VANTAGENS E EFEITOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NÁUTICO ANCORADO EM MARINAS
Os últimos trinta anos foi o período onde o desenvolvimento mais significativo do turismo náutico se expandiu no Brasil, principalmente no desenvolvimento estruturas chamadas de marinas e também de garagens náuticas que atendem um público cada vez mais exigente usuário de barcos oriundos da indústria de embarcações para lazer e pesca. Além disto, houve nestes últimos 20 anos uma maior profusão de cruzeiros marítimos na costa brasileira que abriram o mercado para um segmento quase inexistente desde a proibição da navegação de cabotagem e da extinção da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro.
Mas são os barcos como lanchas e iates que mais agitam as atividades náuticas de lazer privadas e que consomem grande quantidade de produtos. É no lazer e turismo náutico que se abrem as portas para uma indústria que, até o final da década de 90, andava a passos muito lentos. Hoje somos grande produtores de embarcações de lazer já despontando a nível internacional. Vários são os projetos de novas estruturas náuticas como marinas e expansão dos clubes náuticos ou iate clubes e de garagens náuticas na costa do país.
O Brasil apresenta 7.480 km de extensão de costa navegável, abrangendo aproximadamente 17 Estados com condições e clima favorável para a prática do esporte, turismo e lazer, além de envolver quase 400 municípios onde vivem 50 milhões de habitantes. Além deste extenso litoral, dispomos ainda de uma infinidade de rios e lagos navegáveis pelo interior do país. A frota nacional de embarcações de esporte e lazer está estimada em cerca de 70.000 unidades, levando em consideração apenas embarcações acima de 14 pés, que são movidas à vela e a motor, pequenos barcos de apoio, monotipos e barcos de competição offshore. Aproximadamente 85% da frota nacional de barcos para esporte e lazer é composta por embarcações de até 32 pés.
O setor da indústria náutica, além da atividade do turismo, utiliza mão-de-obra especializada em marcenaria, mecânica, elétrica, laminação e acabamento em fibra de vidro, tapeçaria, pintura, hidráulica, e instaladores de equipamentos sofisticados de navegação. Calcula-se que o segmento emprega quase 10 postos de trabalho para cada embarcação produzida. A indústria concentra-se 70% no Sudeste, 20% no Sul e 10% no Nordeste que produz cerca de 4.000 embarcações/ano com 23 pés de tamanho médio. Mas há muito o que evoluir no setor ainda. Estima-se que há uma demanda anual reprimida de 10.000 barcos/ano entre 14 e 32 pés.
Na outra ponta, há uma escassez de estruturas náuticas disponíveis com um bom nível de serviço e qualidade que as marinas oferecem nos diversos países do mundo.
Diferenciar estas estruturas é o primeiro passo de um desenvolvimento e qualificação do turismo náutico. Marinas não são clubes, não tem associados, marinas são estruturas de hospedagem onde a vaga é comprada, alugada, arrendada e ainda oferece serviços e diárias para vagas a embarcações de passagem, assim como o mercado imobiliário e de hospedagem. Marinas são estabelecimentos prestadores de serviços que oferecem um universo de oportunidades para quem ali se hospedar. As marinas são condomínios de espaços para embarcações que custam cifras estratosféricas de centenas de milhões de dólares e necessitam serem bem guardadas e cuidadas.
É muito mais comum existir embarcações de 100 milhões de dólares do que apartamentos com este valor. Portanto, é um mercado onde circula muito dinheiro e alto poder de consumo. Por outro lado, existe a pesca esportiva que atende um público cativo, que tem como hobbie esta atividade. No EUA a pesca esportiva corresponde a mais da metade do número de vagas em marinas e é um importante segmento da industria e do turismo náutico que contribui com bilhões de dólares anuais em consumo e movimentação.
Então, o turismo náutico é uma das formas mais propulsivas e estáveis do segmento econômico do turismo. Durante as crises econômicas que o Brasil passou nestes 30 anos, o turismo náutico sobreviveu, embora em escala ainda reduzida se comparado a outros países de tradição náutica que disponham de tamanha costa (Austrália, Nova Zelândia por exemplo), comparativamente a outras formas de atividades turísticas que, por razões óbvias, sofreram um aumento ou diminuição de expansão a medida que as crises surgiam. Muitas atividades e lugares se depreciaram nestes períodos ao mesmo tempo em que a atividade náutica de lazer veio paulatinamente ampliando o perfil de qualificação.
Mas mesmo com as crises, o número de pessoas consideradas como turistas náuticos cresce constantemente de um ano para o outro, bem como o número de embarcações comercializadas cujas portas de destino são as marinas, garagens náuticas e iates clubes.
