Vou desistir! Não aguento mais…

Vou desistir! Não aguento mais…

Talvez você tenha pensado que esta seria uma palavra motivacional que traria um renovo às suas forças, todavia, não é bem assim, embora você possa vir a se sentir motivado ao lê-la. Esta pode ser uma palavra para você, mas é sobre mim.

Desanimado e desiludido, já passei por isso, e mais de uma vez.

É sobre uma experiência que aconteceu comigo, há alguns anos, e quero compartilhar com você, e fazê-lo saber que sentir desânimo é muito mais comum do que se pensa. Todos entram em situações assim, de sentir-se, em algum momento, desanimados, mas, infelizmente, nem todos acham a saída.

E é disso que quero falar: como saí e, quem sabe, isso pode lhe servir de norte e ajudá-lo a vencer o seu desânimo. Acredite: mesmo parecendo improvável, a vitória é possível.

A história é assim: após um período difícil em Natal/RN, onde morava, lá pelos idos longínquos do século passado (risos), quando amarguei um período de desemprego e desilusões, mudamo-nos para o interior do Mato Grosso, numa pequena cidade no coração da Amazônia Legal, de meros 6.000 habitantes.

Toda mudança traz uma expectativa de melhora, de algo novo acontecendo, de mudança do quadro anterior, negativo, para um mais positivo.

Entretanto, essa expectativa não se confirmou. Sair de uma capital de estado, com população metropolitana de quase 800.000 habitantes para uma cidade pequena, encravada no meio de florestas, rios e fazendas de gado, não tinha de ser diferente, não é mesmo?

Pensando por esse lado, é o acontece, às vezes, conosco: saímos do lugar de conforto, apesar de o único conforto que temos é poder dizer que estamos ali, e, de repente, sermos lançados no turbilhão de mudanças involuntárias e traumáticas para nos vermos dizendo a nós mesmos –acabou, agora cheguei ao fim da linha, é o fim.

Nesses momentos de angústia, nas encruzilhadas que a vida nos leva, onde a opção é apenas ser mais um, aguardando uma mudança nos ventos, de contrários a favoráveis, que nunca chegam, é que vemos até onde conseguimos manter nossos valores, nossas convicções e perseverar em nossos objetivos.

O meu caso, apesar desse palavreado bonito do parágrafo anterior, sinto-me obrigado a confessar que, depois de uma espera que julgava interminável, cheguei ao ponto de dizer: “agora chega! cansei! vou jogar tudo pro alto e desistir… eu não  suporto mais!” 

Então, naquela casinha de madeira em que morava, ladeada por uma rua poeirenta e sem asfalto, dividindo o pequeno quarto com mais 2 irmãos, abri a janela que dava para a rua e comecei a me lamentar com Deus, expondo, do fundo do meu coração, as mágoas já tão enraizadas que me consumiam e ardiam dentro de mim.

Falei tanta coisa, tanta que nem me lembro mais, mas o tema era recorrente: vi-me, novamente, a lançar-Lhe em rosto Suas promessas que nunca chegavam, que nunca aconteciam, que nunca se cumpriam.

Após vários minutos de discussão silenciosa, de um monólogo passivo, onde disse tudo o que estava em meu coração que, se fosse dito a um amigo comum, a amizade teria encontrado seu fim ali mesmo, terminei minha oração (oração ?) com uma frase meio que debochada e desacreditada:

“bom, Jesus, eu falei tudo o que eu queria te falar, agora, se o Senhor tem alguma coisa que queira me falar, pode dizer. A tua Palavra tá aqui na minha mão (a Bíblia) e, se o Senhor quiser me dizer alguma coisa, estou aqui pra Te ouvir”.

Ridículo, não é mesmo? Um rapaz esclarecido, beirando os 30 anos, formado, no meio do nada, falando para um céu silencioso, tendo apenas por testemunhas as estrelas ou uma outra arara ou marreca-d’água que passava, voando e gritando, segurando um livro de capa preta na mão, apontando pro céu e bramando:

Responda, Deus, se tiver coragem! Se fosse outro me contando isso, eu poderia muito bem dizer: “tá faltando um grau para o hospício e sobrando outro para a besteira“.

Então, como quem não quer nada, abri a esmo o livro da capa preta, para achar, entre as folhas brancas, salpicadas de uma negra tinta, as seguintes palavras, que caíram como uma bomba em meu já despedaçado ânimo infantil:

Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa. O SENHOR me respondeu e disse:

Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Habacuque 2. 1-3

Se avançamos, vencemos nossos limites. Se desistimos, perdemos para nós mesmos. Nesta corrida da vida, somos eu contra mim mesmo, ou eu me venço ou eu me perco.

Levantei e fui ler a Bíblia, na leitura devocional matinal. Sabe qual era a leitura programada do dia?

Por que, pois, dizes, ó Jacó, e falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao SENHOR, e o meu direito passa despercebido ao meu Deus?

Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento.

Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam. Isaías 40.27 a 31

Não desista. Os anos que morei naquela casinha de madeira ajudaram a moldar meu caráter e foram importantes para me capacitar para estar onde estou hoje, em um dos melhores órgãos do país, na capital federal.

É o que sempre costumo dizer: se eu consigo, qualquer um consegue, se não desistir.

Deus te abençoe.

Soli Deo gloria.

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