Visão Inovadora e o Caranguejo

Visão Inovadora e o Caranguejo

Por Marcus Ronsoni - Presidente da Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Comportamental (SBDC) e Doutorando em Psicologia Social

“A antiga visão continua senhora deste mundo. De onde vem esta cegueira? De onde vem este desejo perpétuo de fazer o novo com o antigo?” (Basarab Nicolescu)

Quantos lados tem um caranguejo?

Em minhas palestras e treinamentos sempre uso essa pergunta para definir a visão inovadora. Depois de ouvir as algumas respostas e de fazer um certo suspense, entrego o jogo revelando que o caranguejo tem nove lados. Você deve estar pensando, “como assim nove lados?”.  Então vejamos: O de cima e o de baixo, do da frente e o de trás, o direito e o esquerdo, o de dentro e o de fora. Aqui já foram 8 lados. E qual é o nono lado? É o lado de quem olha, ou seja, é sempre um lado diferente.

A visão inovadora, é a capacidade de olhar a situação sob os diversos ângulos, buscando uma alternativa mais apropriada. É identificar a existência de outros pontos de vista de uma mesma situação. Assim como alguns dos nove lados do caranguejo estavam ocultos para você até que eu os desvendasse neste texto, algumas alternativas, oportunidades, respostas e soluções para seus dilemas, mazelas ou ainda para o seu crescimento e sucesso, podem simplesmente ainda não terem sido descobertas, mas seguramente elas existem e estão lá, escondidas atrás dos seus paradigmas, aguardando serem encontradas.   

Hoisel, (1998) autor de um ensaio ficcional, preceitua o paradigma como um conjunto de "vícios" de pensamento e bloqueios lógico-metafísicos que obrigam os cientistas de uma determinada época a permanecer confinados ao âmbito do que definiram como seu universo de estudo e seu respectivo espectro de conclusões ardentemente admitidas como plausíveis. Em seu livro Anais de um simpósio imaginário, Hoisel destaca ainda que uma outra consequência da adoção irrestrita de um paradigma é o estabelecimento de formas específicas de questionar a natureza, limitando e condicionando previamente as respostas que esta nos fornecerá, um alerta que já nos foi dado pelo físico Hesenberg quando mostrou que, nos experimentos científicos o que vemos não é a natureza em si, mas a natureza submetida ao nosso modo peculiar de interrogá-la.

A visão inovadora então, é a função entre a crença e a habilidade de que é possível ir além do paradigma vigente, desvendando os mistérios que ele oculta, libertando-se dos seus próprios modelos mentais e de pensamento, ou seja, libertando-nos da nossa mente paradigmática. É a função entre essa crença e essa habilidade que proporciona a motivação para a “busca pela alternativa escondida”.

Depois que eu li o livro “Cem Dias Entre o Céu e o Mar” escrito pelo Amir Klink que conta a história da sua travessia do oceano atlântico em um barco a remo, partindo do porto de Lüderitz, na Namíbia, até Salvador-BA, no Brasil, estou convencido que não existe impossível. Impossível para mim é sinônimo de uma dessas três possibilidades: “eu ainda não sei como” , “eu ainda não estou preparado para resolver isso” ou “ainda não temos tecnologia que nos permite fazer isso”. 

Mas não estamos aqui falando de uma obstinação cega ou ainda simplesmente da força do pensamento positivo. Estamos falando da capacidade de enfrentamento dos problemas, da capacidade de identificar os elementos limitadores, além de um certo gosto pela sua superação. É também um olhar diferenciado, um olhar construído a partir de um esforço para identificar os paradigmas e modelos mentais limitadores ou inapropriados e a buscando superá-los ou substituí-los. O depoimento de Amir Klink abaixo, exemplifica bem o que estou dizendo:

“Não estava obstinado de maneira cega pela ideia da travessia, como poderia parecer – estava simplesmente encantado. Trabalhei nela com os pés no chão, e, se em algum momento, por razões de segurança, tivesse que voltar atrás e recomeçar, não teria a menor hesitação. Confiava por completo no meu projeto e não estava disposto a me lançar em cegas aventuras. Mas não poder apenas tentar teria sido muito triste. Não pretendia desafiar o Atlântico – a natureza é infinitamente mais forte que o homem – mas sim conhecer seus segredos, de um lado ao outro. Para isso era preciso conviver com os caprichos do mar e deles saber tirar proveito. E eu sabia como.” - Amir Klink – Cem Dias Entre Céu e Mar

A boa noticia é que Visão Inovadora pode ser desenvolvida com relativa facilidade. Ao contrário do que algumas pessoas preconizam a visão inovadora e a criatividade não são apenas “pensar fora da caixa”. Esse penso deve ter uma sustentação e um objetivo. A sustentação se dá pela visão do todo, pela análise das causas e consequências e levando em consideração as tendências. O objetivo é o ganho que se deseja com o resultado da visão inovadora.

O segundo ponto para desenvolver a visão inovadora é construir um ambiente que incentive, facilite e promova a criatividade e a inovação. De modo geral as pessoas gostam de contribuir com suas ideias e sugestões desde que sintam que existe um espaço para isso, e quando são valorizadas. Um líder tem o poder de ampliar a visão inovadora de sua equipe ou restringi-la. 



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