• Nathália Armendro
Atualizado em

O tão desejado positivo no teste de gravidez veio! E com ele muitas dúvidas, inseguranças e, claro, uma enxurrada de mudanças físicas e emocionais, nem sempre esperadas.

Para ajudar você a entender todas as transformações dessa jornada, trimestre a trimestre, conversamos com uma série de especialistas que defendem a importância de um olhar multidisciplinar sobre a mulher. Saiba quais são os cuidados necessários em cada etapa da gravidez, quais transformações esperar nos meses que se seguem e como se preparar da melhor forma para a chegada do seu bebê.

O primeiro trimestre

Esse é o período compreendido geralmente até as 13 semanas de gravidez, e é o momento de formação do bebê - por isso é fundamental o cuidado da mãe com a alimentação e o não consumo de bebidas alcoólicas. Também é o momento de iniciar o pré-natal.

Exames do primeiro trimestre podem rastrear doenças de controle importante para a saúde da mãe do bebê (Foto: Pexels)

Exames do primeiro trimestre podem rastrear doenças de controle importante para a saúde da mãe do bebê (Foto: Pexels)

“É fundamental realizar todos os exames iniciais do pré-natal, porque alguns diagnósticos acontecem nessa fase. É possível avaliar diabetes, tireoide, hipertensão, e quanto mais precoce for o diagnóstico, melhor será o controle”, explica a obstetra e ginecologista Larissa Cassiano, da Clínica Theia. É também nesta etapa que é feito o ultrassom morfológico do primeiro trimestre, em que várias condições da saúde do bebê podem ser avaliadas, como o risco de síndrome de Down. “Se tiver alguma alteração, mais investigações podem ser feitas", explica o também obstetra Alberto D'Auria, do Hospital e Maternidade Pro Matre.

A barriga geralmente ainda não aparece, mas já é possível identificar mudanças no padrão de sono, sentir cólicas, enjoos, seios doloridos e oscilações de humor. Por isso, é normal se sentir um pouco confusa. Observar como está a aceitação da mulher com relação à gravidez - como ela se sente ao ceder espaço do próprio corpo para outro ser - é bastante importante e, aqui, pode ser interessante contar com acompanhamento psicológico.

“O desejo de engravidar vem com muitas fantasias e elas geram expectativas, principalmente quando esse processo leva algum tempo. Já no início da gravidez, alterações hormonais impactam o dia a dia e, inevitavelmente, esse vira um momento de reflexão: será que vou dar conta? Mesmo tendo sido um bebê desejado e planejado”, explica a psicóloga perinatal Allana Pezzi, do Centro de Medicina Integrativa do Pro Matre.

O primeiro trimestre é também um ótimo momento para começar a ler e se informar sobre os tipos de parto, qual tem mais a ver com você, e é possível ainda iniciar o seu preparo para o tão intenso e temido puerpério. "O pós-parto será diferente para cada mulher, mas se ela se cerca de informações, entra em contato com o que pode acontecer, ela consegue organizar uma rede de apoio para atravessar esse período mais tranquila", defende a especialista.

Da descoberta da gravidez até o fim da gestação, os cuidados com a alimentação também são importantes. Por isso, é recomendado que a futura mãe coma pouco em cada refeição, várias vezes ao dia, e dê preferência a alimentos com alta densidade nutricional. Alimentos muito processados, com excesso de açúcar ou corantes, também devem ser evitados ao máximo durante toda a gestação. O cigarro, claro, também está entre as restrições durante a gravidez.

A nutricionista Lais Hess, da Theia, explica que cada período da gestação tem demandas diferentes de nutrientes, que podem mudar conforme as necessidades de cada mulher. No primeiro trimestre, em geral os destaques são o ácido fólico (presente em vegetais verde-escuros, leguminosas como feijão, grão de bico e soja, além de castanhas); a vitamina B12 (encontrada principalmente em carnes, ovos, leites e derivados); o iodo (em peixes, leites e derivados); e a vitamina D (Ovos, leite, carnes e peixes). “Não basta só consumir a vitamina D, é necessário também tomar sol para absorver a vitamina”, ressalta a nutricionista.

Também é preciso ter cautela ao ingerir alimentos crus, como ovo com a gema mole e carne mal passada, além de sempre higienizar bem os vegetais, para evitar contaminação. Leite não pasteurizado também pode ser fonte de contaminação.

E as atividades físicas? Estão liberadas? O preparador físico Felipe Silva explica que é importante que a gestante passe em consulta com o obstetra antes de começar a fazer exercícios, para que sua condição de saúde seja avaliada. “A gestante estando bem, o programa de exercícios pode ser mantido do começo até o final da gestação. Mas esse treino tem que estar voltado às necessidades dela, com as recomendações e limitações exigidos pela gestação", pontua.

