Unicórnios - (des)respeito a remuneração do capital e (des)importância a governança

Unicórnios - (des)respeito a remuneração do capital e (des)importância a governança

Tenho me contestado até quando empresas que operam em margens negativas, que geram caixa insatisfatório, ou que tampouco o geram, vão continuar tendo valuations e séries de investimentos exacerbados. Não diminuindo a importância dos Venture Capitalists (VCs), e o impacto positivo da disrupção que causam em alguns modelos de negócios, desafiando o status quo de como a dinâmica acontecia em um determinado campo até então mas, para mim, nunca fez sentido um "Unicórnio", na mais leviana generalização que este termo traz. Entendo que, provavelmente, serei deveras raso nessa análise e provocação, profundidade limitada por este meio de comunicação, mas irei compartilhar alguns pensamentos mesmo assim.

Se há algo que aprendi nestes últimos mais de dez anos de carreira, tendo uma jovem passagem no mundo do empreendedorismo e, depois de muito cair, ralar e aprender, ter trilhado meu caminho junto a multinacionais e passado por alguns bons M&As, foi:

1. "Bootstrap yourself"! Primeiro gera-se caixa, mantém-se em pé por si, e depois pensa-se em escalar o negócio, se, e somente se, fizer sentido escalar. Business Cases que só se sustentam através de injeção de capital intensa tendem a ser fracos por definição, e o líder talvez não seja criativo o suficiente, ou trabalhador o suficiente, para achar outras alternativas.

2. "One-Size-Doesn't-fit-all"! Cresça rápido e venda rápido funciona em alguns modelos, não em todos. Sócios, CEOs & Co-Founders que tem como única estratégia a saída do próprio negócio, tendem a não acreditar no negócio em si, e essa urgência tende a sempre os fazer utilizar a mesma abordagem: Crescer de maneira exacerbada, a princípio insustentável e sem tanto planejamento, chamar atenção para, então... Ou vai ou racha. Normalmente é este último.

3. Negócios são feitos por quem está na arena, e nada como a experiência. Aqui não é um ode a "respeite os mais velhos". Nos negócios, assim como na vida, cronologia não é sinônimo de experiência e, por consequência, conhecimento, sabedoria e traquejo. Tem motoristas que pegam o carro aos finais de semana e tem outros que viajam todo o santo dia 200 Km. Estes tendem a ter mais experiência do que aqueles. Logo, estamos falando de quilometragem, e não de idade. Shackleton e seus 27 tripulantes do Endurance não sobreviveram aos dois anos de invernagem na Antártida por que tinham um MacBook Air, trabalhavam de bermuda ou iam ao trabalho de patinete. Sobreviveram sim, por atitude e por disciplina, essas criadas por experiência prévia nos mares.

4. O Capital do acionista tem paciência limitada, e se ele não for remunerado no tempo esperado, este simplesmente escoa para onde ele é respeitado, honrado o que, obviamente, isso significa: pago conforme expectativa.

Trago estes pontos para reflexão pois recentemente tive uma conversa incrível com dois grandes amigos (um deles outrora meu sócio) sobre quão de fato os atuais bancos nascentes e fintechs representam risco para os grandes players no mercado brasileiro, que navegam nestes mares há dezenas de anos. E discutimos um pouco sobre alguns cases recentes como a Yellow/Grin, "companhias-Rappi" (que se vê para todo o lado e não rentabilizam), e também o fiasco do IPO-WeWork.

Especificamente sobre este último, recentemente li um artigo sensacional da Forbes, escrito pelo professor de Finance da Universidade de Michigan Ross, Amiyatosh Purnandams, referente aos aprendizados e reflexões que ficam para os investidores quanto ao não-IPO do WeWork.

Em suma, via de regra os sócios e VCs estão buscando somente a sua diluição e uma estratégia de saída após a Oferta Pública Inicial enquanto, os Bancos de Investimento, a sua comissão de 5-10%. O problema é que quando se tem foco em ganhos de tão curto prazo, alguns pontos importantes passam desapercebidos, além dos já mencionados ali em cima que, humildemente, são a percepção deste que vos escreve: i. Subestimação do papel do acionista e dos seus interesses numa investida, que é poder de influência e rentabilidade do seu capital; e ii. Falta de foco em governança e processos internos robustos que os permitam sair da terceira ou segunda divisão para jogarem na liga-AAA.

No caso do WeWork, o que o professor chama de "Bright Side", é justamente a mensagem educativa que este deixou, uma mensagem de disciplina e atenção aos mercados quanto, e que a paciência de quem investe tem sim limite. O mercado não mais é conivente com isso. Será? Aguardemos novos movimentos do Soft Bank...


"Don't mistake possibilities for probabilities. Anything is possible. It's the probabilities that matter".

- Ray Dalio



Ps.: Para ler o artigo citado na íntegra, por favor acesse este link.

Nicholas Meira

Tax Manager na Philip Morris Brasil / Presidente Comunidade Power Tax Brasil

4 a

Belo artigo, André!! Parabéns pela análise!!

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