Você não precisa ser feliz só amanhã: como o daltonismo me fez enxergar o real significado de estar presente
Como daltônico, eu sempre me questionei sobre como as pessoas com 'visão normal' enxergam o mundo. O que elas veem que eu não vejo?
O mais engraçado, é que quando as pessoas descobrem que tenho daltonismo, também ficam cheias de dúvidas:
Você vê tudo preto e branco? Você sabe qual é a cor do céu? Qual é a cor da minha camiseta?
É importante ressaltar que essa condição nunca me incomodou em nada e não muda muita coisa na minha vida. Eu só não sou a melhor pessoa para escolher as cores de um apartamento, por exemplo. Ah, e se você for meu Amigo Havaianas, provavelmente irá ganhar uma na cor preta.
Porém, li recentemente uma matéria na BuzzFeed que me fez criar novos questionamentos. Era o relato do Rafael Zacca, também daltônico, sobre como foi enxergar as cores pela primeira vez com a ajuda dos óculos corretores da Enchroma. Ele descreve com humor algumas das sensações e percepções novas que obteve com as lentes:
“Foi como nascer de novo pra algumas cores. A primeira coisa que me emocionou foi um flamboyant aqui perto de casa. Vi a árvore como se a visse pegar fogo. É muito intensa. O flamboyant não existia pra mim. Nasceu hoje."
"Cor não dá vontade de chorar. Vontade de chorar dá quando você passa a ver detalhes que não via e os outros sempre viram e interagiram afetivamente a partir dele. Dói ver a beleza de um flamboyant não pela beleza em si, mas porque quando alguém dizia 'que lindo!' você ficava perdido.”
Esse relato me fez refletir muito. Comecei a me fazer perguntas que nunca havia feito antes. O que eu tenho perdido? O que tem passado despercebido por mim? O que é um flamboyant?
Pela primeira vez eu me senti triste por ser daltônico. Me dei conta de que nunca havia admirado um pôr-do-sol. Ou um canteiro de flores. Nunca havia percebido a beleza do mar e nem mesmo notado quando a minha noiva mudou a cor do cabelo.
Não demorou para eu perceber que o daltonismo não é o único culpado disso. Essa é, na verdade, uma característica muito comum da nossa geração, onde estamos sempre com pressa. Talvez de conseguir o emprego dos sonhos, conquistar um diploma ou até construir uma família.
Mas geralmente quando alguém está com pressa, é porque está atrasado. E para o que estamos atrasados? O relógio que usamos como parâmetro é nosso ou é comparado com o de outras pessoas?
Em proporções diferentes, todos nós deixamos escapar alguns detalhes do nosso dia. Seja uma árvore no trajeto de casa ou até mesmo prestar total atenção ao que está sendo dito em uma conversa. Tudo isso me fez criar uma analogia interessante sobre a forma como muitos de nós atuamos no mundo corporativo moderno.
Nós temos o hábito de pensar que a felicidade plena só virá quando nós conseguirmos determinada conquista, ou quando alcançarmos um certo sucesso. Existe uma grande ilusão da mente que nos vicia em estar constantemente buscando um próximo momento, sempre projetando o futuro e muitas vezes esquecendo de viver o agora. Você não precisa ser feliz só amanhã.
Um estudo de Harvard apontou que nós passamos quase 50% da nossa vida em estado de divagação. E muito pouco tempo a gente passa, de fato, experienciando a nossa própria vida.
Nossa mente está quase sempre no passado ou no futuro, mas raramente no presente. Sempre pensando se determinado plano vai dar certo ou se lamentando por ter agido de maneira errada em determinada situação, e esquecendo de dar total atenção ao agora, que é o único momento em que, de fato, temos algum poder. Inclusive, esse é um dos fatores que causam ansiedade.
Essa falta de presença é o que vem nos deixando cada vez mais distraídos. É assim que deixamos de dar atenção à pequenos detalhes, como as cores de um flamboyant, um quadro nunca antes percebido, ou tópicos importantes que foram discutidos em uma reunião.
Ficamos tão ansiosos em atingir logo nossas metas e objetivos que esquecemos de aproveitar o processo. É como escalar o Monte Everest e não apreciar a vista, não curtir a caminhada, pensando apenas em alcançar o topo. Até mesmo o processo de busca por um novo emprego, que para muitos é um período frustrante, pode ser proveitoso. Nós nos aprimoramos, adquirimos novas habilidades, conhecemos novas empresas e conhecemos a nós mesmos com mais profundidade.
Eu não estou dizendo que é errado pensar no futuro ou lembrar do passado, na verdade, é difícil para qualquer pessoa, se manter presente o tempo inteiro. É um exercício diário. Nós só não devemos viver em estado de divagação.
A intenção deste artigo não é romantizar o daltonismo e nem te emocionar. Tampouco ser um texto motivacional pra viralizar no LinkedIn. É apenas uma reflexão de um garoto que, literalmente, enxerga o mundo de uma maneira diferente. E é também um compromisso comigo mesmo de que a partir de hoje, serei mais presente.
E você? O que tem passado despercebido por você?
Ah, e se você também ficou curioso em saber, eu não vejo tudo em preto e branco. Eu tenho Protan forte com Deutran fraco. Traduzindo, eu tenho dificuldade com tonalidades de vermelho e verde. Então, é muito comum me deparar com uma maçã marrom ou alguma planta cinza, o que às vezes, é até interessante.
Analista de Mídias Sociais | Gestora de Midias Sociais
4 aQue belo artigo Edson! Sei que sua intenção não era nos emocionar, mas fiquei com o coração apertado aqui pensando na minha vida e na daqueles que já se foram e pensando "será que eles aproveitaram a vida deles ou só divagaram?" Certamente vou prestar o máximo de atenção no meu presente, aprender com meu passado e planejar o futuro, acredito que é assim que a vida deve ser vivida. Esse texto realmente me inspirou!
Analista de Câmbio - FBB600 (FEBRABAN)
4 aÓtimo artigo, muito parecido com o que vivemos atualmente... Sempre na pressa, esquecemos do que temos de mais valioso: Nosso presente, o agora. Parabéns!!!
comprador Opme Dmi
4 aExcelente artigo !! 👏 como diz "Dalai Lama"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.
Customer Service | Samples | Supply Chain | Logistics Service Coordinator | Dow
4 aParabéns Edson Brito, publicação bastante pertinente com os tempos que estamos vivendo. Valorizemos a vida como ela é!
Analista de Recursos Humanos
4 aExcelente artigo! Parabéns Edson Brito! Com certeza me fez refletir e ter ainda mais clara a ideia do quão importante é nos mantermos no momento Presente.