Uma revelação: meu trabalho é a parte menos interessante sobre mim

Uma revelação: meu trabalho é a parte menos interessante sobre mim

Uma revelação: meu trabalho é a parte menos interessante sobre mim. É um pequeno grão de arroz comparado a tudo que carrego aqui dentro.

Eu não sou o meu trabalho – falar isso é um tremendo alívio para mim, dentro da maré desconhecida que é existir e se definir sem falar ou citar o que faço para ganhar dinheiro. 

De fato, meu trabalho diz muito sobre quem eu sou, o que eu gosto, o que me interessa… Não me entendam mal, eu não desgosto do que faço, eu amo! Só com o tempo aprendi que posso amar o que meu trabalho representa, que ele pode fazer parte de quem sou, mas não é quem eu sou. 

No último ano tenho feito o exercício de tentar sempre não me definir pela minha profissão. Tento olhar para outros detalhes que estão ali, tímidos, esperando um holofote para ocupar mais pedaços de mim.

Eu gosto de manhãs preguiçosas, café da manhã na cama, amo sair para correr com o sol do fim da tarde ardendo na minha pele, sinto frio em excesso e um imenso prazer em ler romances de caráter duvidoso. 

Eu provavelmente vou rir de qualquer piada que você me contar, mesmo que demore um pouquinho para entender; gosto de fazer minhas unhas enquanto vejo série, de cozinhar enquanto ouço música, e tenho o hábito horrível de dormir durante filmes.

Quando viajo gosto de planejar tudo para não perder nada, mas nunca sigo a programação, e sou do tipo que topa quase qualquer coisa se for com a pessoa certa. 

Tenho uma leve dificuldade de escolher o que quero comer quando vou pedir delivery, então sempre acabo pedindo a mesma coisa. Tenho mais medos do que posso contar, mas costumo ser aberta sobre eles – comigo mesma, ao menos.

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Eu amo escrever. É uma das poucas coisas que faço, na vida, em que realmente consigo me doar 100%. A outra é ler. Também sou faladeira, mas sinto que só escrevendo consigo comunicar meus sentimentos verdadeiramente.  

Não sou boa em estacionar de ré. Bati o carro uma vez no estacionamento quando fazia faculdade, desde então paro sempre de frente, o que exige de mim muitos malabarismos para encaixar o carro.

Eu sou uma amiga presente, que gosta de se doar para as pessoas. O que você precisar de mim, vou te ajudar. Eu gosto de dançar sozinha no meu quarto, mas também amo dançar em uma balada cheia de gente.

Adoro ficar sozinha, mas me sinto muito viva rodeada de pessoas. Já guardei piadas sem graça anotadas no bloco de notas, assim como ideias de coisas para fazer antes de morrer. 

Sou uma pessoa incisiva. Às vezes tenho medo de me posicionar, mas isso não me impede de fazê-lo. Acho que quanto mais diretos e claros formos sobre o que a gente quer e sente, mais fácil é a vida. E eu amo descomplicar tudo. Não vejo graça alguma em coisas difíceis que poderiam ser fáceis.

Já fiz ginástica olímpica, rítmica, jazz e ballet, mas tenho uma péssima coordenação motora. Gosto de coisas recheadas com frango e catupiry, não gosto de enlatados e acho comida em conserva nojenta. 

Jogava handebol na escola e na faculdade, porque sempre gostei de esportes coletivos. Para mim, trabalhar em equipe é muito melhor que trabalhar sozinha. Gosto de compartilhar minhas ideias e de trocar com outras pessoas. Sou do tipo que sempre liga a câmera nas reuniões de trabalho e se arruma até para ficar em casa.

Eu gosto de andar com a janela do carro aberta para sentir o cheiro do mar. Gosto de mergulhar na praia e depois ir para casa. Sou sensível, por mais que tente fingir que sou durona. O que eu sou também, tem dias que são mais fáceis do que outros. 

E, mesmo assim, amo desafios e não sei se a vida teria graça sem eles. Esses dias li uma frase, numa foto que uma amiga tirou, de um anúncio colado na parede de um elevador que era o seguinte: “se sua vida não é feita de altos e baixos você morre.” É brega, eu sei. Mas aí vem outro fato sobre mim: sou brega também. Amo frases de impacto.

Sou muito pé no chão, mas acho legal comentar que eu também tenho os sonhos mais bizarros do mundo. Essa semana sonhei que caía de um viaduto e acabava em coma, e para sair do estado de inconsciência precisava voltar no tempo – para ser exata, dez anos atrás – e convencer todo mundo do meu passado a impedir minha queda do futuro. Também já sonhei com meu namorado antes mesmo da gente ficar junto. Espero que isso não seja um sinal de que toda a coisa do coma possa vir a acontecer. Deus me livre de voltar para o passado, ter 16 anos é horrível! 

E, durante muito tempo, achei que tudo que tinha para oferecer nessa vida era a minha mão de obra. É sério. Depois desse discurso todo acho que preciso falar isso. Cresci na minha adolescência achando que não valia muita coisa como pessoa, e que minha individualidade não era interessante o suficiente. Que para que finalmente eu pudesse valer alguma coisa, precisava me tornar aquilo que profissionalmente sempre sonhei em ser. Ou disseram que eu precisava ser. Vai saber quem veio primeiro: o desejo ou a imposição. 

Será que a gente sonharia de verdade com um emprego se não habitasse um sistema capitalista? Sei que essa pergunta levanta discussões muito mais profundas do que eu sou capaz de destrinchar. Muito menos nesse texto que construí com muito cuidado para justamente não tocar muito no assunto “trabalho”. 

O negócio é o seguinte, minha gente: tá liberado, sim, sonhar com o que quiser. Mas não se limite só ao que “faz”, e não esqueça nunca quem você é. Eu esqueci por um tempão, mais tempo do que eu gostaria. Perdi a chance de conhecer antes a minha melhor versão de todas, que sou eu sendo apenas… eu. 

Eu gosto muito do meu trabalho, eu amo para falar a verdade, mas sinto que poderia fazer 300 outras coisas diferentes dessas e ainda sim continuaria sendo eu. E lá vem mais um fato sobre mim: isso me faz feliz demais.

Agora me conta, você consegue se definir sem falar da sua profissão? Em 2022, me propus esse exercício, e sinto que termino o ano com essa conquista :)

Laura Brand

Comunicação | Editora Wish | Editora Moby Dick

2 a

Suas reflexões são sempre incríveis ♥

Amália Sousa

Marketing, Digital e Growth | Especialista em Branding | Bernoulli Educação

2 a

Giu, você sem dúvidas, não é seu trabalho (que é incrível por falar nisso). Você é energia e alegria! Sou muito feliz em dividir os dias de trabalho com você. E obrigada por essa reflexão! ❤

Obrigada por este artigo, Giu! Essa reflexão é muito importante.

Breno Ribeiro Campos

Analista de dados | Business Intelligence | Economia | Power BI | SQL | DAX

2 a

👏👏

Marina Moregula

UX Writer | Content Designer

2 a

Essa reflexão é tão importante <3

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