Você conhece alguém que sofre no trabalho?
Escrevo aqui hoje para vocês sobre a trajetória percorrida até que eu chegasse no conceito de Psicoterapia das Angústias Profissionais.
Meu nome é Patrícia Grilli eu sou psicóloga, psicodramatista, especialista em inovação marketing empreendedorismo, e recentemente especialista em neurociência e comportamento. Nesses quase 15 anos de profissão por alguma coincidência que não sei muito bem de onde vem, as pessoas me procuram com problemas no trabalho.
Mas eu não estou dizendo que elas não tenham competência técnica para realizar suas atividades, muito pelo contrário a maioria dessas pessoas são extremamente inteligentes e competentes. E o principal sofrimento recorre exatamente daí. Quanto mais a vida profissional é importante na vida de uma pessoa, mais central esse papel se torna na identidade dela.
Falando de uma forma simples o papel profissional adquire porcentagem grande naquilo que identifica a pessoa no mundo. É como se o papel profissional fosse para a pessoa o sentido da existência dela. E isso pode acontecer exatamente porque ela se identifica muito com o trabalho que tem e é completamente apaixonada pela atividade que executa.
A gente pode até pensar que não faria sentido reclamar de ter um trabalho que se gosta, mas o problema é que como isso é uma coisa rara para a maioria das pessoas, aquelas poucas pessoas que gostam do que fazem são extremamente sobrecarregadas nos seus ambientes profissionais.
É aquela história se você consegue fazer muito bem um trabalho, acima da média das pessoas, você pode ter certeza que vão sempre cobrar de você acima da média, sempre...e não necessariamente você vai ser remunerado por isso.
As pessoas começam a usar o seu amor pelo trabalho como justificativa para serem abusivas, e partindo do pressuposto que a maioria dos meus clientes são exigentes em relação a própria postura profissional exatamente por não quererem entregar um trabalho mal feito, é natural que se sintam usadas por essas outras pessoas sofram por isso.
Mas esse é só um ponto das dificuldades profissionais encontradas.
Eu poderia categorizar as dificuldades profissionais enfrentadas pelas pessoas e discutidas no consultório em três grandes grupos:
1- Angústias relativas infância encontrada entre cultura pessoal versus cultura da empresa/ mercado;
2- Angústias relativas a divergências envolvendo metodologias, necessidade ou não de processos específicos, ou mesmo angústias relativas a qualidade do que é entregue;
3- Angústias relativas à comunicação e relacionamento no trabalho.
A forma mais fácil de entender o primeiro grupo é imaginar uma pessoa progressista trabalhando numa empresa tradicionalista, ou o contrário. Os valores pessoais da pessoa dificilmente vão encontrar "fit" na cultura da empresa - e isso com certeza vai trazer um sofrimento. Mas também podemos entender esse ponto quando o empreendedor decide que não quer crescer o seu negócio para além de um tamanho que ele acredite que consegue lidar, e as pessoas a sua volta seus amigos empreendedores acham absurdo essa decisão de pausa. Ou então quando uma pessoa que trabalha no concurso público com uma gestão x, que era politicamente alinhada com seus valores, vê a sua liderança mudar da noite para o dia numa eleição.
Ou seja o que eu quero dizer é que as angústias relativas a valores vão aparecer independente do seu contexto profissional, na maioria dos casos você não tem espaço de conversar sobre isso no ambiente de trabalho e não ser taxado como uma pessoa que só reclama, uma pessoa que não participa do time, ou mesmo uma pessoa que não faz parte de uma mentalidade positiva ou qualquer bobagem corporativa desse tipo.
