Uma pitada de egoísmo lhe cai bem
Desde pequeno, aprendemos que é ruim ser egoísta. Temos que emprestar tudo, até mesmo aquele seu brinquedo preferido. “Empresta para o amiguinho”, diz a mãe ao filho de 2 anos. Sem opção, a criança o faz, muito a contragosto – certamente, também com o coração em frangalhos. E assim seguimos por anos, sendo orientados a ceder não só brinquedos, mas tudo o mais que vamos conquistando. Para ser bem sincera, a única coisa cujo empréstimo não é socialmente aceito é o cônjuge. Isso ninguém empresta, e tá tudo certo. Confere, produção?
Que fique bem claro: penso que os pais precisam, obviamente, direcionar os filhos quanto aos valores corretos da sociedade. Ensiná-los. Educá-los. Ser exemplo. Doar também faz parte – separar os brinquedos não mais usados para doá-los a crianças que têm tão pouco (às vezes, até mesmo nada) é um dos momentos mais lindos que se pode criar junto aos filhos. Mas doar é um ato de amor. Emprestar algo que se ama a alguém que não significa nada não faz sentido algum.
O fato é que os brinquedos passam a ser coisa do passado, e nossos bens mais preciosos mudam. No decorrer da vida, descobrimos que as coisas mais preciosas que temos são nosso tempo, nossa energia e nosso amor. Aí eu sei, você pensou: “e a saúde, né?”. Sim, mas penso que grande parte dela depende dos outros tens itens referidos: se você os gerencia bem, é bastante provável que a sua saúde vá bem também.
Beleza. E o que tem isso a ver com o fato de eu ter emprestado meus brinquedos a contragosto? Olha, não sou psicóloga, mas se você se sente constantemente exaurida pelas demandas alheias, há boas chances de você se doar demais. De ceder demais. De emprestar aos outros o que você tem de mais importante: tempo, energia e amor. Ou seja, você mesma.
Eu já fui muito assim, mas aprendi (ainda que “aos solavancos”) que ser um pouco egoísta poderia fazer uma enorme diferença na minha vida. O egoísmo, por definição, é um “exclusivismo que leva uma pessoa a se tomar como referência a tudo; orgulho, presunção”. Ruim, muito ruim. Ninguém gosta dessas pessoas autocentradas, que só falam de si, só pensam em si e sequer prestam atenção aos demais. Mas egoísmo também é “amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem”. E esse significado já é bem mais bacana, desde que dosemos o termo “exagerado”. Afinal, equilíbrio é a base de tudo, e de Exagerado que nos favoreça, apenas a música do Cazuza.
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A questão é que autoamor é o filho saudável do egoísmo. É aquele que se permite não agir apenas para agradar aos outros. É o que ensina que dizer não é libertador. É o que te impulsiona a se livrar das relações tóxicas. E se você é mulher, pode ter certeza que o rótulo do egoísmo é muito mais intenso:
Não quer casar? Egoísta, mulher solteira não presta pra nada. Não quer ter filho? Egoísta, mulheres nasceram para serem mães. Trabalha demais? Egoísta, deveria estar dando mais atenção às crianças. Quer viajar com as amigas? Egoísta, deveria dar mais valor ao marido.
Que atire a primeira pedra a mulher que nunca se deparou com algum tipo de julgamento (ainda que velado) como esses.
Foi culpa dos nossos pais que nos obrigavam a emprestar os brinquedos? Olha, diretamente, não sei, mas eles estavam inseridos nessa cultura em que se agredir para agradar ao outro era preferível a não emprestar o carrinho.
Portanto, naqueles momentos em que o seu coração decidir por você, não se aflija em dizer não, ou se afastar, ou ir lá e fazer por si. Agradar a todos, definitivamente, não é o melhor caminho. Escolha a estrada do autoamor.