ZONA DESMILITARIZADA para Inovação Corporativa
Fotografia: www.s4photo.co.uk | Marcos Semola

ZONA DESMILITARIZADA para Inovação Corporativa

Meu lastro profissional em consultoria combinado com a vivência corporativa e executiva em empresas multinacionais agora se misturam com o ambiente de inovação, o ecossistema de startups e de investimentos anjo.

É visível o distanciamento entre esses dois mundos por motivos quase óbvios. Enquanto de um lado temos uma organização hierarquizada, do outro vemos grande linearidade. Enquanto de um lado temos processos e métodos detalhados e forjados por décadas de atividade, do outro vemos ferramentas de ensaio ágeis e uso simples. Enquanto de um lado vemos frameworks robustos de gestão de projetos, do outro temos uma máquina de hipóteses, testes e erros em loop e de fluxo continuo.



Estaremos sendo ingênuos se acharmos possível transplantar o modelo mental das startups para as corporações. A coisa não acontece assim, mesmo que dentro das corporações já exista vontade de mudar, seja por uma visão estratégica, seja pelo simples medo iminente da ruptura provocada por novos e leves entrantes. Mas nem tudo está perdido e as corporações ainda podem iniciar um movimento de transformação digital de forma organizada. 

“É fundamental começar bem o processo de transformação, e a melhor maneira de fazê-lo é criando espaço para pensamentos novos.”

O primeiro e mais importante passo está ligado ao entendimento dos líderes de que estudar e compreender o novo contexto socioeconômico em que a empresa opera é chave para avaliar a velocidade e profundidade exigidas para a introdução da mudança. Mudar pode significar muitas coisas e assumir formas bem diversificadas, e um dos grandes erros a ser evitado a todo custo é acreditar que mudar implica simplesmente em adquirir e implementar novas tecnologias.



Mudar a forma como um negócio processa matéria prima, gera valor, conquista clientes e entrega sua promessa deve requerer uma anamnese integrada e top-down. Esse estudo pode revelar potenciais pontos de mudança bem abrangentes e que se iniciam na revisão do próprio posicionamento da empresa, da sua missão, sua proposta de valor, seus processos de gestão, processos de criação e processos produtivos, podendo chegar até a um simples componente de um de seus produtos e serviços. 

“O Conselho de Inovação precisa ter legitimidade e patrocínio da liderança ... e com definição dos indicadores de desempenho igualmente importantes para o business score card.”

Transformar um negócio não significa, necessariamente, ter que reescrevê-lo por inteiro. Nem tão pouco significa introduzir apenas inovações disruptivas e ignorar as inovações incrementais. Na prática, a mudança pode estar em um único nó, mas também pode estar em todos eles, e só um estudo adequado vai revelar o tamanho do desafio de cada indústria, de cada mercado e de cada empresa.


É fundamental começar bem o processo de transformação, e a melhor maneira de fazê-lo é criando espaço para pensamentos novos. É considerada uma boa prática estabelecer um Conselho de Inovação que tenha legitimidade e patrocínio da liderança, a começar pela definição de sua autonomia, orçamento, suporte ao desvio total ou parcial de função de seus membros, e a definição dos indicadores de desempenho igualmente importantes para o business score card. Deve ser composto por gestores chave, comumente das áreas de recursos humanos, tecnologia da informação e novos negócios, preferencialmente liderada por este último, que trabalhará com os demais para delimitar o espaço de inovação a que me referi anteriormente e que convencionei chamar de Zona Desmilitarizada para Inovação, a exemplo do conceito de DMZ para ambientes de TI. Conceitualmente a IDMZ deve funcionar como um espaço neutro, ligado à empresa, porém autônomo o bastante para ousar, pensar diferente, experimentar, errar e acertar, e assim construir hipóteses e proposições que possam conduzir a transformação da empresa através de insights de inovação.

Além disso, o conselho deverá estabelecer seus próprios processos de funcionamento, frequência das reuniões, fluxo de informação, planejamento, priorização, aprovação e execução de pequenas ações, além da entrega de projetos maiores. Seu objetivo deve estar claro e ligado ao fomento das ideias, ao desenvolvimento de alternativas, à pesquisa de mercado, ao monitoramento da concorrência, e ao estudo global de tendências com conexão direta às áreas de P&D, principalmente canais externos. É justamente esse o ‘Calcanhar de Aquiles’ da grande maioria das empresas que começa bem o processo, mas se depara com a incapacidade de olhar para fora. É natural. A sensação de domínio sobre o seu escopo de operação por décadas e o receio de revelar suas fraquezas a qualquer agente externo as fazem temer a nova exposição. Têm medo de perder uma hegemonia técnico-comercial que, na prática, já está ou estará sendo perdida em pouco tempo em função da transformação digital hoje já experimentada pelo mundo.


