A valorização dos seniores (50+)
Olá, meus caríssimos.
Tem um pouco de tempo que eu não escrevo, então resolvi fazê-lo após completar meus 60 anos.
Faço isso, transcorridos mais de 30 dias deste importante acontecimento de minha vida. É uma grande estrada já percorrida, e a grande dúvida – para qualquer pessoa: Quanto falta percorrer. Acho que o importante desta idade é avaliar toda a trajetória e quanto ainda temos (afinal são milhões de pessoas na mesma situação) a contribuir.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira acima de 50 anos era de aproximadamente 59,2 milhões de pessoas em 2020. Esse número representa cerca de 28,1% da população total do país. Além disso, a expectativa é de que essa parcela da população continue crescendo nas próximas décadas, em função do envelhecimento populacional. Estima-se que, em 2060, o número de pessoas acima de 50 anos no Brasil seja de cerca de 95 milhões, o que representará quase metade da população do país.
Então, me vejo obrigatoriamente inclinado a falar – de forma contundente e frequente – sobre o etarismo. Primeiro uma breve definição de etarismo e, alguns, impactos:
O etarismo é a discriminação baseada na idade, que se refere ao preconceito ou discriminação contra um indivíduo ou grupo devido à sua idade. É um problema social importante que afeta pessoas de todas as idades e é frequentemente negligenciado na sociedade moderna. O etarismo pode assumir várias formas, desde a discriminação contra idosos no local de trabalho até a falta de acessibilidade para pessoas mais velhas em prédios e transportes públicos. As pessoas mais velhas muitas vezes são vistas como menos capazes ou menos valiosas do que as mais jovens, o que pode levar à exclusão social e a um impacto negativo na saúde e bem-estar.
O termo foi usado pela primeira vez pelo gerontologista Robert N. Butler para descrever a discriminação contra adultos mais velhos. No entanto, o conceito evoluiu para ser frequentemente aplicado a qualquer tipo de discriminação com base na idade, quer envolva preconceito contra crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Manifestações de preconceito com base na faixa etária são relatadas em diversas situações do cotidiano. No mundo corporativo, por exemplo, o etarismo pode levar a disparidades salariais, restrições a evolução de carreira ou a uma maior dificuldade de encontrar emprego. Os maiores impactados são os Boomers e os primeiros Xers.
Um exemplo comum de etarismo é a crença de que os idosos são menos produtivos e menos capazes de aprender do que as pessoas mais jovens. Isso pode levar a uma diminuição das oportunidades de trabalho e a uma redução na remuneração, o que pode ter um impacto significativo no bem-estar financeiro e emocional dos idosos.
Outro exemplo de etarismo é a falta de acessibilidade para pessoas mais velhas em prédios e transportes públicos. Escadas íngremes, portas estreitas e falta de corrimãos podem dificultar a locomoção para pessoas mais velhas, tornando-as menos independentes e menos capazes de realizar atividades diárias.
O etarismo também pode ser visto no contexto da saúde. Os idosos são frequentemente considerados menos valiosos do que as pessoas mais jovens, o que pode levar a uma subestimação das suas necessidades médicas e um atendimento inadequado. Além disso, o estereótipo de que os idosos são todos frágeis e doentes pode levar à falta de incentivo para a atividade física e um estilo de vida saudável, o que pode aumentar o risco de doenças crônicas e diminuir a qualidade de vida.
Para combater o etarismo, é necessário promover uma mudança na mentalidade social em relação à idade. Isso pode envolver a conscientização e a educação sobre as habilidades e a importância dos idosos na sociedade, além de garantir que os prédios e transportes públicos sejam acessíveis a todas as idades. Também é importante garantir que as pessoas mais velhas recebam atendimento médico adequado e incentivo para um estilo de vida saudável.
Em resumo, o etarismo é um problema social importante que afeta pessoas de todas as idades. Para promover uma sociedade justa e igualitária, é necessário conscientizar sobre as habilidades e a importância dos idosos na sociedade e trabalhar para garantir que todas as pessoas, independentemente da idade, tenham igualdade de oportunidades e acesso aos recursos necessários para uma vida saudável e satisfatória.