Ao utilizar as suas vantagens comparativas, o turismo náutico pode atrair clientes exigentes e iniciar uma série de atividades empresariais e investimentos nacionais e/ou estrangeiros que exercem forte influência no mercado imobiliário e na prestação de serviços especializados. O desenvolvimento do turismo náutico contribuiu para o desenvolvimento do turismo do Brasil, mas não existe qualquer política de incentivo estruturada para o setor. Mesmo com os efeitos positivos do turismo náutico, tão evidentes, a falta de bons projetos e políticas locais ou nacional mantém o nível das atividades empresariais no setor ainda muito singelas.
Mas é através do turismo náutico que o país pode, de fato, desenvolver-se como um destino qualificado visto que dispomos de muitas qualidades relacionadas as belezas naturais inquestionáveis. Para determinados municípios e comunidades insulares, o desenvolvimento do turismo náutico significa não só a possibilidade de qualificação, mas uma certeza de desenvolvimento econômico e social garantido. O turismo náutico gera toda uma série de efeitos positivos que não seriam possíveis sem ele em muitas das comunidades do litoral do Brasil.
Os efeitos do turismo náutico sobre determinadas atividades que formam a economia são especialmente importantes. Estou me referindo a efeitos de forma muito abrangente que muitas vezes são imperceptíveis. A atividade do turismo náutico tem efeito direto ou indiretamente quando falamos em marinas, que envolvem as atividades e a utilização de serviços e mão de obra especializada para finalidades como:
· charters de barco;
· manutenção de embarcações;
· construção e reparação de embarcações;
· comércio de varejo;
· hotelaria;
· gastronomia e catering náutico;
· transporte, em especial transporte aéreo;
· venda de embarcações e peças;
· serviços especializados de marinheiros;
· manutenção das instalações da marina;
· e toda uma série de outras atividades correlacionadas.
Os efeitos mais importantes do desenvolvimento do turismo náutico ocorreram em certas cidades cuja atividade balneária contém o uso de embarcações para atividades de lazer ou pesca esportiva ou ainda, onde se tenha atrativos naturais de extrema beleza como as ilhas. Considerando o fato de que as ilhas são fisicamente isoladas, devido à sua posição geográfica, e socialmente isoladas e tratadas como comunidades isoladas, isto gera efeitos de forte atração ao turismo náutico, mas também a região da costa oferece atrativos voltados a pesca ou ao mergulho que exercem igual atração.
Em geral, as pequenas comunidades onde o turismo é sazonal, a atividade náutica se desenvolve de forma mais permanente, misturada a pesca artesanal, podendo agregar qualificações especiais, cujos efeitos são logo apropriados como:
• os habitantes locais foram capazes de fazer lucro extra (marinheiros, vendas de peixe, catering, outros serviços turísticos);
• os portos e baías locais tornaram-se locais de arrecadação na locação de atracação de berços ou em ancoradouros regulados;
• os habitantes locais conseguem obter lucros extras com a venda de insumos, etc.
• em termos mais amplos, pode-se dizer que o turismo náutico levou à diminuição da imigração porque havia mais oportunidades de encontrar um emprego e fazer lucro, e não em outro lugar;
• as maiores oportunidades de encontrar um emprego tem influência no aumento do padrão das cidades costeiras e insulares, aumento do bem-estar geral das famílias e na criação de possibilidades de desenvolvimento;
• revitalização, qualificação e valorização de várias áreas que antes se encontravam subutilizadas ou que muito dependentes das atividades do turismo balneário sazonal e;
• redução da sazonalidade visto que a atividade do turismo náutico se expande para além do limites do tempo da balneabilidade sazonal.
É necessário planejamento para evitar os problemas de desenvolvimento não sistemáticos do turismo náutico na costa. Junto com a série de inquestionáveis e óbvias evidências de vantagens econômicas e benefícios resultantes do desenvolvimento no turismo náutico, é necessário estar atento as questões que geram certas desvantagens.
Uma influência negativa a curto prazo se reflete no caso de multidões excessivas, barcos demasiado grandes em amarrações não regulamentadas, a atitude não regulada e variável das autoridades locais que não cobram por serviços em atracadouros e pequenas garagens e amarrações.
Os efeitos negativos a longo prazo do desenvolvimento não sistemático da atividade náutica de lazer levam ameaças ao interesse dos usuários do turismo náutico e dos investidores neste segmento. Outros fatores ainda concorrem como a diminuição gradual de usuários qualificados quando expostos a multidões excessivas, qualidade inadequada da oferta preços exagerados, a má regulamentação, etc. Como resultado, o nível de atratividade da cidade e da costa diminuirá.
