Vazio!

Era uma sexta-feira de agosto do ano 2000, meu pai me acordou de madrugada pra irmos até Governador Valadares; ele tinha um compromisso importante a resolver por lá. Naquela época nós ainda morávamos no interior.

A viagem era de 100 km e durava de duas a três horas. Quem nos dera a estrada fosse de terra, era de buraco e lama. Passamos o dia resolvendo os problemas e retornamos de tardezinha. Na viagem de volta ele me deu uma dura notícia: "Dell, nos próximos dias irei para os Estados Unidos; não conte nada pra ninguém." Muito triste, eu obedeci.

A crise financeira daquela época atingiu em cheio a nossa família. Não só a nossa, inúmeras famílias estavam passando por dificuldades. Aquele ano foi o auge da emigração de valadarenses e seus vizinhos para os Estados Unidos. A maioria pagava altos valores para atravessar a fronteira do México, inclusive correndo risco de morte - acontece até hoje, e os riscos só aumentaram. Esse movimento ganhou tanta notoriedade que, cinco anos depois, ele seria retratado pela rede globo em uma telenovela chamada "América."

Apesar de já saber que, mais cedo ou mais tarde, esse também seria o destino do meu pai, eu não estava preparado pra mais uma separação. Minha mãe já tinha ido havia seis meses. Agora ficariam eu, de 17, meu irmão, de 19, e minha irmã, de 13. Mal sabia eu que, muito em breve, só sobraria o de 17.

Aquele fim de semana foi como um outro qualquer. No sábado fomos à igreja pela manhã e à tarde. À noite, e no domingo, me distraí normalmente com meus amigos, em nossos programas do interior. Confesso que até esqueci do que meu pai havia me contado.

Na segunda feira, 28 de agosto, acordei bem cedo. Naquela época eu já levantava de madrugadinha pra fazer minhas corridas. Vesti a roupa, calcei meu par de tênis - meus irmãos ainda dormiam, a casa estava em absoluto silêncio. Quando eu ia saindo, ao passar pela sala, um fato me chamou a atenção. Olhei em direção ao quarto do meu pai, a porta estava entreaberta, senti um frio na barriga, o sangue desapareceu do meu rosto, meu coração acelerou. Lentamente caminhei em direção ao quarto, empurrei a porta, a cama estava arrumada e o quarto estava vazio.

Fiquei em estado de choque, senti um aperto no peito. Permaneci ali, calado, por uns cinco minutos. Voltei até meu quarto, acordei meu irmão: "Ví, o pai foi embora". Acordamos nossa irmã, a caçula; choramos juntos. Naquela época, não tínhamos telefone em casa; celular? é de comer? Ir embora significava ir embora mesmo, sem ter a menor ideia de quando e se haveria um reencontro.

Aquele foi um dia muito duro. A adolescência, por si só, já é uma fase complicada, ainda mais agora, longe das nossas maiores referências.

Nestas horas mais difíceis, duas coisas fazem toda a diferença: a primeira, a fé em Deus, a segunda, os seus princípios, quem você é de verdade, seu SER, e é sobre isto, o SER, que farei a aplicação do artigo de hoje.

Veja a ilustração abaixo, conhecida como a pirâmide do indivíduo:

A base da pirâmide é o SER, quem, de fato, você é. Isto é o que te sustenta, enquanto indivíduo. Para conseguirmos grandes coisas na vida, de forma sustentada, a ordem natural da pirâmide deve ser respeitada. Primeiro é preciso construir o nosso ser, melhorar o nosso eu; ser um filho melhor, um pai melhor, um esposo melhor, uma esposa melhor, um amigo melhor, um leitor melhor; abastecer-se de conteúdos melhores, cercar-se de pessoas melhores.

Em seguida, passamos a FAZER coisas melhores. Tudo que fizermos será melhor, porque, na fase anterior, nós nos melhoramos, ganhamos novas habilidades.

Finalmente, como consequência de sermos pessoas melhores e de termos feito coisas melhores, teremos resultados melhores. O TER é simplesmente o resultado. Somos mais, fazemos mais e .........................teremos mais.

Entretanto, a maioria das pessoas, ansiosa pelo ter, vira a pirâmide de cabeça pra baixo; busca o ter antes do ser e do fazer e, segundo Paulo Vieira, autor do best seller "O poder da ação", quem inverte a pirâmide, invariavelmente chega a um dos três destinos:

1. Consegue o ter, mas se torna uma pessoa infeliz;
2. nunca conquista o ter e vive numa busca desenfreada e fatigante;
3. conquista o ter, vai direto ao topo, mas depois cai brutalmente.

O mundo busca descobrir o tal segredo do sucesso. Está desvendado: SER, FAZER,............TER. Não pule etapas. Respeite a ordem natural.

Se respeitarmos a ordem natural da pirâmide conseguiremos ter tudo aquilo que o nosso ser nos permitiu fazer.

Grande abraço e até a próxima!

(A parte da pirâmide, foi inspirada no livro "O poder da ação", de Paulo Vieira)