Você é estilista, ou redatora?

Você é estilista, ou redatora?

Alguns recrutadores (para vagas de criação/estilismo) me perguntam: mas o que você faz, é conteúdo, né? 

Sou, antes de mais nada, uma pessoa que adora escrever. Desde sempre. Sempre tive diários, cadernos de anotações, amava as aulas de português em que meu professor muito visionário, nos dava a "lição de casa" de escrever o que quiséssemos, numa espécie de diário, que ele corrigia e entregava de volta.

Foi natural que com o começo da internet (1997, na minha casa), eu fosse sugada para o mundo dos blogs. Assim foi. Tive inúmeros blogs, pessoais e sobre moda. Mas sempre pesquisei, sempre me embrenhei em livros, revistas, filmes, referências, para expressar o que absorvia e colocar em palavras. Isso bem antes do YouTube existir e entregar tudo de bandeja pra quem quiser aprender qualquer coisa sobre qualquer coisa.

Mas eu sempre desenhei também. Hoje bem menos, porque minhas mãos estão sempre ocupadas com os aparelhos eletrônicos, mandando e-mails, respondendo Whatsapp, falando no inbox, postando nas redes...mas o desenho sempre foi e sempre será, parte da minha vida. Não sou uma ilustradora profissional, longe disso. Não aprimorei técnicas incríveis de mixed medias, mas adoro me expressar assim. Em 1994 me formei no colégio. Minha turma fez um desfile de moda no MAM (sim, bem antes do Fashion Rio existir e também usar o MAM como cenário), e eu desfilei e ainda produzi os looks (fui às lojas, com uma cartinha de pedido de apoio, e consegui diversas roupas emprestadas para o desfile), tinha até DJ, tínhamos passarela, o "casting" era composto de pais e alunos. E em 1994 eu fui "fazer moda", quando não estava na moda ainda aqui no Rio, quando não tinha faculdade alguma para a profissão de estilista, além do Senai Cetiqt, para se ter uma formação superior. Foram dois anos intensos na Escola de Moda Candido Mendes, no charmoso sobrado na Rua Sorocaba, com direito a desfile de formatura no Museu Histórico Nacional. O meu foi inspirado na ópera Aída, de Verdi, eu tenho as peças até hoje, em linho da Leslie (que já encerrou as atividades tem tempo), em cetim dourado e turquesa e veludo vermelho. Mandei plissar o cetim dourado (tinha um excelente em Copacabana). Fiz tudo numa costureira que infelizmente a essa altura, nem deve estar entre nós. Uma senhora em Copacabana, que era excelente, mas muito teimosa, como todas as costureiras de mão cheia são.

Meu sonho de virar estilista foi ficando na gaveta, porque eu me encantei pelo universo dos figurinos. Fui assistente de figurinos durante anos, mais de 20 anos, aprendi muito com o cinema, teatro, tv, o que é vestir sonhos e o que é fazer o impossível virar realidade.

Por isso, quando algum recrutador me pergunta: mas sobre estilismo, você atualmente, não está no momento desenvolvendo nada?

Eu paro e penso: eu estou sempre desenvolvendo. Posso não desenhar como antes, mas é como andar de bicicleta: não esquecemos nunca. Minha cabeça cria o tempo inteiro. Sou criativa desde pequena (fazia desenhos que eram de cabeça pra baixo, não sei o que significa isso até hoje), meus desenhos de bonecas vestidas, eram cheias de setas, apontando para as peças (isso desde os 7 anos). Então, caro recrutador: sim, eu estou sempre desenvolvendo algo, estamos em constante movimento, não? Sou curiosa, busco, pesquiso, leio, ouço música, gosto de troca, sou agitada (as vezes demais). Mas não, você não vai ver um portfólio cheio de fichas técnicas, cheio do óbvio (fiz várias, fui assistente muito tempo, e no máximo eram feitas à lápis, num papel padrão, com alguns retalhos, nada que chamasse muito a atenção a ponto de incluir num portfólio). Eu sou muitas. Eu escrevo, desenho, faço colagens, customizações, fotografo, invento, tenho inclusive, uma marca já toda pesquisada e guardada na gaveta, que a hora que eu achar que está na hora, lanço...

O que fica difícil nos dias atuais é alguém entender que nós não somos "o que estamos fazendo". Nós somos seres ilimitados, cheios de qualidades e competências, desenvolvidas ou a serem desenvolvidas. Eu já fui vitrinista, já tive uma marca de camisetas que eu customizava com uma costureira, já customizei jeans em uma marca famosa, já fui livreira, já trabalhei em loja, já fiz de tudo! Quando nos colocamos à disposição para uma vaga, sabemos que temos potencial para tal. Por isso, não faça perguntas estreitas. Não se prenda à rótulos! Estamos numa nova era, em tudo. Aposte em pessoas que você não apostaria por simples protocolo. Você pode se surpreender.

em tempo: ainda estou atrás da vaga/job que eu quero amar fazer.

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