VIOLÊNCIA SEM LIMITES
Violência não tem sexo, não é masculina ou feminina. Faz parte da vida e é também humana. A natureza é linda, mas também é violenta e pode ser cruel. Os animais são agressivos, mas não são, por exemplo, vingativos.
Provoco essa reflexão, porque se fala muito de violência e desenvolvem-se as mais diversas ações para controlá-la, mas normalmente atuam sobre a manifestação e não em suas origens. Campanhas, criminalização e repressão tem se mostrado pouco eficientes, embora sejam necessárias, sendo justo que quem provocou algum dano a outrem seja punido por isso.
A agressividade no humano surge muito cedo como atitude diante da insatisfação daquilo que chamamos de "desejo" e que se desenvolve junto, mas além das necessidades básicas. Ao ser privado daquilo que mantinha o prazer, a agressividade surge numa tentativa de garantir o retorno da satisfação, que nunca mais será a mesma, fazendo que haja um movimento constante para recuperá-la. Essa busca se torna insaciável e com forte componente imaginário, o que faz parecer que a agressividade aí resultante é sem motivo, para aquele que vê de fora, fica difícil entender, sendo aparente sem lógica. Só o imaginário já é o suficiente para fazer surgir a agressividade que pode ser dirigida a alguém que esteja presente nesse imaginário,
Não se trata só de educação no sentido comum. Trata-se da estruturação do ser, da construção dos seus pilares, dos alicerces, sobre o que tudo o mais se apoiará. Uma estrutura mal feita, com falhas, com deficiências graves, em algum momento no futuro farão aparecer as rachaduras e até o desmoronamento de tudo que se construiu por cima. É por isso que é difícil lidar com as pessoas, com seus comportamentos, pois o seu fundamento está escondido, no inconsciente. O que vemos e o que normalmente tentamos tratar e controlar é apenas o que é aparente.
Os limites trabalhados desde a infância são parte do material que contribui para construir os alicerces. Por isso é impraticável continuar sem estabelecer limites. Tal processo pode ser cansativo e angustiante para os pais, pois é gradativo e requer paciência e persistência. Os limites são essenciais, mas não devem ser excessivos, exagerados, extremados. E é isso que poderia contribuir para diminuir os índices de violências praticadas por jovens e adultos.
Não é a exposição na infância a situações de violência a geradora da atitude violenta no adulto, mas a falta do limite ou a atitude inadequada ao tentar estabelecê-lo. O limite precisa ser reconhecido para que funcione adequadamente.