Você joga coisas fora? Então saiba que o “fora” é aqui
Entenda por que o design e a economia circular são aliados na construção de um futuro mais sustentável
Por Karen Cesar
Quando o assunto é comportamento do consumidor e sustentabilidade, eu costumo dizer que, hoje, o novo consumidor já nasce hiperecológico. Antes de comprar, ele quer saber de onde vem um produto, qual o propósito da empresa, que legado a marca quer deixar e, mais objetivamente, qual o impacto ambiental do que ele está comprando. É um novo jeito de ver as coisas, de ter um olhar mais amplo que força o repensar de muitos dos princípios.
Esse é o olhar da economia circular.
Na economia circular, todas as etapas da cadeia são repensadas para que esse fluxo se retroalimente. Para que, ao final da vida útil de um produto, ele não acabe no lixo, mas seja retrabalhado e reinserido na cadeia produtiva como insumo para um novo produto. Ou ainda que ele vire um serviço, já que muitas vezes essa é uma excelente solução.
Enquanto isso, na economia linear, a lógica é extrair, produzir e descartar. O fluxo é da natureza para a fábrica, da fábrica para o consumidor e do consumidor para o lixo.
Como designer, posso dizer que o design é um dos grandes, senão o maior, veículo para a transição da economia linear para a circular. O entendimento sistêmico das coisas é uma característica do design, que tem como premissa entender todas as partes e organizá-las na busca pela solução que entrega mais com menos recursos - sejam eles naturais, humanos, financeiros, tecnológicos ou físicos. Não é à toa que o método do design e sua transversalidade vem sendo adotado para encontrar soluções para problemas nas mais diversas áreas.
São muitos os exemplos de design e economia circular funcionando em conjunto por soluções mais sustentáveis. Um caso que explica bem as possibilidades do conceito desta nova economia é o da máquina “Feel the Peel”, dos desenvolvedores italianos da Circular Enni. O aparelho, que é um misto de espremedor de laranja com impressora 3D, faz suco da fruta e, com as cascas, produz um copo de bioplástico que pode ser usado para servir o refresco. Agora, os criadores do aparelho já estudam como usar a casca para produzir outros materiais, como tecidos. É um exemplo que tangibiliza a economia circular por mostrar uma mudança de olhar para o que sempre foi visto como lixo: as cascas de laranja.
No mundo das embalagens, a economia circular e o design também têm o que contribuir. Para além da reciclabilidade, o design pode criar embalagens que são o produto, ou embalagens com forte apelo para reuso. Já existe, no mercado, um rolo de sacos de lixo em que o último saco é a própria embalagem do rolo. Ainda no âmbito das embalagens, exercitar um olhar mais criterioso sobre os materiais usados para produzi-las também dá bons resultados - e está alinhado com a economia circular. Hoje, por exemplo, a embalagem plástica é bastante vilanizada. Mas, muitas vezes, ela é a saída mais sustentável. Quem analisa todo ciclo de vida de um produto muitas vezes chega à conclusão de que o vilão não é o plástico - ou qualquer outro material - , mas sim o que como ele é usado e descartado.
Empresas como a Braskem, já trabalham alinhadas à economia circular e desenvolvem projetos, como o Desafio de Design, para divulgar essa cultura - e colocá-la em prática. Inclusive, em 2019, fui convidada para ser jurada do Desafio de Design que, este ano, será em forma de hackathon e vai repensar as embalagens de um creme dental da Colgate-Palmolive e um pacote de papel higiênico da Kimberly-Clark. Durante três dias, designers e engenheiros se unem para criar soluções que reduzem o impacto desses produtos no meio ambiente - em todas as etapas de seus ciclos de vida.
Porque esse é o novo mundo do consumo, no qual todos os players precisam ter novos papéis e todas as etapas importam. Consumir e descartar já não faz sentido - esse fluxo é um desperdício de esforço e energia, além de representar um enorme risco ao meio ambiente e ao nosso futuro. Afinal, jogar fora não existe quando o fora é aqui, no nosso planeta. É hora de mudar.
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5 aÓtima reflexão! Parabéns pelo texto.
Auxiliar administrativo na Grendene S/A
5 aShow