“Conceitualmente a Zona Desmilitarizada para Inovação (IDMZ) deve funcionar como um espaço neutro, ligado à empresa, porém autônomo o bastante para ousar, pensar diferente, experimentar, errar e acertar, e assim construir proposições e hipóteses que possam conduzir a transformação da empresa através de insights de inovação.”

Uma vez que a empresa vença a barreira do medo e resolva se abrir e estabelecer a entidade do Conselho de Inovação, ela precisa garantir a conexão com o mundo exterior através de uma ‘ponte de inovação’ na figura de um conselheiro externo mentor-especialista em transformação digital, e que tenha assento no conselho para não apenas se debruçar sobre o problema, mas também para trazer oxigênio novo, visões diferenciadas, ferramentas e principalmente a intimidade com o ecossistema de inovação e startups que será fundamental para elaborar cada passo do novo caminho.


 “As empresam precisam abrir as portas para a inovação entrar.” 

Estrategicamente, o Conselho de Inovação, além de guardião da Zona Desmilitarizada para Inovação (IDMZ), precisa liderar as discussões e ações dentro dos seguintes domínios:

1.    Compreensão do Posicionamento Atual e Tendências de Transformação Digital

2.    Alinhamento da Liderança para o Proposito da Transformação

3.    Mapeamento de Talentos e Liderança Digitais Internas para o Conselho

4.    Estímulo e Desenvolvimento da Cultura Interna de Inovação

5.    Conexão Inicial com o Ecossistema de Startups para Parcerias e Investimentos

6.    Estímulo e Alavancagem através do Ambiente Externo de Inovação

7.    Validação, Lançamento e Aceleração de Ideias através de Agentes do Ecossistema

8.    Estratégia de Priorização e Incorporação de Inovação no Ciclo de Transformação

Em linhas gerais, o conselho precisa gerir a IDMZ para ser capaz de estimular, avaliar, priorizar e desenvolver ideias internas produzidas por ações corporativas e ideias externas produzidas pela parceria com os agentes do ecossistema de startups de tal forma, que os resultados possam representar não apenas oportunidades de inovação e transformação digital, mas possivelmente diferenciais competitivos capazes de preservar o valor atual do negócio, assim como abrir um novo conjunto de oportunidades de desenvolvimento dentro da perspectiva do novo contexto socioeconômico.

Não se constrói o futuro apenas sonhando com ele. É preciso, cada vez mais, se antecipar às tendências e mudanças para que haja tempo suficiente para introduzi-las, tornando-se um protagonista da Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0.



Nota: compartilhar informação é parte do processo de construção do conhecimento coletivo, e por causa disso, você é encorajado e está autorizado a reproduzir este material com uma única exigência: indicar explicitamente a fonte. Boa leitura.

Marcos Semola é Computer Science BSc, Especialista em Segurança: governança, risco e conformidade e Transformação Digital, MBA em Tecnologia Aplicada pela FGV, Pós-Graduado em Disruptive Strategy por Harvard, Mestrando em Inovação pela HEC Paris, Executivo de Tecnologia da Informação (ex-Shell), Professor da FGV, escritor, palestrante, Vice-Presidente de CyberSecurity do Instituto SmartCity, Diretor do Founder Institute - o maior programa de lançamento e pré-aceleração de startups do mundo, mentor de startups, empreendedor e investidor da Anjos do Brasil. www.linkedin.com/in/semola | www.marcossemola.com

 

 

 

   

 

Marcos Semola

Managing Director @ Accenture US ◦ Security Consulting Lead ◦ Board and CISO Advisor ◦ GRC Expert ◦ MBA Professor ◦ STEM Mentor

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Jonatas J. Correa (JJ)

Gerente de Tecnologia - Latam Core Banking / Money Transfers & Accounts Services

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Adorei Marcos! Parabéns pelo post.

Marcos Semola

Managing Director @ Accenture US ◦ Security Consulting Lead ◦ Board and CISO Advisor ◦ GRC Expert ◦ MBA Professor ◦ STEM Mentor

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Ricardo Mota dá uma olhada...

Marcos Semola

Managing Director @ Accenture US ◦ Security Consulting Lead ◦ Board and CISO Advisor ◦ GRC Expert ◦ MBA Professor ◦ STEM Mentor

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