Voltar para casa indo embora do Brasil: pêndulo, ancestralidade e multidimensões fazem parte desta reflexão
É um mix de emoções voltar para “casa” indo embora do Brasil. Isso me faz pensar no mundo de dualidades que vivo. Ou melhor, que nós vivemos.
Os últimos tempos evidenciaram as polarizações, mas como cada vez mais o volume de informações e trocas superficiais aumentam nossa miopia sobre os fatos, talvez esta seja a única forma de reconhecermos esse mundo de luz e sombra, quero dizer, através do absurdo das extremidades da economia que gera fome e riqueza, da política que move crença e descrença, até o carnaval que para alguns é festa e bloquinho, enquanto para outros, foi o desespero do litoral – sem comentar todas as outras muitas realidades.
Nem todos enxergam a luz, nem todos enxergam a sombra, alguns enxergam luz e sombra, poucos enxergam a mesma luz e a mesma sombra.
É sempre assim, falamos as mesmas coisas de formas diferentes e não autenticamos positivamente a diversidade de ângulos.
Seja como for, depois de alguns mergulhos na psicologia de Jung e outros correlatos, entendi que não existe um caminho que concilia a luz e a sombra.
O segredo do equilíbrio – o tão buscado equilíbrio - está em PENDULAR: trabalhar o PROTAGONISMO para conscientizar a luz e a sombra e, então, direcionar qual lente usar e qual espaço ocupar em diferentes ocasiões de PERTENCIMENTO - este é um exercício da Economia da Paixão!
Depois de um tempo de treino consciente, o corpo e a mente atuam intuitivamente. Foi o que vivi na última semana. Nesta temporada no Brasil - com uma pausa para a NRF em NYC, em janeiro - brinquei que já estava inventando refeição para reencontrar ou até conhecer pessoalmente amigos, clientes, parceiros, alunos, mentorados,… Quantas pessoas queridas e que me trouxeram afeto e trocas preciosas. Até que, depois de muito agito do café da manhã ao jantar, nesta última semana precisei reduzir o ritmo. Senti necessidade de recolhimento, cancelei algumas agendas e abri maior espaço para visitar a minha família em Minas Gerais.
Minha amiga e parceira de trabalho, Raissa Farjo , fala muito sobre a importância do RETIRAR-SE: “deslocamentos inteligentes são mergulhos profundos”
Foi como senti o movimento de sair de São Paulo e cair no interior, revivendo um pouco da minha história e origens como princípio de REGENERAÇÃO, tema que tenho como norte em 2023 na exploração da Economia da Paixão.
Para quem estuda tendência e futurismo, sabe que uma pauta chave atualmente é a ANCESTRALIDADE, que não por acaso, esbarra no movimento da Economia da Paixão no que diz sobre fortalecer o PROTAGONISMO e a sistêmica do PERTENCIMENTO - o que, pela visão holística, conecta os campos pessoal e profissional.
E, convenhamos, muitos dos desafios das organizações com pessoas, começam e terminam no campo pessoal das mesmas.
É evidente que hoje temos uma dificuldade muito grande na desconexão, este processo de “retiro” que a Raissa sugere.
Ao mesmo tempo, questiono “Estamos conectados ao que ou a quem?”, porque apesar de estarmos sempre conectados, existe uma queixa muito grande quanto a falta da cultura de pertencimento. Aliás, já mencionei outras vezes, poucas coisas me incomodam tanto quanto ouvir algo como:
“a nova geração não tem senso de responsabilidade e não quer nada com nada”
Será? Ou será que esse campo de pertencimento superficial e controlado que estabelecemos não sustenta a expressão de seus protagonismos? Principalmente sendo as mais novas gerações formadas por grandes promotoras da diversidade.
A louca mecânica do pertencimento que estabelecemos nos setores que estruturam a economia e a sociedade no geral é tamanha, que temos dificuldade de nos retirar e alimentar ou encarar de frente o nosso próprio protagonismo, e em qualquer oportunidade, temos surtos de autoexpressão. Vivemos uma enorme sede dos “múltiplos eus” que somos, mas não empregamos, para manter as cascas rígidas e pré-estabelecidas em nossos meios de pertencimento.
