Você teme que alguém sob sua liderança seja melhor do que você?
Está aí uma questão que se coloca algumas vezes na trajetória de um profissional que lidera outros: o que fazer quando uma pessoa que está sob sua liderança mostra ser melhor do que você em certos aspectos? Esse tipo de constatação pode gerar insegurança e trazer consequências nefastas, se não for lidada apropriadamente. Porque responder de forma egoísta a isso pode revelar a falta de preparação para ser um bom líder e um bom profissional.
Eu mesma já me deparei com essa questão e isso aconteceu justo com a primeira pessoa de quem fui chefe. No final de 2007, fui convidada a liderar um novo projeto em uma empresa onde trabalhei: um novo website. E eu seria a responsável por desenvolver seu conteúdo, a princípio, sozinha.
No segundo semestre de 2008, veio se integrar à minha equipe a primeira pessoa que me ajudaria nessa tarefa, sob a minha liderança. E já no seu teste para conseguir o cargo, eu pude perceber que, em um quesito pelo menos, ela era melhor do que eu: na fluência em inglês.
Num primeiro momento, não me senti ameaçada: achei bom, inclusive, que tivesse ao meu lado alguém que soubesse um pouco mais de inglês do que eu, mesmo que eu já tivesse um nível avançado. Assim garantiríamos um bom conteúdo para nossos usuários, dado que a maioria das nossas matérias vinham de fontes em língua inglesa. Com o tempo, ela se mostrou melhor em outra coisa também: era mais rápida para produzir os textos.
Confesso que, com o tempo, tive medo. Uma vez ou outra pensei que, se ela realmente quisesse, poderia assumir o meu cargo, mostrar o seu valor nesses pontos e eu ia ficar para trás, talvez até perder o emprego.
No entanto, agir de forma deliberada para prejudicar os outros e garantir o meu lugar no mundo nunca foi um traço da minha personalidade e, mesmo sem saber muito com lidar com aquilo, simplesmente deixei acontecer, tentando sempre dar-lhe suporte para que ela pudesse ter espaço para fazer o seu melhor. Se, um dia, a empresa decidisse que ela era melhor do que eu, que assim fosse, eu pensei. Não seria eu a puxar o tapete de alguém, principalmente como líder dessa pessoa.
Com o tempo, no entanto, percebi que o meu método de mensuração de “quem é melhor do que quem” estava um tanto falho. Claro que ela escrevia mais textos e até mais rápido do que eu: eu passava a maior parte do dia administrando o site, encontrando matérias, rastreando o gosto dos leitores, medindo resultados, respondendo usuários e parceiros em diversas plataformas, planejando e executando os próximos passos em diferentes esferas. Quando sobrava tempo, eu escrevia. E aí chega a ser injusta essa comparação. Quanto ao inglês: eu também tinha um ótimo nível de compreensão e produção, mas sempre tinha algo novo a aprender e melhorar. E daí? Não é assim com tudo na vida?
As nossas atribuições eram inerentemente diferentes e ser melhor do que eu em alguns aspectos não significava automaticamente ser melhor do que eu em todos. Isso é um ponto. O outro é, invariavelmente: e se ela fosse melhor do que eu em todos os outros aspectos também? Isso você descobre quando precisa tirar férias.
Um líder com medo de tirar férias já mostra que tem medo de ser substituído, tem medo de que a empresa descubra que ele é descartável, com possíveis colaboradores que podem fazer o seu trabalho até melhor do que ele. O pesadelo de muitos gestores. Mas não deveria ser.
Esse medo considero que até seja natural, mas acho que ele deveria nos impulsar para frente. Em um emprego, todos temos medo de que a empresa ache que somos substituíveis. Tenho más notícias, se você teme que isso seja verdade: sim, você é substituível e a empresa vai sobreviver sem você. Mas isso não quer dizer que você não tenha valor. Você tem ou não confiança na qualidade do seu trabalho? Ele só se sustenta se você precisar pisar nos outros?
Se podar seus funcionários, sem permitir que eles cresçam, resultados catastróficos no rendimento deles e na cultura da empresa vão acontecer. Porque nada pior do que sentir que você, suas ideias e suas capacidades não são valorizadas. Nada pior do que saber que você podia fazer mais, mas seu chefe não deixa. Muita evolução para a empresa pode vir de funcionários que não são gestores, mas que, simplesmente, estão antenados com as novidades e naturalmente têm boas ideias.
As pessoas precisam de espaço para crescer, aprender e se desenvolver, e um dos papéis do verdadeiro líder é proporcionar esse espaço e dar-lhes as ferramentas para que isso aconteça.
Você pode estar pensando: tudo isso é muito bonito de dizer, mas quero ver você pensar assim quando seu emprego estiver na linha! Eu digo: manter-se no seu emprego não deveria ser às custas de podar o crescimento de ninguém, mas às custas de você se desenvolver mais. Ficar parado é ficar para trás.
Se você se sente ameaçado, se sente que alguém poderia fazer melhor, por que, em vez de abafar as qualidades dessa pessoa, você não sai da sua zona de conforto para se tornar melhor? Por que não faz novos cursos de sua área ou, no mínimo, busca estar sempre bem informado sobre os assuntos do seu setor? Mostre o seu valor, escreva artigos, atualize-se, passe seu conhecimento para frente, dê aulas, dê palestras sobre sua área de atuação. Ensinar os outros é uma ótima forma de aprender.
E aí você verá que não importa que seus liderados sejam melhores do que você nisso ou naquilo. Você está constantemente se melhorando e as pessoas terão que caminhar muito para chegar onde você está: não é simplesmente sabendo fazer uma coisa ou outra que você faz. E se, um dia, elas realmente te passarem, que seja! Você vai ter evoluído tanto que novas portas também se abrirão para você.
O maior erro é querer fincar os pés no chão para criar raízes e fazer um muro à sua volta para impedir a passagem dos outros. Você também precisa seguir em frente e crescer. Não somos plantas, nem muralhas: somos seres em constante evolução.
Coordenadora de Equipe | Pedagoga em Formação | Professora | Gerente de Projetos de Tradução | Tradutora | Linguista | ESL Teacher | Mestre em Geografia
8 aAdorei refletir com esse texto, congrats !