aí surge a famosa pergunta: “como escolher o melhor candidato?”.

Fazendo um paralelo entre as cidades e as empresas eu vejo uma situação de crise aguda, que necessita de medidas urgentes e duras para a sua recuperação. Chamamos a isso de “turnaround”, que é uma especialidade na área de administração na qual tomamos ações rápidas para salvar uma empresa, e assim termos tempo e dinheiro para outras iniciativas que a levem de volta a uma situação estável e até de progresso. Dizemos que isso é uma especialidade porque o executivo/gestor de turnaround deve ter algumas características que o diferem de um executivo/gestor em situações normais:

·        Ele deve ter a capacidade de separar causas e sintomas, de definir prioridades, de delegar e cobrar execução sem aceitar desculpas.

·        Ele terá que tomar algumas medidas duras e impopulares.

·        Ele não poderá esperar que as pessoas se acostumem. As ações precisam ser rápidas para ter efeito desejado.

·        O estilo de liderança deve pender para o autocrático, porque infelizmente é o que produz resultados mais rápidos. Imagine num incêndio alguém propor uma votação para discutir as instruções do bombeiro!

·        Ele não será querido, e ninguém vai querer que ele fique depois que a tempestade passar. No máximo vão dizer que ele foi “um mal necessário”.

·        Ele será um estadista, mas não um político. A diferença é que o primeiro tem uma visão de longo prazo, de deixar um legado para a sociedade ou para a empresa; enquanto o segundo está preocupado com a sua carreira e o próximo cargo.

·        E quando lhe perguntarem se ele não se importa com as pessoas ele responderá: “é por estar preocupado com o futuro delas que teremos que ser tão duros no presente”.

Pela lista acima pode-se ficar muito pessimista. Mas não é este o meu objetivo.

Uma das definições de política é que está é “a arte de negociar o possível”. Portanto, talvez não exista o candidato perfeito e com todas as características desejadas. Mas partindo-se delas poderemos ter uma boa base para avaliar quem mais se aproxima e quem mais se afasta.

Boa eleição para você!

 

 

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