ALAYA VIGYAN é uma expressão em sânscrito que diz sobre o porão que criamos e alimentamos com todas as nossas vontades de ser e realizar, mas que ficam presas em função de condições sociais, econômicas e culturais.
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É neste porão, que fere o protagonismo, onde perdemos as faíscas da inovação!
Afinal, não é como se estivesse faltando criatividade para a fantasia de Carnaval. Digo sem qualquer crítica, me divirto horrores em acompanhar, mas me assusto com o quanto não direcionamos essa potência criativa também – vale reforçar o “também”! - para outras atividades, e aqui enxergo principalmente a dor de organizações.
Digo e repito a lógica que exploro a partir da Economia da Paixão: o primeiro passo não está em criar cultura de pertencimento, uma comunidade nasce pela força do protagonismo de seus membros - e isso não tem nada a ver com hierarquia!
Você pode ler, concordar ou discordar e talvez dizer “não é este o problema”.
Está tudo bem, existem mesmo muitos outros problemas, ainda que possivelmente vinculados a esta reflexão, mas é realmente muito difícil enxergar e agir quando estamos do lado de dentro do contexto que temos como alvo. Este é o meu maior desafio e a minha maior dádiva - eis a dualidade.
Sinto falta de muitas coisas no Brasil, mas é incrível poder nos enxergar em perspectiva e, assim, conseguir ter maior clareza de diagnóstico e estratégia quando trabalho com profissionais e empresas brasileiras.
Por isso, neste momento, voltar para a casa que não é a casa de origem, é um alívio – e me exige o exercício de pêndulo, porque do outro lado do alívio, “nem tudo são flores”. Chego aqui para, agora sim, imergir à distância nas provocações que trouxe do país que amo chamar de meu. Sim, nessa terra fria da Áustria, onde muitos se recolhem, encontro expansividade para a minha conexão com o Brasil. As vezes ouço “não é uma loucura viver aqui e aí?” e tendo a responder “entende como metaverso e multidimensões já são realidade a partir do mindset digital?” e ainda poderia complementar dizendo que, por fim, isso justifica a “hype da ancestralidade" que vem por aí, porque a era digital e o funcionamento da tecnologia provoca a volta às origens por refletir exatamente a natureza que somos: na natureza as conexões acontecem sistemática e continuamente, para além da condição de tempo e espaço.
Esses dias conversava com a Cris Duarte e concordamos com a potente capacidade de nos transportarmos para além do deslocamento geográfico quando estamos dirigindo – já vivi muitos shows e reflexões importantes no volante. O carro é somente um exemplo, e quanto mais trabalhamos PROTAGONISMO, mais conseguimos mergulhar com maior profundidade e proveito em explorações multidimensionais, que nos abrem portas para também múltiplos espaços de PERTENCIMENTO.
Estar em movimento e em pausa, usar a expansão e a introspecção, a imersão e a perspectiva, está diretamente relacionado com o PROTAGONISMO e PERTENCIMENTO da Economia da Paixão e faz parte dos métodos que me possibilitam honrar o Brasil e também atuar e me conectar com o resto do mundo. E diante dessa reflexão, uma frase do Carlos Ferreirinha , a mesma que mencionei em um último artigo, segue martelando na minha mente “não podemos nos afastar dos nossos privilégios”.
Podemos JÁ pensar quais são os espaços e posições que ocupamos hoje e quais imersões e, principalmente, perspectivas podemos explorar articulando protagonismo e pertencimento que promovem impacto.
