Uma nova ferramenta da OCDE para orientar educadores e estudantes a navegarem por um mundo complexo.
O presente texto é uma tradução livre e adaptada da nova proposta da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico: The OECD Learning Compass 2030. A apresentação foi escrita pelo Prof. Andreas Schleicher, Diretor de Educação e Habilidades da OCDE. O framework é resultado de uma ampla pesquisa sobre o que as crianças e adolescentes devem aprender para lidarem com o mundo de hoje, com destaque para os valores éticos e atitudes.
A educação hoje é mais do que simplesmente ensinar algo aos alunos. É também ajudá-los a desenvolver as ferramentas necessárias para navegar em um mundo cada vez mais complexo, volátil e incerto.
O novo quadro da OCDE Learning Compass 2030 tenta apontar o caminho a seguir. Desenvolvido como parte do projeto Future of Education and Skills 2030, o Learning Compass apresenta uma visão compartilhada sobre o que os alunos devem aprender para estarem prontos para o amanhã e uma linguagem compartilhada para discuti-los.
Vivemos em um mundo onde as coisas que são fáceis de ensinar e testar também se tornam fáceis de digitalizar e automatizar. O futuro é sobre como emparelhar a inteligência artificial dos computadores com as habilidades e valores cognitivos, sociais e emocionais dos seres humanos. Será nossa imaginação, nossa consciência e nosso senso de responsabilidade que nos permitirá aproveitar a tecnologia para moldar nosso mundo para melhor.
Os algoritmos de mídia social hoje nos classificam em grupos de indivíduos com ideias semelhantes. Criam bolhas virtuais que muitas vezes amplificam nossas visões e nos isolam de perspectivas divergentes; eles homogenizam opiniões e polarizam nossas sociedades. As escolas de amanhã devem, portanto, ajudar os alunos a pensar por si mesmos e a se unir aos outros, com empatia, no trabalho e na cidadania. Elas precisarão ajudar os alunos a desenvolver um forte senso de certo e errado, uma sensibilidade às opiniões dos outros e uma compreensão dos limites da ação individual e coletiva. No trabalho, em casa e na comunidade, as pessoas precisarão de uma compreensão profunda de como os outros vivem em diferentes culturas e tradições e de como as pessoas pensam, seja como cientistas ou artistas. E como as máquinas continuam a assumir tarefas no trabalho,
A crescente complexidade da vida moderna - para indivíduos, comunidades e sociedades - significa que as soluções para os nossos problemas também serão complexas. Em um mundo estruturalmente desequilibrado, precisamos ser hábeis em lidar com tensões e dilemas para conciliar diversas perspectivas e interesses - em contextos locais, mas geralmente com implicações globais. Encontrar um equilíbrio entre demandas conflitantes - equidade e liberdade, autonomia e comunidade, inovação e continuidade, eficiência e processo democrático - raramente levará a uma solução única, ou mesmo a uma escolha binária. No mundo de hoje, nossa capacidade de navegar pela ambiguidade tornou-se fundamental.
A solução criativa de problemas exige que consideremos as conseqüências de nossas ações, com um senso de maturidade moral e intelectual. Isso nos permite refletir sobre nossas ações à luz de experiências e objetivos pessoais ou sociais. A percepção e avaliação do que é certo ou errado em uma situação específica é sobre ética. Envolve questões relacionadas a normas, valores, significados e limites: O que devo fazer? Eu estava certo em fazer isso, à luz das consequências? Onde estão os limites?
Isso nos leva ao desafio mais difícil da educação moderna: incorporar valores éticos. Os valores sempre foram fundamentais para a educação, mas é hora de ir além das aspirações implícitas a objetivos e práticas explícitos da educação. Isso ajudará as comunidades a mudar de valores situacionais - sob os quais as ações de um indivíduo são guiadas pelas circunstâncias - para valores sustentáveis que geram confiança, laços sociais e esperança. Se a educação não conseguir construir alicerces para as comunidades, muitas pessoas tentarão construir muros.
Se quisermos ficar à frente dos desenvolvimentos tecnológicos, temos que identificar e refinar as qualidades que são exclusivas de nossa humanidade e que complementam, em vez de competir com as capacidades dos computadores. As escolas precisam desenvolver humanos de primeira classe, não robôs de segunda classe. A educação melhorou nossa compreensão do mundo ao nosso redor e até nos permitiu explorar planetas distantes. Agora, ele deve nos ajudar a entender nossas próprias mentes e experiências - antes que um algoritmo estabeleça nossas mentes para nós.
O Learning Compass nos mostra um caminho a seguir, mas uma bússola é apenas uma ferramenta, e o caminho da reforma educacional está repleto de boas idéias que foram mal implementadas. É importante pensarmos em como podemos construir ambientes de aprendizagem que capacitem os alunos; e sobre como podemos apoiar os educadores em seus esforços para ajudar todo jovem a realizar seu potencial.
Nada disso é fácil e não será feito da noite para o dia. Mas a boa notícia é que não estamos sozinhos. O poder do Learning Compass está nas pessoas que o co-criaram - as pessoas que, juntas, são o futuro da educação.
Como o Learning Compass revela, o sucesso na educação é sobre identidade, agência e propósito. É sobre curiosidade, compaixão e coragem para colocar nossos recursos cognitivos, sociais e emocionais em ação. Essa também será nossa melhor arma contra as maiores ameaças de nossos tempos: ignorância, ódio e medo.
O texto em inglês está disponível na íntegra.