Alguns dos mais importantes efeitos negativos diretos e indiretos são:
• Desclassificação ou degradação da qualidade do ambiente é uma das possíveis desvantagens se a atividade não for bem regulamentada;
• O desenvolvimento (excessivo) do turismo náutico com a construção de marinas ou garagens náuticas em locais inadequados que contribuem para poluição da água do mar;
• Aumento do número de ancoradouros e garagens náuticas que tornam a atividade desqualificada, desorganizada e de baixo padrão de serviços;
• a disposição de bóias ou atracadouros de forma não organizada contribui para uma banalização da atividade;
• Cidades costeiras que atraem centenas de milhares de pessoas que não contribuem para a garantia da qualidade do ambiente e do meio ambiente;
• No auge da temporada muitas cidades de destinos turísticos admitem embarcações ancoradas e amarradas, o que leva a uma diminuição significativa da segurança de navegação;
• A poluição marítima e costeira em águas locais devido ao aumento de embarcações sem tanques fecais apropriados (resíduos, esgoto e águas).
• Baixo nível de gerenciamento da atividade náutica;
• A ocupação de bens marítimos sem regulamentação e fiscalização para colocação de atracadouros e bóias;
• Construção descontrolada na costa e na zona costeira (atracadouros e garagens náuticas)
Os problemas acima mencionados só podem ser resolvidos com uma regulamentação bem definida para a utilização da zona costeira, das águas interiores e baias de forma que as atracações e o trânsito de embarcações seja controlado para gerar segurança ambiental, às pessoas e aos investimentos realizados em estruturas planejadas.
O turismo náutico, como ramo da economia, deve ser desenvolvido dentro de regras e limites aceitáveis e seja desenvolvido em ambientes cujas características são reconhecidas, entendendo o grau máximo que os recursos naturais podem estar expostos e preservados, mantendo-se atraentes. O Ambiente do litoral brasileiro é uma vantagem territorial intangível.
No processo de escolha para a locação dos portos de turismo náutico e portos turísticos, deve-se buscar um desenvolvimento múltiplo e sustentável. Devem ser reconhecidos os atributos (locacionais, econômicos, sociais, culturais e ecológicos), bem como qual é o movimento de outros componentes que compõe a identidade local, que é especialmente importante para áreas estrategicamente sensíveis como, por exemplo, as ilhas ou comunidades isoladas.
Locais quase intocados, não industrializados ou densamente urbanizados do litoral, graças às quais obtém o o atributo de ser um local de atração e destino náutico, devem ser protegidos de acordo com um Plano, a fim de não perturbar os benefícios quantitativos ou qualitativos e que se mantenha o equilíbrio dessas partes. Esse equilíbrio poderá ser interrompido pela forma como serão recebidas as embarcações. Isto significa que o desenvolvimento futuro do turismo náutico deve basear-se nos princípios do desenvolvimento sustentável.
Preservação dos recursos naturais para efeitos de qualidade de serviço em turismo reflete uma condição para a atividade, e somente a qualificação contínua dos planos, projetos e processos representam, a longo prazo, atingir um nível de excelência no turismo náutico. A visão de Desenvolvimento do Turismo Náutico no Brasil implica numa melhor regulamentação do setor, na definição de políticas públicas de incentivo, na organização dos berços em atracadouros, clubes, garagem náuticos e até nas marinas de forma a garantir o número máximo de vagas compatível com a demanda.
São necessárias estrutura como marinas, bem como o constante controle das marinas em conformidade com elevados padrões ecológicos. A abordagem sistemática deste desenvolvimento inclui uma estrutura organizacional diferente para este tipo de atividade do turismo, a ser oferecido para evitar movimentos de negócios que podem destruir o meio ambiente, o principal elemento natural que sustenta este setor.
Organizar o sistema de turismo náutico no Brasil, dever ter como matriz, o desenvolvimento sustentável, novos critérios para o comportamento humano dentro de um ambiente muito sensível. Isso contribuirá para a concepção de projetos bem resolvidos, que ofereçam segurança aos investimentos públicos e privados, na maior atratividade de usuários e investidores. Se estas observações forem levadas em conta, é possível uma projeção do crescimento e desenvolvimento de marinas públicas ou privadas combinadas com estruturas de apoio, sejam de hospedagem permanente ou temporária, locais de comércio qualificado e outros serviços que um navegador necessite após longos períodos no mar. As marinas devem ser as estruturas que sirvam como o principal ancoradouro do desenvolvimento do turismo náutico no Brasil.
Diretor na Dietrich Advocacia Ambiental
7 aParabéns Sérgio. Diagnóstico perfeito.Infelizmente os Municípios e órgãos ambientais estão insensíveis a importância do tema.