A vaidade e a velhice.

A vaidade e a velhice.

Autora: Priscila de Fátima Jerônimo

Sobre os pequenos manuais de felicidades vendidos à preço justo e adequado, neste pequeno caminho em que doses de doçura são vendidos em potes de gente, não aceito esses pequenos detalhes que a vida impõe.

Amadurecer traz um novo paradigma: a velhice.

Não doí ter rugas e ou a pele envelhecida, não. Doí não ter mais as ilusões da juventude e ou a pureza de um olhar infantil, a maturidade chega com o coice de um burro e lá se vão os sorrisos inocentes e os olhares encantadores, chega-se a uma sensação estranha: a amargura.

Nem que a risada seja a mais pueril e o pulo o mais inocente, de repente de dentro de você, surge uma velha risada com aquele sarcasmo típico dos idosos: você está velha.

Escancaradamente as risadas dos jovens já se anunciam no pulo sem noção, nas cervejas, nas inocentes piadas que riem enquanto passamos: lá vai a velha.

Eu aceitei tranquilamente ser chamada de : Senhora.

Pensei milhões de vezes que envelhecer seria doloroso, que teria crises de meia idade, que seria um martírio, que as rugas, o "crec-crec" dos ossos seriam motivo de tristeza e bah, que nada.

Amo envelhecer e me olhar no espelho e não sentir saudades do que fui, da tola, da romântica, da inocente, da pueril, da imbecil, da maluca, reticências à parte ainda continuo: louca.

Esse delicioso adjetivo: a velha quarentona louca, melhor definição para minhas indagações, fazer quarenta e dois anos me deu uma noção do quão divertido é ser: velha.

Nem tudo no caminho do corpo humano é divertido, o coração já palpita meio cambaleante, as pernas dão um sinal claro de que algo está confuso, já tranço mais minhas canelas, meus dentes são amarelados, me esqueço facilmente do que estou fazendo, sinto faltas absurdas e medos inexistentes, a velhice me trouxe mais coragem, estranho não ?

A estranheza não reside na aceitação e sim na minha tentativa de explicar o processo cronológico que a vaidade vai trilhando, depois de tantos anos buscando ser bela, tendo a necessidade de andar arrumada, maquiada, pronta para seduzir e encantar, fui paulatinamente perdendo esse trejeito feminino. Um processo natural do envelhecer seria a tentativa inútil de anular o tempo, gastando dinheiro com processos de beleza, de retardar o inevitável e inexorável poder da putrefação.

Estado de células que vão morrendo e se apagando dentro do meu corpo, uma pele que recobre um esqueleto que se esmera em barganhar com a epiderme tentando não pinçar a coluna que reclama sem parar do peso da idade.

A naturalidade da beleza é ao meu modo peculiar de ver um deleite, um doce delírio de quem ama ser como se é, gosto de me ver na plenitude da vida, olho para meus olhos e sorrio, olho para minhas rugas e rio delas, penso no meu sexo e barganho com ele, em uma terrível batalha entre ser mulher, ser humano ou simplesmente ser vivo.

Existem poucas situações nesta encarnação que me trazem prazer, uma delas é escrever, esse terrível hábito adquirido em minha juventude me faz ter essa "persona", é gostoso dizer-me: escritora.

O senso comum me dirá, uma escritora fadada ao insucesso, de cá de minha loucura de vaidosa ao extremo grito: Para inferno com a opinião do outro(a).

Escrever, dizer, contar, pensar, atos que me fazem feliz e quiçá a velha louca que reside em mim nunca me abandone, pois dela residem os mais deliciosos pensamentos.

Amo envelhecer.

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