Ok. Acredito que tenha ficado entendido quanto a questão de definição de etarismo. E é fato que a pandemia trouxe um cenário – que olhando pura e simplesmente – pode (ou poderia) ser entendido como etarismo. Alguns colegas mais radicais, vão direto a este ponto. Eu, por minha vez, prefiro analisar os fatos que o mercado (com algumas boas exceções) nos proporciona. Ao longo e após a pandemia, milhares de cargos ocupados por profissionais experientes e com ampla formação acadêmica passaram a ser ocupados por profissionais mais jovens – e consequentemente menos custosos. Sob a ótica de dados divulgados pelo Novo Caged do Ministério do Trabalho e Previdência, a realidade das empresas no Brasil hoje é contratar pessoas mais jovens, com pouca experiência e menor qualificação – em resumo, recursos mais baratos (não tenho como afirmar se melhores ou não, mas o foco é na redução de despesas de pessoal.
Mas pensem bem .... Partindo da premissa básica que o planeta está envelhecendo – e o envelhecimento da população mundial avança a passos largos. Como será o mercado de trabalho / mundo corporativo daqui uma ou duas décadas? Lancei esta “proposição” apenas para pura reflexão – afinal, temos dados contundentes a serem analisados e “digeridos”.
De acordo com as estimativas mais recentes das Nações Unidas, a população global com 50 anos ou mais, que era de cerca de 1,2 bilhão em 2020, o que representa aproximadamente 16% da população mundial total, aumentará “ferozmente” ao longo dos próximos anos. A expectativa é de que esse número continue a crescer à medida que a população mundial envelhece, com projeções indicando que a população com 50 anos ou mais chegará a quase 1,5 bilhão em 2030, e a 2,1 bilhões em 2050, o que virá a representar cerca de um quarto da população mundial total – 25%. Ou seja, em duas décadas, a população sênior aumentará 9 pontos percentuais.
Importante: Estes percentuais só não são maiores por conta do continente africano. Deixem-me explicar:
Como veremos, logo abaixo, nas pirâmides etárias os números da juventude no planeta são “alimentados” – fortemente – pelos países do continente africano. Enquanto a população sênior cresce a níveis altíssimos na Europa.
Bem, vamos mostrar apresentar algumas pirâmides etárias.
Obs.: A pirâmide etária é uma ferramenta importante para entender as tendências demográficas e a dinâmica populacional de um país ou região.
Acima, apresentamos as pirâmides etárias mundial, do Brasil, dos EUA, da Rússia, do Japão, da China, da Espanha e da Nigéria. Deixei por último o grande país africano, para termos uma noção exata do que está acontecendo com o planeta. Salvo a Africa (e alguns outros poucos países do globo), todo o planeta envelhece e tem suas populações envelhecendo – e reduzindo. Se fizermos uma equação em que a taxa de natalidade cai e e expectativa de vida cresce, chegaremos neste ponto. Provavelmente, e quase certo, que o berço da juventude do planeta, nas próximas décadas residirá na África.
De acordo com as estimativas mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2020, a população africana com 50 anos ou mais era de aproximadamente 200 milhões de pessoas, o que representava cerca de 7% da população total do continente. Enquanto, com base em dados da Eurostat, em 2020, a população europeia com 50 anos ou mais era de aproximadamente 282 milhões de pessoas, o que representava cerca de 54% da população total da Europa.
Coloquei esta quantidade (razoável) de informações, para formar um quadro mental para cada leitor deste artigo. Mas a discussão do artigo não é bem essa. E sim a pouca valorização dos profissionais seniores (50+/60+) por este nosso planeta afora.
