Você é bom?
Certa vez tive um chefe gringo que fazia perguntas, a princípio, fora de contexto. Ele gostava de provocar reflexões principalmente perante as coisas que pareciam as mais simples possíveis. Quando eu parava para pensar no que ele dizia nas entrelinhas, enxergava então o que ele queria dizer realmente. E aquilo me fazia agir de alguma forma e crescer. Numa tarde movimentada de quarta-feira eu estava na sala dele terminando uma reunião. Havíamos finalizado uma tarefa importante e estávamos, de certa forma, tendo aquela conversa gostosa sobre nossos méritos. Quanto me levantei para ir embora, já me dirigindo à porta, ouvi ele dizer com o sotaque carregado:
- Só mais uma coisa antes de você ir. Você é bom?
Escutar esta pergunta assim a seco, sem contexto ou justificativa, logo após entregar um resultado importante, me soou como um questionamento sem o menor sentido. Eu iria incorporar a minha arrogância juvenil e logo responder um “Mas claro que sim!” quando as palavras engasgaram na minha boca. Achando que pudesse ser um teste, mesmo sabendo que ele não testava ninguém, respondi com aquela falsa modéstia que usamos como fantasia de Carnaval no mundo corporativo: “Acho que sou um bom profissional sim”. Ele retrucou sem pensar:
- Como você sabe? – as segundas perguntas dele sempre eram mais difíceis que as primeiras e eu já deveria ter aprendido isso (um sinal de que talvez não fosse tão bom?). Insisti na conversa:
- Como assim como eu sei? Ué, não acabei de lhe entregar um ótimo resultado? Isso é uma evidência de que sou um bom Profissional.
- Não, isso não é evidência de nada. Eu quero saber como você concluiu que é bom. Você se mede? Como você se mede? Com qual frequência? Quais parâmetros você usa para medir a sua eficiência? Com quem você se compara? Quais são as métricas de qualidade do seu trabalho?
Minha expressão devia ser de muita perplexidade porque entre o último silêncio e a próxima fala dele eu acredito que tenha se passado um ano, mas foram uns quinze segundos. E ele completou:
- Você só pode saber se é bom se você se medir todos os dias, analisar os resultados e entender onde estão as suas deficiências.
Desde aquela conversa nunca mais deixei de me medir. Eu mesmo, comigo. Sozinho. Nenhum chefe me pediu. Ninguém me pressionou. Eu faço porque quero saber onde eu mesmo posso melhorar. Não faço para ter um plano de ação para a empresa. Para o RH. Para quem quer que seja. Me meço por mim. E hoje, após quase quinze anos dessa conversa, eu desenvolvi meu sistema diário de medidas de mim mesmo, rápido e totalmente direcionado para o meu perfil profissional, para onde eu quero chegar. Não recomendo-o a você. Recomendo você criar o seu. Criar a forma como você mesmo irá se medir é a melhor maneira de entender onde você precisa se atentar para crescer profissionalmente. E o aperfeiçoamento será constante, semana a semana. Sem hesitar.
Tudo começou com uma simples pergunta: "E aí? Você é bom?"
Gerente Manufacturing Sciences & Technology
3 aExcelente Marcelo ! Si no se mide no se mejora
Head de Relação com Investidores | Planejamento e Projetos Estratégicos | Desenvolvimento de Novos Negócios | Planejamento Financeiro | Open Mind Brazil Member
3 aMuito bom seu artigo! Obrigado por compartilhar
Líder de Prospecção Estratégica | Unindo Ciência e Inovação | Tornando as tendências futuras tangíveis e impactantes
3 aMuito legal Marcelo!
Formulation Scientist | Ph.D. | Research & Development | Pharma Innovation
3 aÓtima reflexão. Uma pergunta simples e tão complexa ao mesmo tempo.
Supply Chain Sr. Manager
3 aMuito Bom Marcelo!