A vida não é assim tão séria
(* O primeiro de oito posts sobre interculturalidade no trabalho)
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Quando o grego Tassos veio ter aulas comigo, ele já falava um pouco de português. O que ele queria era ser carioca. E assim eram as nossas aulas sábado pela manhã. Sempre me surpreendia como ele colocava na prática todas as coisas que aprendia até que ele começou a me ensinar sobre o Rio.
Ele estava no Brasil trabalhando para o comitê Olímpico Rio 2016 construindo a cidade Olímpica. Sempre trabalhava muito, mas nunca o vi estressado. Ele dizia que as pessoas levavam a vida muito a sério e a vida não era para ser assim. Ser profissional não significa que a vida precisa ser encarada com tanta seriedade. Eu acompanhava os resultados dele no trabalho e o seu progresso com sua meta de ser carioca. Mas mesmo assim, não entendia o que ele queria dizer com “não levar a vida tão a sério”.
Nas vésperas dos jogos olímpicos, alguns eventos testes tinham a cobertura da mídia. Ele estava trabalhando na arena aquática e, durante o evento, faltou luz. A plateia estava lotada e todos os atletas e a equipe estavam lá. Eles podiam contar com qualquer tipo de problema técnico, e de fato já haviam previsto e planejado todas as possíveis falhas, agora, faltar luz, algo tão básico? No dia seguinte imaginei que ele estivesse tenso com isso e ele me surpreendeu com um enorme sorriso.
Ele disse:
“Você sempre tentou me explicar o que é ser carioca e agora mais do que nunca faz sentido para mim. Faltou luz ontem. O que você espera da atitude de um diretor nesse caso? O diretor era brasileiro e, com muito bom humor, ele deixou toda a equipe tranquila para que todos dessem o seu melhor.”
“Se isso ocorresse durante as olimpíadas de Londres toda a plateia iria embora ou no mínimo iria vaiar. O que deixaria a equipe técnica em um grande clima de tensão. A plateia ficou toda calma, esperando a luz voltar e depois aplaudiu. Todos nós nos sentimos vitoriosos.” Toda a equipe técnica estava extremamente apreensiva com problemas que as venues poderiam ter durante os jogos, mas depois desse momento nos sentimos vencedores e entendemos que realmente estávamos prontos para qualquer desafio. E com certeza os jogos seriam um sucesso!!!
Obrigada, Tassos, por me mostrar que ser carioca, também é saber que a vida pode ser muito mais eficiente se não for levada tão a sério.
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Como comentei no início do texto: esse é o primeiro de uma série de oito posts que publicarei nos próximos dias.
Após 7 anos dirigindo a minha escola de português e cultura brasileira tive a oportunidade de ouvir estórias de centenas de pessoas de diversas culturas ao redor do mundo. Percebi que a maioria das dificuldades encontrada pelas pessoas que desejam se estabelecer no Brasil, é a cultura.
Ao mesmo tempo entendi o quanto é tranformador e rico quando diferentes culturas se relacionam e têm a oportunidade de se entenderem.
Vivendo tudo isso eu sempre tive a sensaçao do quanto seria valioso se outras pessoas tivesses essa experiências.
Quando entendemos que vivemos em um planeta e não estamos limitados as fronteiras de nossas culturas, as possibilidades são infinitas, os recursos são abundantes e as soluções para problemas complexos pode ser simples quando visto por diferentes olhos.
Compartilho aqui as minhas experiências espero que possa contribuir para suas relações interculturais.
Marcelle, Brasileira, é fundadora da escola Fala Brasil, que oferece um modelo inovador de ensino embasado nas necessidades individuais do estrangeiro para se estabelecer no Brasil, e faz parte de um movimento crescente a favor de empresas mais sustentáveis e socialmente responsáveis. Ela acredita que um mundo melhor começa com a forma de se fazer negócios e na troca entre diferentes culturas.
Para conhecer um pouco mais sobre o Fala Brasil School e conhecer outras experiências acesse www.falabrasilschool.com