Vulnerabilidade: a hora de tirar a máscara
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Vulnerabilidade: a hora de tirar a máscara

Há uma necessidade cada vez maior de as pessoas se permitirem ser mais vulneráveis no ambiente de trabalho. Menciono o ambiente de trabalho, porque tradicionalmente esse continua sendo o local em que todos nós tendemos a nos mostrar infalíveis. Por uma questão cultural, muitos de nós ainda entendemos que ser competente significa não errar. É um pensamento que tem lógica, mas que esconde em si uma armadilha fatal: os profissionais trabalham para ocultar os seus erros, quando deveriam expô-los para que todos possam aprender com eles.

É interessante porque muito se fala sobre empresas e culturas corporativas que abraçam o erro e que o entendem como parte natural do processo de inovação e de encontrar novas formas de se atingir os resultados, mas a verdade é que de nada adianta uma cultura que acolhe o erro, se antes a vulnerabilidade não for trabalhada nas pessoas que vivem essa cultura.

Estando há 19 anos no mercado de comunicação corporativa, eu vejo que a vulnerabilidade é pouquíssimo praticada entre os profissionais dessa área. Isso porque, normalmente, o profissional de comunicação ocupa um papel muito claro de consultor. Ou seja: em meio ao caos e à tragédia, é ele quem deve dar as respostas. É ele quem precisa dizer para onde ir, o que fazer e como lidar com a situação de crise; de conflito; de vulnerabilidade da própria empresa. E normalmente lhe é dado pouco tempo para refletir e ponderar; é dado pouco tempo para que ele se olhe no espelho e diga: “eu não sei o que fazer”.

 Acontece que sem enfrentar essa realidade de frente – a do não saber – você recorre sempre às mesmas respostas. É mais fácil apelar às velhas fórmulas, já comprovadamente eficazes, do que tentar criar novas maneiras de se lidar com determinadas situações. Nesse aspecto, vulnerabilidade não tem apenas a ver com acolher o erro, mas sobretudo está relacionada com acolher a falta de uma resposta imediata. A pesquisadora social, Brené Brown, explica que o maior obstáculo à vulnerabilidade é aquilo que chamamos de vergonha. E, ainda segundo ela, vergonha nada mais é do que o medo da desconexão. Ou seja: eu tenho medo que, ao me expor, ao admitir minhas fraquezas, eu não seja mais aceito pelo grupo do qual faço ou quero fazer parte.

Vamos pensar no seguinte cenário: presidente da empresa convoca uma reunião emergencial. Todo o board da companhia, do qual você faz parte, está numa sala – presencial ou virtualmente – e é preciso criar um plano de contingência para lidar com uma situação com a qual você nunca lidou antes em sua carreira. Você está há pouco tempo na companhia e ainda está na fase de construção das suas relações profissionais; da sua reputação; da forma como as demais pessoas da empresa enxergam você. Chega a sua vez de se manifestar com relação ao problema sendo discutido e a verdade é que você não sabe ao certo o que fazer para efetivamente resolver o problema. Há um grande espaço em branco na sua mente que não o faz se sentir confortável para propor uma solução de imediato. Como você lida com essa situação? Você preenche a lacuna com uma resposta adaptada de experiências anterioes; ou você admite não saber como lidar com o problema, de imediato, e pede mais tempo para propor uma solução?

Vulnerabilidade é um ato de coragem. Mais do que isso: é um ato de amor próprio; de empatia com você mesmo. Mas normalmente ela não é bem-vinda, principalmente entre profissionais mais experientes e em posição de liderança. E é por isso que muitos profissionais já rodados estagnam; param de crescer e de aprender; porque param de admitir que não sabem algo. Nos meus anos em agências de comunicação, eu convivi com muitas marcas que tinham o discurso da vulnerabilidade cultural, mas que na prática não a executavam. Isso porque, como tudo dentro de uma empresa, a vulnerabilidade não é um processo; ela é uma decisão individual. E, como sempre, precisa vir de cima. Um líder que não é vulnerável, nunca terá uma equipe capaz de entender o poder que existe em baixar a guarda e ser vulnerável.

