Voto da Região Nordeste pode guiar os partidos na definição dos vices
Reunindo três dos maiores colégios eleitorais e uma somatória de 26% dos votos válidos no País, bloco regional será levado em conta quando candidatos precisarem de um puxador de votos
[TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE 30/07, NO JORNAL DCI.]
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas quatro eleições presidenciais, os nove estados do nordeste votaram 72 vezes, entre primeiro e segundo turno, sendo que o PT levou o embate em 70 ocasiões, frente duas vitórias do PSDB. Sem Lula no páreo, a busca por um vice identificado à região deve ser fundamental neste pleito.
Os números foram compilados pela consultora Arko Advice, com base nos dados da corte eleitoral. Três estados nordestinos ocupam vaga entre os 10 maiores colégios eleitorais do País: Bahia (quarto maior); Pernambuco (sétimo) e Ceará (oitavo). Juntos, os nove estados da região constituem 26% do eleitorado brasileiro.
Faltando 17 dias para o fim do prazo de inscrição das chapas, dos líderes das pesquisas eleitorais para a presidência, nenhum fechou um nome para compor a vaga de vice na chapa. O PT, que tem Lula como líder, porém preso, aguarda uma decisão para saber se ele estará ou não apto a disputar a eleição. Jair Bolsonaro (PSL) deve fechar com um nome do partido. Marina Silva (Rede), segunda colocada, também deve ter uma chapa “puro sangue”.
Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) devem ser os únicos a terem um vice de outro partido. O pedetista ainda busca apoio do PSB e do PCdoB. Já o ex-governador de São Paulo conta com um arco de alianças englobando oito siglas e terá de buscar um nome saído dessas opções.
Apenas o ex-presidente Lula é unânime nas pesquisas quando identificamos os recortes regionais. Sua aceitação chega a quase 50%, enquanto que em cenários sem o petista, Marina e Ciro conseguem maior profundidade eleitoral, ambos sem ultrapassarem os 20% de aceitação. Bolsonaro e Alckmin puxam a carreata da rejeição, com 41% e 30%, respectivamente, segundo pesquisa Datafolha de junho.
“Buscar um vice nordestino é uma tentativa, mas não resolve o problema. O eleitorado se identifica mais com o candidato a presidente e também com o partido. Depende muito do programa, pois é preciso observar que é uma região carente, de gente pobre. Em relação a outras regiões é menos desenvolvido. Sem políticas públicas fortes e um programa muito econômico, não adianta” disse o cientista político da Escola de Sociologia e Política (FESPSP), Aldo Fornazieri.
Nesse sentido, o sociólogo do Mackenzie, Rodrigo Prando, aposta em mais um ano de disputas entre PT e PSDB, já que o lulismo ainda é reinante no nordeste e Alckmin fechou ampla aliança com siglas como o DEM, que estão ligadas aos estados da parte cima do Brasil. Sua observação é a de que existem “duas cidadelas”, onde uma é constituída pelo norte e nordeste e a outra é acompanhada pelo sul e sudeste.
O desempate da “balança” será feito por votos de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, três dos maiores colégios eleitorais do Brasil. “A força do PT é tão forte que nem tendo um vice do nordeste é possível minar a força do lulismo. O foco não pode estar apenas em puxar um vice de lá”, avaliou Prando.
Nenhum analista se arrisca em apontar o alcance de Bolsonaro nesta eleição. Líder nas pesquisas sem o ex-presidente petista, o deputado terá como revés a ínfima estrutura partidária do PSL e menos de dez segundos no espaço publicitário de rádio e TV.
O pouco tempo para divulgar ideias, a falta de apoio político aliado a baixa verba de campanha, serão alguns dos problemas da campanha. A boa notícia é o apoio online.
“Bolsonaro é o anti-Lula, mas sem o petista seu discurso acaba limitado. Ainda assim ele consegue congregar naquele discurso uma grande parcela da sociedade. E não podemos nos esquecer de que existe um voto não declarado que pode ir para o Bolsonaro”, observou o sociólogo do Mackenzie.
“Agora, ele vai enfrentar um torpedeamento constante. Não tem tempo de se defender, não têm aliados e nem vice. Por outro lado, ele conta com apoio na internet. O mesmo caso vai para a Marina Silva. Vamos ver o peso da TV nessas eleições em comparação com as mídias”, concluiu.
Palanques regionais
Para além de um bom nome para agregar na vice, os candidatos terão de se atentar para os acordos regionais. Nesses casos, a lógica política é a mais pragmática possível, com partidos antagônicos no âmbito nacional se apoiando nos círculos regionais.
O MDB é o partido que mais elegeu prefeituras em 2016, com 1.026, seguido pelo PSDB, com 796 prefeitos. Os petistas saíram derrotados nesta eleição, elegendo 256 chefes dos Executivos municipais e ocupando a décima posição entre as siglas com poder local.
Alckmin, por exemplo, terá em sua chapa seis das maiores legendas com prefeitos eleitos, no entanto nem todos os líderes dessas regiões estarão em consonância com a campanha tucana, sobretudo no nordeste, onde boa parte do cacicado está fechada com os lulistas.
“A lógica nacional não necessariamente se aplica a regional. O PSDB tem o Centrão nacional, mas vai se confrontar com o Centrão regionalmente”, apontou Fornazieri.
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7 mPrezado Diego, gostaria muito de um contato para falarmos sobre sua reportagem sobre o aço inox no Brasil