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Seja por demandas de diversidade, para lidar melhor com momentos de crise, ou por observar números positivos, temos observado que algumas empresas têm valorizado a presença de profissionais com mais de 50 anos em seus quadros. Segundo reportagem do Estadão, ao recrutar pessoas nesta faixa etária, companhias estão focando em habilidades que consideram estratégicas para o negócio. “Funcionários mais seniores têm poder de persuasão, passam mais confiança e desenvolvem uma comunicação mais assertiva com os clientes devido à bagagem de vida”, afirma o presidente da CotaFácil, Ismael Dias. Outras competências citadas pelas empresas são comprometimento, inteligência emocional e experiência. Mas... Sempre tem um (ou muitos) mas. Estes casos em nosso querido Brasil, ainda são escassos. Há um outro lado da moeda, que nos entristece muito. Uma pesquisa da EY e da MATURIJOBS mostra que em 80% das empresas brasileiras existe um viés contrário aos profissionais mais experientes. Ou seja, a grande força de empregabilidade exclui o time dos seniores (ou 50+) de suas “intenções”. ISTO É UM FATO (perdoem-me a caixa alta, mas é um ponto muito importante). A situação precisa mudar.
É preciso que a responsabilidade, comprometimento e inteligência emocional dos 50+ passam a ser moeda valiosa para o mundo corporativo. Tem também o fenômeno da economia prateada, que é a ascensão dos consumidores 60+. Os mais velhos nunca trabalharam, consumiram ou viajaram tanto. E as empresas atentas a essa “revolução” caem nas graças de um mercado de US$ 15 trilhões. E, desta forma, vai valer a lógica do "one of us": ou seja, alguém vai ter de saber falar com este consumidor mais velho.
Mas há um ponto extremamente importante que deve – obrigatoriamente – entrar na pauta de todas as empresas (eu iria mais além – todos os governos). Temos que partir do fato que a evolução da pirâmide etária – que observamos anteriormente – vai chegar nos anos de 2060 com cerca de 40% da população se transformando em 50+. Não basta – pura e simplesmente “combater” o etarismo corporativo com parcas palavras. É necessária uma política forte de inclusão e ... aceitação. Pense no seguinte: O jovem Y de hoje, será o 50+ daqui a duas décadas. As políticas (públicas e corporativas) devem ser direcionadas a buscar o entendimento e a integração geracional. Um time só de 20 ou de 30 anos não funciona, assim como um só de 50 também não. É prioritário que se promova essa transformação nas nossas empresas, nas nossas universidades, nas nossas escolas. O mix de ideias, característico de times multigeracionais, é e será extremamente positivo e desencadeará uma relação de sucesso – seja para a empresa, seja para a comunidade e, claro, para o indivíduo.
Gostou? E para fechar ... Palavras fortes e contundentes para reflexão.
“Todas as coisas estão envelhecendo. O mundo está envelhecendo. Nós mesmos estamos envelhecendo. Mais alguns invernos, mais alguns verões, mais algumas enfermidades, mais algumas aflições, mais alguns casamentos, mais alguns falecimentos, e... o que acontecerá? A grama crescerá sobre os nossos túmulos!” John Charles Ryle.
Muito grato pelos que se dispuseram a esta leitura e até a próxima oportunidade.
José Cortizo
Fontes:
Comercial / Compras / Gestão de Categorias
1 aPerfeito!! Estarei na estatística dos 50+ até 2030. Isso é muito claro desde sempre. No mundo corporativo mesmo que nos atualizemos, o mais jovem sempre será o mais visado. Lembrando que por muitas pesquisas já vistas, muitos jovens estão optando por sistemas híbridos ou total homme office. Será que estão preparados para o 100% presencial ao qual já estamos habituados e que na pandemia nos fez muita falta? O preconceito continua como no seu post muito bem esclarecido nos diz que precisam abrir o campo de visão e tenham inteligência para este novo ciclo do envelhecimento...Vamos aguardar.... Abraços como sempre seus textos são maravilhosos!!!
Comprador Sênior | Gerente Comercial | Gestor de Categoria | Prezunic | GPA | Hortifruti Natural da Terra | MBA Administração UFF | Gestão de Negócios Ibmec | Profissional do Varejo
1 aCortizo conheço sua grande experiência no varejo, mas parabéns por também ser um ótimo escritor. Tocou num tema, que ainda é um grande tabu, principalmente no mundo corporativo. Todos fingem que não existe, mas claro que existe, e todos vão passar por isso um dia, afinal todos envelhecem. Infelizmente qualquer tipo de preconceito, inclusive o etarismo, não tem cura; uma pena.
Comprador Perecíveis FLV / Atacado e Varejo
1 aLeitura gratificante amigo.