Uma vida inteira
“Hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou...”. Quanto mais nos abrimos ao aprendizado, mais expandimos nossa capacidade de absorção e compreensão da realidade. Uma nova ideia, diz-se, não nos deixa do mesmo tamanho. Entretanto, essa situação exige ser confrontada quando nos reconhecemos acumuladores. Quem é que não gosta de nalguma esfera da vida acumular? Acumular coisas, experiências, amores, saberes, dinheiro, trabalhos... Sim, nem todos gostam de admitir a carência cumulativa dominante. Mas a prática está aí. Não pretendo julgar, senão somente fazer uma leitura.
Se hoje é um novo dia, então, não deveria ser visto como “mais um dia”. A vida não deveria ser encarada como acumulação de dias e de anos. Talvez aí resida o princípio da angústia de quem por vezes deixa de viver agora, neste momento, para se questionar sobre o que e o porquê não viver mais ou tais quantidades de anos. Há quem não consiga aceitar a morte de uma criança ou de um jovem... É como se ao nascer cada pessoa tivesse o ‘direito’ de viver pelo menos muitos anos. Entendo que fiquemos abalados emocionalmente, que a ‘perda’ de uma pessoa querida não é comparável à de um dente ou mesmo a de um emprego.
O salmista (Moisés?) pede a Deus ensinar-lhe a contar os seus dias (Sl 89,12). O que seria esse ‘contar os seus dias”? Não é arrastar o tempo. Não é acumular dias. Não é encher o tempo de atividades, trabalhos, viagens etc. Não é exteriorização de ações. Parece-me mais uma capacidade de viver por dentro, interiorizar cada ‘vão momento’, estar ‘todo inteiro em cada parte’, deixar-se preencher pelo evento presente. Embora soe clichê, ontem passou, amanhã não chegou, hoje é presente a ser vivido. E qual parte do tempo temos para viver senão o agora? Voltando ao salmista, contar os dias para dar ao coração sabedoria. Dar sabor ao saber. Dar vida à vida. Doutra forma, dar gosto à vida, ter sentido no que vive. Do conhecimento da fragilidade humana provém a sabedoria, que é temor de Deus (cf. Pr 1,7; 9,10; 15,33; Jó 28,8; Eclo 1,14).
Não são necessariamente mais felizes as pessoas que comemoram mais aniversários, mas as que estão em sintonia com a sua própria história, em contato com o seu interior, aberto a Deus (ou ao transcendente), em vivas relações com outras pessoas. Uma vida inteira pode ser resumida em bem poucos anos, mas jamais em pouca consciência e ação do que se vive e faz.
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Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!
Padre Sandro Rogério dos Santos