Você sabe dar um feedback?

Você sabe dar um feedback?

por Júlio Diógenes


Vamos encarar a realidade

Muitos dos feedbacks que circulam por nossos ambientes de trabalho hoje são disfarçados de “crítica construtiva” quando, na verdade, são verdadeiros exemplos de CMV, Comunicação Muito Violenta. São aqueles comentários cortantes, que, ao invés de promoverem crescimento e desenvolvimento, minam a confiança, geram ansiedade e perpetuam um ciclo de desmotivação.

Imagine uma cena comum no escritório: você está em uma reunião de equipe, e o gestor, com a desculpa de querer ajudar, critica duramente a apresentação de um colega. Ele diz algo como: “Você realmente precisa melhorar nisso, foi péssimo”. Embora mascarado como feedback, essa abordagem destrutiva faz com que a pessoa se sinta humilhada, inadequada e insegura. Esse tipo de comunicação não oferece um caminho claro para a melhoria; ao contrário, desencoraja qualquer tentativa de progresso, pois a pessoa começa a evitar situações em que possa ser novamente alvo de tal crítica.

Ainda posso adicionar um elemento, "essa geração não aguenta crítica, não tem resiliência...". Apesar de concordar com parte desse argumento - tema para outro artigo - quando falamos de feedback, esse é um ótimo álibi para mascarar a incapacidade de reportar um ponto de melhoria ou uma falha.

Se você se identificou com essa situação, saiba que não está sozinho. Mas aqui está a grande questão: por que continuamos a permitir que essas práticas inadequadas prevaleçam, especialmente quando se trata de indivíduos neurodivergentes? Indivíduos com autismo, TDAH e outras formas de neurodivergência já enfrentam desafios significativos em ambientes de trabalho que não estão adaptados às suas necessidades.

Para eles, o impacto de um feedback inadequado pode ser ainda mais profundo. A sensibilidade a críticas severas, a dificuldade em entender nuances e a necessidade de clareza são características comuns entre muitos neurodivergentes. Quando o feedback é dado de maneira agressiva ou vaga, em vez de esclarecer e orientar, ele pode ser interpretado de maneira devastadora. Isso não só afeta o desempenho individual, mas também contribui para um ambiente de trabalho tóxico, onde o medo e a ansiedade se tornam predominantes.

Portanto, precisamos questionar: por que persistimos com essas práticas danosas? É um problema de falta de consciência, ou é uma resistência em mudar a forma como nos comunicamos? A resposta pode ser uma combinação de ambos, mas é claro que é necessário um esforço consciente para adotar abordagens mais compassivas e eficazes de comunicação. E é aqui que métodos como o GROW podem fazer uma diferença significativa.

O que é o Método GROW?

De forma direta, o GROW é um método simples, direto e bastante eficaz.Ele se baseia em quatro etapas fundamentais: Objetivo (Goal), Realidade (Reality), Opções (Options) e Vontade (Will). Vamos destrinchar isso:

Goal (Objetivo): Primeira etapa. Definimos claramente onde queremos chegar. Sem clareza, estamos apenas navegando sem rumo. Qual é o seu destino? Vamos estabelecer isso de forma precisa.

Reality (Realidade): Hora de encarar os fatos. Onde estamos agora em relação ao nosso objetivo? Essa análise honesta é vital. Sem compreender a realidade atual, qualquer esforço pode ser em vão.

Options (Opções): Agora é o momento de explorar possibilidades. Quais são os caminhos disponíveis para chegar onde queremos? Esta fase é sobre ser criativo e considerar todas as alternativas possíveis.

Will (Vontade): Finalmente, compromisso com a ação. O que faremos, quando faremos e como faremos? Definimos um plano de ação específico e mensurável para garantir que estamos avançando.

Antes de te ajudar a adaptar, preciso pontuar algo importante

Reconhecer e valorizar a neurodiversidade no ambiente de trabalho não é apenas uma questão de inclusão; é uma estratégia essencial para qualquer organização que busca inovação e excelência.

Indivíduos neurodivergentes trazem perspectivas únicas, soluções inovadoras e uma capacidade de concentração profunda que pode elevar equipes e projetos a novos patamares de excelência e criatividade. No entanto, para que essas contribuições inestimáveis sejam plenamente realizadas, o ambiente de trabalho deve ser um espaço de inclusão ativa. É aqui que entra a importância do feedback contínuo e fundamentado no método GROW. Adaptar nossas estratégias de feedback para atender às necessidades únicas de cada mente é fundamental para a ambientação, retenção e desenvolvimento desses talentos.

O feedback contínuo e eficaz é a espinha dorsal desse processo. Ele não só ajuda na ambientação e retenção de indivíduos neurodivergentes, mas também é crucial para o seu desenvolvimento contínuo. Utilizando essa estrutura, estamos fornecendo um feedback estruturado que não apenas orienta, mas também motiva e valoriza cada conquista.

Falo isso, não só enquanto especialista, mas como pessoa autista e TDAH e que vivencio a importância desse processo. Por isso, queria te ajudar a adaptar para melhorar a forma que você aplica o feedback. Simbora?

Goal (Objetivo): Para mim, é crucial simplificar e clarificar os objetivos. Uso linguagem direta e sem ambiguidades, e sempre complemento com recursos visuais. Isso não só esclarece, mas também torna o objetivo mais acessível e compreensível para todos.

Reality (Realidade): Ao fornecer feedback sobre a situação atual, sou concreto e específico. Dou tempo para que a pessoa processe as informações e certifico-me de que o ambiente seja minimamente distrativo. Esse cuidado é vital para que o feedback seja realmente absorvido e útil.

Options (Opções): Quando apresento opções, faço questão de serem claras e concretas, evitando sobrecarregar com muitas opções de uma vez. Envolvo a pessoa na criação de soluções, promovendo uma sensação de controle e comprometimento. Isso não só facilita a tomada de decisão, mas também fortalece a confiança e a autonomia.

Will (Vontade): Defino passos de ação pequenos e concretos, com suporte contínuo e monitoramento regular do progresso. Celebro todas as conquistas, por menores que sejam, para manter a motivação alta. Este apoio constante é fundamental para garantir que todos se sintam valorizados e motivados a continuar progredindo.

Convido você a refletir sobre suas práticas de feedback e a considerar essas adaptações. Compartilhe suas próprias experiências ou dicas sobre feedback inclusivo nos comentários. Vamos continuar esta conversa crucial e trabalhar juntos para criar ambientes de trabalho onde todos possam prosperar.


Emanuelly Alcântara

-- Social Media e empreendedora

7 m

Ual, estava refletindo sobre isso esses dias. Sinceridade? Perfeccionismo ou arrogância mesmo? Estão disfarçando e usando o termo de “crítica construtiva”.

Odilon de Borba 🎙️🌈

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7 m

Incrível conteúdo Júlio Diógenes, durante essa semana o Dieter Borgert 🚀 me presentou com uma pergunta, você gostaria de um feedback? que eu ia até pedir depois! Achei o máximo e aprendi muito!

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