A visão do erro em segurança

A visão do erro em segurança

“40 Anos no ar e por fim serei julgado por 208 segundos”

(Filme: O Herói do Rio Hudson)

 

Logo após decolar do aeroporto de LaGuardia, em Nova York, uma revoada de pássaros atinge as turbinas do avião pilotado por Chesley "Sully". Com o avião seriamente danificado, Sully não vê outra alternativa senão fazer um pouso forçado em pleno Rio Hudson. A iniciativa é bem sucedida, com todos os 150 passageiros a bordo sendo salvos. Tal situação logo transforma Sully em um grande herói nacional, o que não o isenta de enfrentar um rigoroso julgamento interno coordenado pela agência de regulação aérea nos Estados Unidos: “40 Anos no ar e por fim serei julgado por 208 segundos.”

Diariamente passamos por situações inesperadas que exigem de nós uma reação rápida e assertiva, mas qual é o peso disso diante de funções que envolvem vidas?

Para a agência de regulação aérea dos Estados Unidos, Sully havia descumprido um procedimento, ele deveria ter retornado e pousado na pista de saída. Para Sully, que possuía uma experiência em vôo de 40 anos, não conseguiria mais realizar o retorno podendo chocar-se nos altos edifícios e portanto a melhor saída seria pousar no rio.

Sully errou ao descumprir um procedimento?

A questão do erro é a própria identificação de estar ou não errando. Sully teve segundos para decidir por toda sua vida. Quantas vezes já passamos por isso também? Dirigindo no trânsito, por exemplo, uma situação inesperada pode acontecer. Manter ou virar a direção? Decisões em segundos que impactam a nossa vida e a do outro para sempre.

No trabalho, a situação inesperada também acontece, e então, como reagir? Será que escolhemos nos acidentar ou descumprir um procedimento?

O que sabemos é que ninguém escolhe errar, ou acidentar. Então porque a cultura do erro ou do descumprimento de procedimento é tão presente no nosso dia a dia?

Errar faz parte da natureza humana e como aprendemos a andar é um ótimo exemplo. Tentando e caindo por algumas vezes. As primeiras falas foram certas? Não, balbuciamos as primeiras palavras e dentro de um processo de evolução fomos construindo o nosso repertório de vida. A nossa trajetória pessoal foi e é construída com erros e acertos, e foram estes que nos fizeram crescer, amadurecer e sermos pessoas melhores, nos colocando em constante construção e transformação.

Mesmo sendo para o aprendizado e crescimento, como relacionar então a possibilidade do erro com a nossa vida profissional, na qual estamos expostos a riscos elevados que possivelmente não nos darão uma segunda oportunidade?

Será que por construirmos uma cultura que não tolera o erro, ele então deixa de ocorrer? Ou pelo contrário, o erro continua acontecendo, mas por existir a orientação de intolerância ao erro as pessoas o escondem, omitindo informações, pois afinal, ninguém quer errar.

É exatamente por isso que precisamos falar sobre o erro, sobre o fato de sermos seres humanos, falhos e passíveis a errar, reconhecendo nossas vulnerabilidades e fragilidades. Quando construímos um ambiente aberto à fala, no qual as pessoas podem se expor com liberdade sem o medo de possíveis repressões, é possível então identificar as falhas e erros iniciais, desta forma tratando-os antes mesmo deles se tornarem maior, até porque um acidente ocorre pela soma de diversos fatores.

Sully passou por diversas pressões externas e internas antes desta decisão. Ele poderia ter ouvido a torre de vôo e retornado, mesmo não estando confiante, pois era o procedimento certo a seguir. Mas será que esta decisão salvaria vidas? Questionar e revalidar os nossos procedimentos diariamente é necessário, afinal todos os dias podemos aprender formas mais seguras e produtivas em fazer. O procedimento não pode ser um documento histórico, mas precisa ser vivo e estar em constante transformação, sendo construído em conjunto com as pessoas que o operam de verdade.

Como podemos então construir ambientes mais abertos à fala, sem julgamentos, medos e, consequentemente, mais seguros?

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Insight Fatores Humanos

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos