Uma rotina com vista para o mundo de possibilidades

Sempre separarei o pessoal do profissional.

Na agência de marketing digital que tive e, agora, no escritório, não paro quieto, levanto, converso e resolvo as coisas ao vivo. Trabalho sempre ativo porque gosto de materializar as entregas e me fazer presente.

Em casa, sozinho, muito afeito à cultura digital, aproveito todos os aplicativos de streaming que tenho e assisto a muitos filmes. No silêncio do lar, sem filhos, esposa ou necessidade de entrar em acordo quanto a horários e esquemas – obedecendo somente às minhas vontades.

De repente, não tive outra escolha se não misturar meus dois lados, meu repouso e a minha agitação, trazendo para casa o computador que uso na Care Plus e tentando me convencer de que, nas semanas que estavam por vir, as estimadas idas ao cinema, à academia e a restaurantes estariam vetadas.

Logo vi que seria capaz de fazer tudo o que precisava pelo celular. Ficaria deitado no sofá, migrando de um app a outro para resolver minhas pendências, de alimentação a reuniões de trabalho. Não precisaria tirar o pijama e os meus momentos de relaxamento chegariam mais rápido, sem o trajeto de ida e volta ao escritório.

A essa visualização dos dias que estavam por vir, seguiu-se imediatamente um desespero. Não queria, jamais, viver daquela forma.

Colaborador de uma operadora de saúde, estava desde o início bem servido de informações confiáveis sobre a Covid-19. Já sabia quais cuidados tomar e como fugir das fake news relacionadas à doença. Naquele momento, o cotidiano da quarentena parecia muito mais problemático que a quarentena em si.

Com vista para fora

Manter a rotina foi a solução que encontrei para não me abater. Em vez da realidade que havia imaginado para o período de trabalho remoto, tudo deveria ficar o mais igual possível – mesmos horários, mesma concentração, mesma agilidade e, na medida do razoável, até as mesmas roupas.

Logo na primeira semana, comprei uma cadeira de escritório e montei uma estação de trabalho na sacada do meu apartamento – minha casa estava adaptada somente ao ócio, não à labuta. E, afinal, se “banhasse” o sofá e a mesa de jantar dos debates de trabalho, como iria depois usufruir desses espaços com a mesma tranquilidade, como se nada tivesse se passado ali?

Criei um ambiente, um canto novo que, ainda por cima, me permite apreciar a vista durante o expediente.

De manhã, me arrumo como se fosse para o escritório – afinal de contas, eu vou para o escritório: meu escritório está aqui na varanda! Começo a trabalhar no horário de sempre, faço minhas reuniões on-line (para as quais já estou bem apresentável) e paro para almoçar. Peço uma comida saudável, me alimento bem, descarto a embalagem, lavo o prato que usei e estou pronto para o segundo turno.

De quebra, a familiaridade que tenho com ferramentas online tem me permitido ajudar outros colaboradores, pessoas de outras áreas com as quais – agora virtualmente – compartilho projetos e que não se sentiam tão à vontade no ambiente online até que a pandemia viesse mudar nossos costumes.

A hora que desligava o computador e saia de Alphaville é a hora que desligo o computador e saio da varanda. Às vezes, caminho pelo bairro para respirar um pouco e ver a vida “lá fora”.

A rotina tem se mostrado fundamental para a manutenção da minha saúde mental.

Tempo para olhar para dentro

Conto também com o contato humano com colegas de trabalho, com a família e os amigos (mesmo por meio da tela, ele me conforta) e com a terapia que comecei a fazer pelo programa Mental Health, da Care Plus.

O acompanhamento psicológico é daqueles projetos que protelamos por anos, sem tempo de olharmos com carinho para eles. Agora consegui, e está me fazendo muito bem. E o tempo me proporcionou também mais clareza para pensar nos meus propósitos e entender o que quero daqui para frente.

São mudanças internas, quase imperceptíveis para quem vê de fora, mas que agora fazem parte de mim, tal qual o escritório na varanda faz parte da minha vida profissional. E da configuração aqui de casa.