Viés inconsciente ou Cognitivo?

Retornando aqui após um tempo sem novos textos e com certeza não por falta de assunto, mas por uma decisão de priorização do tempo versus (vs) atividades.

Isso é parte do nosso dia a dia, que nos leva a fazer escolhas. Isso é o nosso cognitivo atuando.

E é bem sobre isso que falaremos hoje.

Sobre o que está em nosso inconsciente, seja pelo desconhecido ou pelas poucas experiências (a famosa bolha) vs o que está em nossa consciência fazer, mas por opção não aplicamos.

Desejo que essa conversa te leve a pontos interessantes de reflexão:

1. Onde temos oportunidade de agir, saindo do viés cognitivo, para ser intencional?

Há muito tempo eu vi um vídeo onde uma pesquisadora branca convidava pessoas brancas a se levantarem, caso desejassem ser tratadas como pessoas negras são tratadas na sociedade e ninguém se levantou. Ela insiste, pois acredita que as pessoas não entenderam a pergunta e novamente ninguém ficou em pé.

E a conclusão é que as pessoas entendem como as pessoas negras são tratadas e não desejam isso para si, mas também não fazem nada para gerar a mudança (se eu não quero para mim, sei que é ruim, mas porque não me incomodo?).

Esse é um exemplo do viés cognitivo. Eu tenho o conhecimento e decido não agir em prol da transformação.

A mudança nesse caso, seria: ao se deparar com atos de violência, exclusão e discriminação contra pessoas negras, se posicionar contrário à isso. Ao se deparar com pessoas pré julgando pessoas negras pelo o que ela carrega de preconceitos da história, que esse entendimento seja corrigido. Mas como corrigir?

Vamos à um exemplo: se na escola onde meus filhos estudam não existem crianças negras ou há '2%' de representatividade e essa escola é particular, eu posso ser intencional e fazer essa provocação para a gestão da escola.

-Mas Ruth, se as pessoas não estão lá é porque não podem pagar pelo ensino! Sim. Essa pode ser uma das motivações, mas como iremos transformar uma sociedade e gerar mais oportunidades, se não pela educação? O que fez com quem grande parte da população negra não tivesse condições financeiras de pagar pela educação privada (dado que grande parte do ensino público é precário por motivos que ficaríamos horas aqui descrevendo...).

Quantas bolsas de estudos essa escola oferece? Essas bolsas podem ser intencionais e direcionadas para pessoas negras?

Quando há pessoas negras na escola, a equipe pedagógica e de gestão atuam de modo a não permitir que o racismo se instale? Existem ações de integração e diversificação cultural no aprendizado?

Há conteúdos de história e artes que reconheçam a história da população negra para além do período de escravidão?

A inclusão de pessoas negras também se faz quando desmistificamos na cabeça das pessoas brancas, que a violência ocorrida nos anos do período de escravidão foi algo natural, que esse era o destino e única utilidade das pessoas negras, ocultando de onde vieram, sua cultura, seus reinados, invenções, etc. A inclusão ocorre, quando pessoas brancas deixam de conviver com pessoas negras somente na posição de empregadas domésticas, jardineiro e segurança.

A inclusão acontece, quando ampliamos a nossa perspectiva e buscamos profissionais negros para assumir posições em diferentes níveis hierárquicos e diferentes ambientes de decisão.

A #Inclusão se faz, partindo do princípio que todas as pessoas têm direito à oportunidade.

Respondendo ao título: O viés é inconsciente ou cognitivo?

Quando as pessoas brancas desejarem ser tratadas como as pessoas negras são tratadas na sociedade, aí sim teremos um ambiente igualitário e justo.

Enquanto se tem consciência de que não é uma boa opção escolher ser tratado como uma pessoa negra é tratada na sociedade, tem-se a nítida percepção e entendimento do que significa privilégio.

Ter privilégio não é ruim. O que você decide fazer ou não fazer a partir desse lugar sim, pode fazer mal a sociedade.

Você já está usando seu cognitivo sem vieses? Você é uma pessoa branca e deseja ser tratada como uma pessoa negra é tratada na sociedade?

Se a sua resposta for não, olhe em volta e comece a mudança! Há muito a ser feito e isso não é sobre assistencialismo, é sobre equidade e consciência.

Se você já faz a sua a parte, vamos em frente. Ainda há muito a desconstruir!