Vulnerabilidade na Liderança
Assistir ao famoso discurso de Martin Luther King – “I Have a Dream” – é uma bela experiência. Em um momento crucial da história americana, sua fisionomia compenetrada, o peito aberto, a emoção em sua voz transmitiram a autenticidade e a coragem típicas de um líder conectado com o seu público. Não por acaso, sua atuação à frente do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, em 1955, foi determinante para a conquista do Prêmio Nobel da Paz, de 1964.
Comandar uma empresa é diferente de estar à frente de um movimento social, é verdade. Ainda assim, essas duas esferas de atuação guardam pontos em comum no tocante à liderança, sendo um deles a necessidade de uma conexão genuína entre o líder e os liderados. E não basta ser uma conexão meramente formal, restrita ao cargo que ocupam na organização. É preciso um vínculo humano, antes de tudo. Um elo invisível formado pelo respeito, pela admiração e pela autoridade moral que o líder desperta nos demais.
Existe uma força capaz de estabelecer a conectividade entre as pessoas, ainda que a palavra que melhor defina essa força possa soar dissonante àqueles que concebem a liderança dentro de uma visão rígida, unilateral e intransigente. A palavra é “vulnerabilidade”. Segundo uma das maiores autoridades no assunto, a pesquisadora norte-americana Bené Brown, nós, seres humanos, geralmente acreditamos termos algo que, se as pessoas descobrirem, fará com que achem que não merecemos conexão. Disso, decorre a vergonha, o sentimento de não ser bom o suficiente naquilo que fazemos. A base dessa mentalidade é uma “vulnerabilidade dilacerante”, algo que consideramos difícil de mostrar, mas sem o qual é impossível estabelecer relações profundas.“Para que a conexão aconteça, é preciso sermos vistos”.
Em suas pesquisas, Bené descobriu que as pessoas com maior senso de merecimento de conexão são aquelas que têm a coragem de serem quem são – e não quem pensam que deveriam ser – a despeito de suas imperfeições. Ou seja, a primeira conexão sempre acontece consigo mesmo. Admitindo quem são, as pessoas se tornam mais autênticas e dessa autenticidade provém o vínculo com os outros. Segundo a pesquisadora, aquilo que nos torna vulneráveis é também aquilo que nos torna belos. Pessoas, quando ágeis emocionalmente, demonstram maior fluidez para a vulnerabilidade. Quanto mais se exercita a agilidade emocional maior o mergulho no poder de ser vulnerável.
No controle, sem ser controlador
Ser vulnerável também é libertar-se da necessidade de prever tudo e de estar sempre no controle. O líder vulnerável não abandonará os processos, os planejamentos e as metas, critérios sem os quais uma empresa não pode prosperar. O controle referido é outro, no sentido humano da expressão, quando se deixa de representar um papel artificial diante da equipe para estabelecer um relacionamento verdadeiro com ela, sem medo de revelar os próprios sentimentos, sem jogos, sem o medo de correr o risco de investir em relacionamentos que podem não funcionar. Enfim, estar no controle do processo empresarial não é ser um líder controlador.
As pessoas geralmente anestesiam a vulnerabilidade por medo de não serem boas o suficiente. Agindo assim, consegue-se anestesiar os sentimentos degradáveis, mas também os bons sentimentos, deixando um buraco no lugar. Para cobrir esse buraco é que surgem as posturas controladoras, de autoritarismo e de perfeição artificial, comuns no ambiente empresarial. Uma falsa fortaleza, que encobre a insegurança emocional de uma criança ferida. Por isso, ao contrário do que possa parecer, “vulnerabilidade” não é sinônimo de fraqueza, mas sim de força. Primeiro uma força pessoal, de quem tem coragem de se aceitar tal como é e, segundo, por possibilitar uma conexão autêntica com aqueles que determinam o sucesso do líder.
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Resistências à vulnerabilidade
Como defesa psicológica, costuma-se erguer muralhas contra a vulnerabilidade. “O que a minha equipe pensará de mim se souber que eu errei?” Essa mentalidade apresenta dificuldade de admitir quando não há resposta para determinado problema ou questionamento. É mais fácil se esconder na figura do “sabe tudo” do que enfrentar a situação com humildade. O gestor nesses casos tem o perfil de focar apenas nos seus conhecimentos, conquistas e experiências, além de querer dar conta de tudo sozinho e tentar sempre se mostrar superior aos demais. Mas esse tipo de postura atrasa a solução de problemas, cria ruídos e antipatias, atrapalhando a eficiência da empresa. Por outro lado, quem abraçou a vulnerabilidade, reconhece suas forças e também suas limitações, pois pratica o autoconhecimento e não se sente inseguro quando precisa de ajuda. Ele também não terá receio de encarar conflitos, com respeito às naturais divergências, uma vez que deles podem surgir ideias construtivas.
A arte de ser autêntico
O líder que se abre à vulnerabilidade não tem medo de olhar para dentro si, tanto porque sabe que ali se encontram os seus tesouros internos quanto porque não adianta fechar os olhos para os próprios defeitos.
É bom que a equipe conheça a história do líder, suas conquistas, suas experiências, mas também suas inseguranças, seus conflitos. Dividir as alegrias, os bons resultados, as empolgações e também as preocupações é ser vulnerável. É ser humano! Quer você é sem o crachá? É essa a pessoa real que está à frente da equipe, motivando, atribuindo tarefas, suando a camisa.
Para construir uma relação de confiança, é preciso confiar. Para confiar, é preciso aceitar o grau de risco inerente a toda relação humana. Reconhecer os méritos de outrem quando justo for e não fugir das conversas difíceis. Nada como criar um círculo de confiança em sua esfera de atuação, dentro do qual as pessoas se sintam à vontade para darem o seu melhor, seguros de que terão o feedback adequado. Para isso, é preciso que todos se abram para a vulnerabilidade. E o primeiro exemplo é sempre o do líder.
E você? Está se permitindo fluir a vulnerabilidade?
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2 aQué gran artículo Fer 💙 La autenticidad es algo que nunca debe perder y toma mucho coraje serlo 24/7 aunque parezca sencillo. Y solo se logra ser auténtico, siendo vulnerable.
Managing Partner | Executive Search | Tech & Digital Recruitment | Career Advisory | Speaker
2 aExcelente artigo, Fernanda! liderar é a busca constante por fazer o melhor para o próximo.
Head of CX @ Involves
2 aMuito importante e excelente conteúdo!
Consultor Funcional SAP FI
2 aMuito bom, Fernanda!
Tech Recruiter | Headhunter | Talent Acquisition | Analista de RH | R&S | Gestão de Pessoas e Processos
2 aMuito bom Fernanda Daniel!! Estou nesse processo de preparação para liderança e seu artigo me norteou e abriu minha mente!! Gratidão e Sucesso!!