UMA LINHA COM A JUVENTUDE
Caiu das páginas de um livro antigo que peguei para reler, uma foto de quando eu era jovem. Fiquei olhando meu rosto e meu corpo, eram bonitos e atraentes. Por alguns instantes, não conseguia desviar o olhar daquela foto. Meus olhos brilhantes, sorriso alegre, cabelos sem tinta. Bateu uma saudade, saudade das músicas que falavam de amor e eu tinha certeza que eram para mim. Saudade das tardes de chuva e das andorinhas fazendo revoada. Saudade dos exageros da paixão desenfreada, dos choros convulsivos e do sofrimento que achava ser o maior do mundo. Saudade dos beijos daquele moreno no parque de diversão, e das gargalhadas nos encontros na igreja. Saudade da espera da música no alto falante “Alguém apaixonado oferece essa música para alguém que ele ama”! Pensei, o poeta tinha razão, “tempos que não voltam mais”. A juventude é esplendorosa, espetacular, inebriante... mas efêmera. Hoje meu rosto marcado. De que? Do tempo. Meus cabelos pintados, pra que? Para nada. E na emoção dessas lembranças, mantenho uma linha com a juventude, faço uma volta ao passado e mais do que saudade, sinto vontade de rir. Tudo deu certo, tive filhos, netos, escrevi livros e plantei árvores, muitas árvores. Acho que vou parar de pintar meus cabelos.
Lira Vargas.