Enfim! Independe da perspectiva, sigo sendo uma brasileira raiz e, apesar de já ter vivido muito 2023, estou aqui começando oficialmente o meu ano com alguns projetos incríveis, honrando a multidisciplinaridade que sustenta meu protagonismo e me aventurando em espaços de pertencimento que muito me inspiram neste primeiro trimestre, aqui vão 3 deles:
- AGENTES DA ECONOMIA DA PAIXÃO: uma das atividades mais deliciosas que vivo é a de conhecer e conectar agentes da Economia da Paixão de diferentes áreas e formações. Algumas vezes esses profissionais entram para squads de mentorias & consultorias de inovação e estratégia que realizo e este ano avanço ao lado da Raissa Farjo , com o Inquietesi – logo conto mais, mas vai o resumo do propósito: tornar o invisível, visível.
- GRUPOS DE INOVAÇÃO: participo periodicamente de diversos pelo mundo, entre eles o brasileiro TrenDs News , onde falo sobre Economia da Paixão em gravações semanais de podcast ao vivo. Vale conferir esses especialistas regidos pelo Renato Grau : Charles Betito, Charles Schweitzer, Nei Grando, MSc., Nai Corrêa, Alexandre Uehara, Tony Ventura, Janaína Tanure, Cristiane Lindner Kanaan, Martha Gabriel, PhD, Rafael Veloso, Antonio Lucio, Rafael Kiso, Renato Opice Blum, Jihan Zoghbi, PhD, Paula Costa, Anna Flavia Ribeiro.
- SUSTENTABILIDADE: me aproximo oficialmente do movimento global Fashion Revolution Brasil para aprender & trazer provocações que conectam revoluções da moda e Economia da Paixão. Aqui uma última pauta sobre Aluguel e Revenda que escrevi por lá!
Sim, um balde de Economia da Paixão, porque ainda tem muita gente vivendo para trabalhar e fazer negócio sem afeto e acredito com muita verdade que só a sensibilidade e a humanização pagam a conta na era digital, regida pela força de conexões e do relacionamento!
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Paula Costa é comunicóloga formada em Publicidade e Gestão de Varejo pela graduação e MBA da ESPM, com especializações complementares em inteligência de mercado, pesquisa, antropologia, futurismo e inovação e passagem por instituições globais como Hyper Island e Tel Aviv University. Baseada na Europa, transita por diferentes países e eventos de arte, design, tecnologia, inovação, negócios e varejo, realizando curadoria de comportamentos, movimentos e tendências, que se fazem insumos dos insights que compartilha através da aulas, palestras, workshops e consultorias de inteligência estratégica e inovação baseada na visão de culturas orientadas pela Economia da Paixão - tema do livro de sua co-autoria.
Instagram @paulacoliv
Mais sobre aulas, palestras, workshops e consultorias aqui.
Executivo de Desenvolvimento de Negócios e Vendas, Professor, Mentor e Escritor dos livros Balanced Skills e Vivi, Vendi, Venci.
1 aQue a força e a paixão dos relacionamentos e das conexões mantenham você próxima mesmo estando distante, Paula Costa! É sobre isso que escreverei no meu novo artigo.
CEO Comense - Smart Gov | Transformação Digital de Governos | Smart City | Conselheiro | Cohost Podcast Global Smart Gov e Trends News | LinkedIn Top Voice Smart Cities
1 aFantástico, Paula Costa . Estou vivendo esse momento de ancestralidade muito forte. Estive nas ultimas semanas no sertão da Bahia, onde viveram meus avós e meu pai e a conexão foi (e está sendo) incrível. Obrigado pela inspiração e reflexão com este texto.
Estratégia Digital [Marketing, CX, CRM, Loyalty] | Cia Tradicional de Comércio
1 aQue mergulho profundo você provocou com essa reflexão! Fico feliz por ter feito parte dos encontros genuínos e escolhidos a dedo nessa sua temporada por aqui. Minha mente efervescente já está a mil tentando organizar um pouco das inúmeras caixinhas que vc me ajudou a abrir. Que privilégio nossos caminhos terem se cruzado. Nos vemos em breve, Paulinha!
Diretora Comercial | Operações | Novos Negócios | Liderança Estratégica | Varejo Nacional & Global
1 aQue aula! Me conecto e me identifico com muitas das suas reflexões. Que lindo poder sentir esse acolhimento e pertencimento mesmo que em formatos diferentes e a distância. Você brilha Paula!