O segundo tipo de angústias poderia ser explicado como a divergência entre o que a pessoa pensa sobre como as coisas deveriam acontecer no ambiente de trabalho, e como de fato elas estão operando na prática. Um exemplo bem objetivo que eu tenho sobre isso são dos meus clientes da área de tecnologia que são treinados em um tipo de linguagem de programação por exemplo, mas entram numa empresa que usa outro tipo de linguagem que eles sabem ser pior - mesmo argumentando com a liderança, caso seja um funcionário, ou negociando com seus contratantes caso seja um PJ, muitas vezes eles não têm a possibilidade de definir qual linguagem será utilizada naquele projeto específico. Lidar com esse tipo de frustração de entregar um trabalho de pior qualidade porque a metodologia, tecnologia ou sistema definido não é o melhor possível gera muita angústia nos meus clientes.
Esse tipo de problema acontece também quando no serviço público você fica meses trabalhando na construção de uma política pública, e simplesmente a próxima liderança veta que o trabalho continue e você sente que você perdeu meses ou anos da sua vida construindo algo que não vai acontecer na prática. Ou mesmo quando você tem um cliente que comprou uma solução sua, mas não aplica no dia a dia da empresa dele por exemplo, e depois vai reclamar que você não fez o seu trabalho corretamente.
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Caminhando para o final dessa reflexão explicando um pouco mais o terceiro grande tópico das angústias, preciso separar as angústias de comportamento e dificuldade de comunicação em alguns blocos diferentes:
* dificuldades de comunicação - ou seja falamos uma coisa a pessoa entende outra e nada acontece, ou às vezes acontecem desentendimentos com consequências afetivas drásticas;
* dificuldades de relacionamento com pessoas específicas - simplesmente isso ocorre quando você não tem uma afinidade com aquela pessoa por qualquer motivo racional ou irracional, mas mesmo assim precisa trabalhar com ela e entregar uma solução;
* dificuldade de compreensão a respeito de qual é o comportamento adequado esperado naquele ambiente profissional - essa dificuldade é especificamente vivida por pacientes neurodivergentes, ou pessoas com deficiência em geral. Isso diz respeito ao volume de voz utilizado, necessidade ou não de ficar sozinho no ambiente de trabalho para evitar excesso de estímulo, identificação com o tipo de roupa que precisa ser utilizado no meio de profissional, identificação com o tipo de linguagem utilizada pelos colegas nos momentos de lazer, dificuldade de socialização e participação e eventos realizados com o intuito de gerar aproximação entre as pessoas, por aí vai a lista é gigante...
O que quero trazer com esse texto Inicial desse newsletter é que as pessoas sofrem umas com as outras. O trabalho nesse caso é apenas o contexto em que esse sofrimento acontece, mas como passamos mais de 40% da nossa vida trabalhando, acredito ser extremamente relevante falarmos sobre esse sofrimento, e mais relevante ainda falar na Perspectiva do indivíduo, dando espaço e voz para que ele possa compartilhar suas angústias, para que ele possa reclamar caso isso seja necessário, para que ele possa fofocar a vontade sobre pessoas que fazem mal a ele, e para que progressivamente ele vá encontrando e construindo um novo repertório de reação a cada dificuldade encontrada.
A Psicoterapia do Papel Profissional, portanto se mostra uma ferramenta essencial para que a pessoa consiga ter um escape emocional na lida com trabalho no seu dia a dia, para que tenha um ambiente seguro, único, sigiloso em que ela consiga se desenvolver longe daqueles que geram seu sofrimento.
A relação humana tem um impacto tão grande para nós seres humanos que pode definir a nossa alegria ou a nossa tristeza, pode definir a nossa força ou a nossa fraqueza, Espero que todos nós possamos falar sobre isso sem julgamento, para que nossos pensamentos valores e ideias possam ser ouvidos e compreendidos, que no fim do dia a gente possa melhorar a nossa qualidade de vida durante a atividade laboral.
Esse foi o primeiro texto de muitos que virão.
Muito obrigada a atenção de todos até aqui, aguardamos você no próximo.
Especialista em negócios via LinkedIn | Especialista em Networking | B2B B2C | Consuloria, Assessoria e Gestão de LinkedIn | Mentoria | Palestrante | Surgente Consultoria | BNI Araguaia
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