Vai um cuscuz com ketchup?
No texto passado eu dividi contigo algumas de minhas principais memórias dos quatro anos em que trabalhei na Insight Propaganda, em Aracaju.
Agora estamos em 2010. Estou casado há um ano e meu primeiro filho, Guilherme, acabara de nascer. Como se não tivesse novidade suficiente acontecendo, surge um convite para ir trabalhar para a indústria alimentícia Maratá. A remuneração era boa, três vezes maior em relação ao que recebia na Insight.
Acho importante ressaltar que hoje eu penso que o convite feito pela Maratá aconteceria quase que inevitavelmente. A gente sempre resolvia os principais pepinos relacionados à comunicação publicitária, à criação de embalagens e materiais para merchandising no ponto de venda. Quando falo "a gente" refiro-me a mim e ao amigo e designer gráfico mineiro, Thales Rosa, os quais trabalhávamos quase que exclusivamente com a conta da Maratá. Thales foi convidado primeiro e um ou dois meses depois foi a minha vez.
Estava rolando o seguinte: Frank Vieira, diretor-executivo da Maratá e filho do fundador, José Augusto Vieira, resolveu montar uma força tarefa para criar novas linhas de produtos. O novo escritório ficava no edifício empresarial Jardins, situado no bairro homônimo e nós estávamos entre os primeiros a chegar lá.
No início tivemos várias reuniões de briefing com Frank para entendermos quais eram suas expectativas em relação às novas famílias de produtos, montamos um expositor com produtos dos segmentos concorrentes, orçamos computadores com alto poder de processamento, monitores de vídeo e impressoras profissionais, rack com os servidores, paquímetros digitais e conta fios.
Enquanto os computadores estavam a caminho, fizemos muitos esboços no papel para o design do frasco de Ketchup Maratá. Aliás, estávamos lá para desenvolver as seguintes linhas de produtos: molhos de tomate, maionese, mostarda, ketchup, farinha láctea, mingaus e cuscuz. Éramos um pequeno estúdio de design misturado com escritório administrativo. Trabalhávamos com outras pessoas das áreas de compras, engenharia de alimentos, secretariado, financeiro etc.
A medida em que os designs das primeiras embalagens iam sendo aprovados, começamos a receber visitas dos representantes de grandes indústrias de cartonados e filmes plásticos. Foi um momento de muito aprendizado e trocas de informações com o pessoal de São Paulo.
Você que gosta de comer o cuscuz da Maratá, já reparou que tem a foto de uma mão passando manteiga no cuscuz ao fundo da embalagem? Então essa mão é minha. Na falta de um modelo, eu sempre me voluntariava pra quebrar um galho. As belas imagens de espigas de milho da frente da embalagem, a foto do cuscuz no prato e a foto do fundo foram feitas pelo saudoso Pedro Leite. Ele e sua esposa prepararam o cuscuz e nós o fotografamos num estúdio improvisado no fundo de sua casa. Tivemos também o auxílio do amigo designer, Glauber Jatobá, na iluminação e direção das fotos.
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Já no caso dos molhos de tomate, foram realizadas várias noites de sessões fotográficas na casa do chefe gastronômico, Jorginho Leite. As fotos ficaram a cargo do Oliver Dantas que acabou montando um mini estúdio num espaço anexo à cozinha do chefe. Todas as noites comíamos os saborosos pratos que estampam ainda hoje as embalagens de molhos prontos da Maratá.
As embalagens foram ficando prontas e já começavam a chegar as provas impressas enviadas pelo fornecedor das embalagens. Daí em diante, começamos a pensar nos materiais de ponto de venda (display, wobbler, ponta de gôndola, dispenser, testeira etc) e em anúncios publicitários. Como nós dois éramos designers, o Thales teve a iniciativa de convidar um publicitário que também já havia trabalhado na Insight e que estava na Trilha Propaganda, o Fausto Panza. A partir da chegada dele, nós podíamos ir mais longe em termos de possibilidades criativas.
Foi aí que o Frank teve a ideia de montar, a partir dessa equipe recém formada, uma agência publicitária para atender as demandas do Grupo Maratá, de empresas parceiras e de negócios de amigos da família Vieira. Nascia a Bend Propaganda com Frank como sócio majoritário e os três mosqueteiros entrando com o capital criativo. Numa noite após o expediente, nós três decidimos escolher o nome da agência. O nome bend surgiu de uma lista e é um verbo em inglês que significa dobrar, curvar, flexionar. Eu coloquei esse nome na lista porque lembrei de um modificador que usava bastante no 3DS Max, porém o Thales reconheceu a palavra a partir do contexto musical, já que ele toca lap steel onde o string bending é uma técnica de distorção da nota musical.
A Bend 1.0 durou poucos meses e começou atendendo a Construtora Jotanunes e os organizadores do Pré-Caju 2011. Logo, Frank precisou se dedicar à construção de novas unidades fabris e nos deu as opções de ir trabalhar com ele na sede da Maratá, em Itaporanga d'Ajuda ou continuar com a Bend (comprando dele o que foi investido no negócio), porém o mosquito do empreendedorismo já havia nos picado. Decidimos continuar com a Bend 2.0 e para isso, nos mudamos para uma sala menor no mesmo edifício empresarial, contratamos mais algumas pessoas e saímos a prospectar novos clientes.
Com a Bend eu aprendi o que é tocar um negócio do zero e lutar todos os dias para mantê-lo em pé e saudável. Aprendi a comunicar-me com as pessoas de uma forma mais assertiva. Entre os três sócios, eu acabei tendo mais intimidade com a administração da parte financeira, porém não estava feliz nessa função e resolvi vender a minha parte da sociedade em meados de 2012. Thales saiu anos depois e Fausto toca o negócio até hoje.
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1 aNossa que incrível ler tudo isso e perceber que esses produtos da marata sempre fizeram parte da minha vida. Legal demais ver o processo deles nascendo! Parabéns 🤍