Urgência Aeroportuária

Urgência Aeroportuária

Desde 2008, altura em que o governo em funções decidiu pela construção do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) em Alcochete, decisão que era à data quase consensual, que o assunto da solução aeroportuária para a área metropolitana de Lisboa anda arredado do interesse jornalístico. Desde essa altura, o tráfego de passageiros no aeroporto da capital mais do que duplicou. Só em 2017 o número de passageiros aumentou 18.8%.

Com a emergência financeira que o governo seguinte teve de gerir, o projeto foi compreensivelmente suspenso, tanto mais que a Portela ainda se encontrava longe da saturação. Entretanto, o mesmo governo, decidiu concessionar a ANA ao grupo VINCI conseguindo um encaixe financeiro imediato e a alienação no longo prazo de uma empresa altamente lucrativa, bem como externalizando decisões estratégicas da República. No final da legislatura começou a falar-se na solução Portela+Montijo que, não obstante se traduzir num investimento inferior a Alcochete, em nada defende o interesse nacional, além de ter um tempo de amortização muito limitado devido a constrangimentos endógenos a uma solução de curto-prazo. Solução esta que o atual governo, surpreendentemente, abraçou. 

E porque é que é uma solução Montijo é um erro? Essencialmente porque é uma solução que não permite uma expansão condizente com as necessidades, além de que há limitações no comprimento da pista (só solucionada com uma extensão sobre o rio Tejo) e no porte dos aviões que pode receber (devido à qualidade dos solos). Acresce que a EasyJet já manifestou o desinteresse na solução Montijo e que a Ryanair afirmou não tencionar deixar a Portela, reservando o Montijo para expandir a sua operação. A TAP, por sua vez, não tem qualquer interesse em dividir a sua operação por dois aeroportos. Conclui-se portanto que a solução Montijo, mesmo no curto-médio prazo é, no mínimo, altamente questionável.

Importa garantir que, ao contrário dos planos já apresentados pela ANA, seja feito o mínimo investimento possível no Montijo e começar já a planear uma solução de longo prazo em Alcochete, com construção faseada que possa dar uma resposta adequada à necessidade de conectividade de Portugal ao mundo, que é altamente dependente do contributo do hub da TAP que tem crescido muito nestes últimos anos, mas cujo crescimento futuro está altamente comprometido.

A Portela começa já a rejeitar novas rotas e companhias por falta de slots. Não podemos continuar a ignorar uma questão crítica para o nosso desenvolvimento económico no médio-longo prazo. Precisamos de planear o futuro, se possível, aqui sim, com um verdadeiro pacto de regime. E não nos desculpemos com o facto da decisão ser da concessionária. O Estado pode e deve garantir por todos os meios que a melhor solução no médio-longo prazo seja concretizada.

Precisamos de reacender este debate antes que seja tarde e comecemos a fazer o investimento errado. Não podemos continuar a atrasar investimentos necessários nem a desperdiçar dinheiro em investimentos errados.

Lopo Lencastre de Almeida

Agilist | ICP-ACC | SM | PO | KMP | Remote Work Evangelist

5 a

As contas, grosso modo.

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Lopo Lencastre de Almeida

Agilist | ICP-ACC | SM | PO | KMP | Remote Work Evangelist

5 a

"Portela+Montijo que, não obstante se traduzir num investimento inferior a Alcochete" O que não é em absoluto verdade se tomarmos em linha de conta todos os custos envolvidos.

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