A vulnerabilidade antecede a criatividade. Antecede a alegria. Antecede o pertencimento. Mas acima de tudo, ela antecede o amor. A gente fala tanto sobre construirmos empresas que as pessoas amem estar. Falamos tanto sobre propósito. Mas como isso tudo poderia ser possível sem um lugar no qual as pessoas se sintam seguras o bastante para serem elas mesmas? Para errar; para admitirem sua ignorância e perplexidade diante do novo? Simplesmente não é possível.

Se tem algo que 2020 possa ter nos ensinado de bom, esse algo é a vulnerabilidade. É abraçar o imperfeito. Saber lidar com a incerteza. E, por fim, nos permitir sermos vistos. De verdade. No ano em que nossas faces mais estiveram cobertas, a lição mais valiosa é essa: ponha sua máscara sobre a mesa.

É hora de você se expor.
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Para mais sobre vulnerabilidade, comece assistindo esse TED Talks com Brené Brown, pesquisadora social e autora dos livros A Coragem de Ser Imperfeito e A Arte da Imperfeição.


Beia Carvalho

Palestrante Futurista | Inovação, Futuro, Gerações Conferencista | Speaker @5 Years From Now®

4 a

Parabéns pelo artigo. A Brene Brown levantou esse ponto da vulnerabilidade e trouxe à luz tantas coisas outras! Enquanto não entendermos a coragem e os benefícios que existem ao reconhecermos as nossas vulnerabilidades, estaremos repisando o século 20, achando que estamos indo para o futuro.

Daniela Teixeira

Diretora de Contas na JeffreyGroup

4 a

Incrível artigo, Thi! Somos todos vulneráveis e não há nada de errado em assumir e aceitar. O ambiente corporativo é, de fato, difícil de lidar e muito competitivo... nós acabamos escondendo por medo de perder espaço ou de ser taxado como um profissional fraco. Mas também cabe a nós começar a mudar e puxar essa reflexão. Eu tento sempre ter conversas francas com meu time e refletir que está tudo bem. Em algum momento, não vamos saber o que fazer e nem teremos as respostas... mas é por isso que estamos juntos ali!

Douglas Gomides

Nº 1 na Creator Economy na Área da Saúde no Brasil | Inteligência Artificial | Empreendedor | Mentor de Negócios | LinkedIn Top Voices | Digital e Mídias Sociais | Palestrante | Área Médica e Farmacêutica | Lançamento

4 a

Muito bom artigo, meu amigo. Ser vulneravel cria conexões e esse momento isso tem sido mostrado cada vez mais. Como será o novo mundo, né?

Regiane Zanatta

Gestão em Comunicação | Marketing |

4 a

Texto claro e necessário. Compartilhei com o meu time, mas acima de tudo, me fez pensar que sim podemos ser vulneráveis e aceitar a vulnerabilidade do outro, ainda muito dificil no campo profissional. Confesso. Obrigada pelo conteúdo relevante em meio a tantos mais do mesmo -- do mercado. Abraços.

Michele Fardini Soares - Tradutora EN-PTBR

| Tradução | Revisão e edição | MTPE | Localização | SEO | IA | Engenharias | Saúde | MKT | IT | Jurídica | Eletrônica | Estudante de Interpretação

4 a

Eu admiro e sou aderente à essa nova visão de empresa: onde se tem orgulho de pertencer e onde se trabalha por um propósito. Eu trabalhei por imã empresa onde o diretor dizia estar ali por um propósito e não por um salário. Mas, ao saber de um erro (com o qual muitas lições poderiam ser aprendidas) de um funcionário nem tão próximo, não pensou duas vezes, mandou que fosse demitido pelo erro cometido. Acho feia essa propaganda de “faça parte e se errar vamos guia-lo e aprender com isso” sem realmente praticar. Isso desmotiva e amedronta as pessoas. Já li uns dos livros da Brené Brown e concordo com você, mostrar nossas vulnerabilidades é coragem e amor a si mesmo. Mas ainda se paga um preço alto por ser autêntico.

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