Voz da Rede Quintessência

Será que estamos fazendo os projetos certos?

Quantas vezes nos perguntamos se nossas ações estão de fato trazendo transformação social, ou até mesmo nos perguntamos por que o nosso público-alvo não se engaja em nossas iniciativas. A resposta para grande parte das nossas dúvidas vem a partir do seguinte questionamento: "Qual a causa raiz do problema que estamos querendo resolver?”.

Tive a oportunidade de participar da Incubadora de projetos sociais da Quintessência Consultoria, onde tínhamos como desafio trabalhar com uma temática que grande parte da nossa equipe não possuía familiaridade ou conhecimento. Tínhamos que trabalhar com a manutenção e fortalecimento da língua nativa Patxohã do povo Pataxó. Todos os membros da equipe possuíam muito conhecimento técnico e força de vontade de fazer o projeto acontecer, porém, o que de fato fez o desenho do projeto se iniciar foi contarmos em nossa equipe com uma liderança do Povo Pataxó, que nos ensinou muito sobre sua cultura, quais eram seus desafios e sonhos e a cada encontro, com muita calma, nos trazia as belezas do seu povo.

Quantas vezes quando desenhamos um projeto social, envolvemos líderes comunitários no processo de construção? Será que estamos ouvindo os nossos beneficiários ou estamos sentados em nossos escritórios confortáveis apenas imaginando e julgando o que é ou não é bom para o público-alvo que será impactado pela nossa iniciativa?

A fase de Identificação do problema é uma das mais importantes para o processo de desenho do nosso projeto, pois é nessa fase onde entendemos realmente o que os beneficiários do projeto sentem e quais são as causas que geram aquele problema social que estamos querendo resolver. É o momento de conexão, de criar relações sólidas com quem vamos trabalhar e, para isso, a habilidade mais preciosa que nós precisamos possuir é a escuta ativa, é nos despir dos nossos achismos e escutarmos aqueles que estão diariamente passando pelo problema, pois muitas vezes eles já possuem ideia de qual a solução. Um projeto de sucesso começa com o entendimento do problema que precisa ser resolvido.

A ferramenta “Árvore do Problema” é utilizada na análise de estado atual que nos permite entender com profundidade qual a causa raiz do problema estudado e, consequentemente, quais são os efeitos gerados por esses problemas. Para essa ferramenta ser preenchida com sucesso, ela precisa ser participativa e envolver diferentes partes interessadas do projeto, e acima de tudo, é uma ferramenta viva. A cada dia, você descobre informações novas que podem enriquecer ainda mais sua percepção do problema e, então, melhorar seu entendimento sobre o assunto.

Aqui fica o convite para olharmos para as nossas ações e pensarmos: será que sabemos realmente qual o problema que estamos resolvendo e será que estamos realmente atacando a raiz do problema? Ou estamos apenas trabalhando de maneira superficial, de forma a não gerar transformação e sim com ações que inflam o nosso ego e nos fazem pensar que estamos salvando o mundo.

Precisamos ouvir aquele que vive no território, precisamos de fato entender o que eles sentem, avaliar constantemente se o que fazemos hoje ainda é o melhor para os nossos beneficiários, e utilizar ferramentas que nos ajudam a sistematizar essas informações, é o nosso papel como gestoras e gestores de projetos sociais e humanitários.

Sabrina Souza

Acredita no poder das micro revoluções e que todos podem mudar o mundo, basta começar com o seu entorno. Apaixonada por empreendedorismo social e projetos sociais é certificada pela PM4NGOs como gerente de projetos sociais e humanitários. Atualmente atua como Gerente de Parceiras e Inovação na Enactus Brasil , é graduada em Engenharia Química e Gestora de Negócios pelo Instituto Mauá de Tecnologia.