Uma coisa é certa: Interdependência
por Ricardo Guimarães
A primeira vez que ouvi falar de interdependência achei que era um jeito metido de falar de dependência. Eu era jovem e a única variação que eu conhecia de dependência era o seu oposto, a independência.
Minha cabeça era bem maniqueísta, dualista, e eu tinha certeza de que os opostos só podiam se excluir: ou uma coisa ou outra, to be or not to be, preto ou branco. Era uma visão muito simplista que reduzia toda a beleza da complexidade do "e" num pobre "ou ou".
Com esse jeito de olhar a vida eu perdia o melhor que ela me oferecia. A educação católica e a cultura ocidental não me revelaram as cores, as nuances, as mil e uma possibilidades que só fui descobrir com a cultura oriental, em particular, com o taoísmo. Aprendi que as coisas podiam be e not to be ser e não ser, ao mesmo tempo, no mesmo lugar.
Complementaridade
Aprendi que o que existia eram os opostos complementares - o yin e o yang - o quente e o frio, o doce e o amargo, o duro e o mole, o masculino e o feminino que, interagindo em torno do "e", criavam a harmonia e o conflito, o caos e a ordem, o padrão e a surpresa. O terceiro nascido de dois que, sem ser nem um nem outro, continha os dois. Descobri que o oposto não era inimigo, que a diversidade era a energia que mantinha viva a relação, que a paz era possível e que a guerra era fruto do "ou".
Eu já devia ter uns vinte e poucos anos de idade e me lembro que me senti uma criança que só tinha um balanço num silencioso e pacato parquinho de bairro e, de repente, se percebeu num grande parque de diversões cheio de luzes, cores e sons. Foi uma excitação incontrolável. Eu ria sozinho. Senti um tesão pela vida como nunca imaginei existir. Acho que essa descoberta é o que me mantém até hoje excitado e curioso com as generosas possibilidades que os opostos complementares podem nos proporcionar.
Recomendados pelo LinkedIn
Fato
Só depois de entender a vida como produto dessa complementaridade é que fui entender a interdependência e me libertar da ignorância maniqueísta do "ou dependência ou independência".
Por que interdependência é isso: uma sábia mistura de dependências e independências entre tudo e entre todos que vivemos neste mesmo planeta, nesta mesma humanidade. Para mim, a interdependência é a certeza de que somos uma rede viva de relações que nos sustenta e nos alimenta. É a promessa de acolhimento tanto das minhas vitórias e alegrias como das minhas dificuldades e sofrimentos.
Se todos agíssemos reconhecendo a interdependência como realidade não teríamos os desequilíbrios sociais e ambientais que nos fazem temer a vida. Seríamos mais científicos e menos iludidos e ignorantes. Cuidaríamos dos outros como cuidamos de nós mesmos porque, de verdade, todos nós somos um.
Hoje eu sei que interdependência é fato, não é crença nem opinião. Mas sei também que para ver essa realidade é necessário gostar dela e achar que um mundo interdependente e integrado é melhor que um mundo de fragmentos lutando cada um por sua independência.
Importante a gente gostar e aprender a usufruir da interdependência antes que ela se imponha com a força das crises de gestão e das catástrofes ambientais, muito maiores do que estas que já estamos experimentando.
Nesse caso, não temos alternativas, nem "ou ou" nem "e", e isso é ótimo.