Volta ao passado. Por que algumas empresas exigem o retorno ao trabalho 100% presencial?
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Volta ao passado. Por que algumas empresas exigem o retorno ao trabalho 100% presencial?

A pandemia de Covid-19 exigiu grandes adaptações por parte de todos nós. Além da preocupação com a saúde, houve a necessidade de nos adequarmos a uma nova realidade em nossas rotinas profissionais e pessoais. A vida de praticamente todas as famílias foi afetada seja com a necessidade de estabelecer novos hábitos de trabalho e estudo como também questões como o compartilhamento de equipamentos e os novos "escritórios" e "salas de aula" domésticos.

O trabalho remoto e o home office permitiram a continuidade das operações de diversas empresas e todos nós acabamos nos tornando especialistas em plataformas de reuniões on-line e aplicativos de gestão de projetos e de equipes. Apesar dos percalços iniciais, de modo geral, as empresas que operam em segmentos que não dependem da presença física de seus colaboradores foram capazes de manter sua produtividade e, em alguns casos, até mesmo aumentá-la. É claro que o comércio tradicional foi duramente afetado; lojas de rua, restaurantes, cinemas e teatros tiveram suas atividades interrompidas ou severamente afetadas.

Mesmo após as dificuldades iniciais, o trabalho remoto provocou uma série de questionamentos por parte de gestores dos mais diversos níveis: "Será que meus funcionários estão realmente trabalhando?", "como a falta de interação presencial afetará o desempenho das equipes?". Por outro lado, o home office representou uma redução de custos significativos para as empresas como o aluguel de imóveis, a conta de energia e até mesmo o cafezinho. Para os colaboradores, o fato de não ter que se deslocar e gastar horas parado em congestionamentos representou um ganho de qualidade de vida e um tempo extra para o convívio familiar, estudar ou simplesmente para o lazer.

Passada a pandemia, seria de se esperar o retorno ao "normal", a volta aos escritórios e à velha rotina de trânsito e os horários fixos da vida corporativa. A volta aos escritórios sofreu grande resistência por parte dos colaboradores, que já não queriam abrir mão do conforto de trabalhar de casa, muitos haviam se mudado para regiões afastadas e não estavam dispostos a abrir mão da qualidade de vida conquistada. Alguma empresas, temendo a perda de talentos, se questionaram: "Por que não aproveitar o melhor dos dois mundos?", "Por que não adotar uma rotina flexível que permita o trabalho remoto e o presencial?". Mesmo empresas do segmento industrial como a manufatura de equipamentos ou a indústria automobilística possuem departamentos absolutamente capazes de operar de forma remota. Surgiu o que ficou conhecido como trabalho híbrido, e os profissionais cujas atividades poderiam ser executadas à distância se deslocariam aos escritórios das empresas em dias alternados, de acordo com o planejamento mais conveniente.

Tudo parecia correr bem até que algumas empresas e dirigentes de grande expressão passaram a combater o trabalho remoto ou mesmo a modalidade híbrida com toda a sua força. Os casos mais emblemáticos incluem o CEO da Tesla, Elon Musk e dirigentes de instituições financeiras de grande porte como o JPMorgan e o Citigroup. Musk chegou ao ponto de emitir um comunicado a seus colaboradores: "Apareça ou se demita". Para Stephen Meier, chefe da divisão de administração da Escola de Negócios Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos, essas empresas apresentam um traço em comum: as táticas de gestão de linha dura. Essas e outras organizações se acostumaram a uma cultura de comando e controle que é incompatível com a necessidade de empoderamento dos funcionários nos novos tempos. Soma-se a isso a instabilidade financeira que muitas dessas empresas enfrentam atualmente.

Para o professor de economia Nicholas Bloom, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, muitos CEO's tentam usar o trabalho remoto como bode expiatório para os resultados decepcionantes de suas gestões. Para Bloom, nada mais contraditório do que esse pensamento e acrescenta:

"No longo prazo, o desempenho melhora mantendo os funcionários felizes e reduzindo os custos de retenção e contratação. As pesquisas mostram com muita clareza que, para os profissionais e para os gerentes, o trabalho híbrido é lucrativo para as empresas."

O que me parece muito claro é que os estilos de liderança precisam se adaptar à uma nova realidade. A pandemia de Covid-19 e seus efeitos posteriores tornaram isso ainda mais urgente. Diversas pesquisas indicam que a grande maioria dos profissionais apontou o trabalho remoto como responsável por serem capazes de harmonizar os aspectos profissionais e pessoais de suas vidas e que não estão dispostos a abrir mão dessa conquista.

Os líderes mais bem preparados saberão conduzir esse novo sistema de trabalho e extrair o melhor de suas equipes, como sempre deveria ter sido. Organizações que contam com esses líderes, provavelmente terão resultados melhores, como sempre tem sido.

E você o que acha? Se você é colaborador, líder ou dirigente empresarial, qual sua opinião sobre as modalidades de trabalho que temos atualmente? Compartilhe sua experiência nos comentários.

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