O segundo trimestre

No segundo trimestre, período compreendido entre as 14 e as 27 semanas, as mudanças corporais da mulher já são mais visíveis: a barriga começa a aparecer, os desconfortos tendem a cessar, ela já sente o bebê mexer (em geral a partir de 20 semanas), e consegue se concentrar nas providências para a chegada do bebê. “Os órgãos do bebê começam a funcionar. Ele começa a desenvolver a musculatura, os ossos e a parte auditiva. O nível de hormônios que causam desconforto começa a cair, então, sintomas como cansaço e alteração no humor tendem a diminuir e a mãe começa a se sentir um pouco mais disposta", explica a ginecologista e obstetra Carla Delascio, do Centro de Medicina Integrativa do Hospital e Maternidade Pro Matre.

Essa é também, na visão da obstetra Larissa Cassiano, uma fase de conexão entre mãe e bebê. "É a fase de começar a pensar no parto. Pensar no local onde ela deseja ter o seu bebê, avaliar se a equipe que a está acompanhando tem ideias semelhantes às dela, e hora também de buscar uma doula, caso ela deseje ter esse acompanhamento na gestação, parto e pós-parto", diz.

Neste trimestre, um novo ultrassom morfológico irá verificar se há alguma alteração no desenvolvimento do bebê. É também neste momento que o sexo do bebê geralmente consegue ser visto na ultrassonografia. Com 24 semanas, entra ainda a investigação da saúde cardiológica do bebê, segundo explica Alberto D'Auria.

Com as mudanças físicas mais evidentes, um outro profissional pode entrar em cena: o fisioterapeuta obstétrico. O olhar para a musculatura pélvica - tão exigida durante a gravidez - pode ajudar a aliviar os desconfortos físicos nesta etapa da gestação e, mais adiante, será fundamental para o preparo para o parto. “Não existe uma receita de bolo que funcione para todas as mulheres. A partir do seu histórico, vamos avaliar se ela precisa fortalecer a região do assoalho pélvico ou relaxar aquela musculatura. E já conseguimos trabalhar posturas específicas e condicionamento cardiorrespiratório”, explica a fisioterapeuta obstétrica Pamella Ramona, que também atua no Centro de Medicina Integrativa do Pro Matre.

Exercícios como pilates e yoga são bem-vindos durante a gravidez (Foto: Pexels)

Exercícios como pilates e yoga são bem-vindos durante a gravidez (Foto: Pexels)

Também é hora de se manter ativa, mas lembre-se de que a gravidez não é o momento de iniciar novas práticas de exercícios, e esportes com risco de queda devem ser evitados. Algumas das atividades recomendadas durante a gestação são ioga, pilates, natação, caminhada, musculação e bicicleta ergométrica. “A bicicleta convencional, porém, não é recomendada, porque envolve risco de queda”, destaca o preparador físico da Theia, Felipe. Outro alerta é com relação à corrida: “Quando não é bem controlada, pode aumentar muito a temperatura corporal”.

E é importante seguir atenta à alimentação. No segundo trimestre, além de todos os nutrientes fundamentais nos primeiros três meses da gestação, vale também caprichar no ferro (encontrado em carnes, vegetais verde-escuros e leguminosas); Ômega 3 (em peixes como salmão e sardinha, castanha, sementes de chia e de linhaça); Vitamina A (presente na gema de ovos, leite e derivados e vegetais alaranjados como cenoura, abóbora, manga e mamão); e Cálcio (achado no leite e derivados, vegetais verde-escuros, leguminosas e gergelim).

O terceiro trimestre

Das 28 semanas em diante, a mãe vive a ansiedade pela chegada do seu bebê. E, novamente, pode haver um conflito: meu corpo já está adaptado, estou animada para conhecer meu filho, mas será que estou preparada? "A mulher costuma sentir a volta dos questionamentos do início, uma grande ansiedade e o parto é o grande momento, o auge, a chegada do bebê. A hora de sair da fantasia, do sonho, e o encontro com o bebê real", explica a psicóloga Allana Pezzi.

Terceiro trimestre: o encontro com o bebê se aproxima (Foto: Pexels)

Terceiro trimestre: o encontro com o bebê se aproxima (Foto: Pexels)

Entre tantas mudanças, o olhar para a mulher de forma integrada, segundo o obstetra Dr. Alberto d'Áuria, é tão importante nesta etapa quanto os protocolos de saúde em si. "Olhar a mulher como um todo, escutar, compreender o que ela sente, tudo isso é importante para apoiá-la nesse rito de passagem, que é talvez a maior transformação por que a mulher vai passar em sua existência. É preciso escutar o grito do corpo, da mente, olhar para ela com mais atenção, e usar todos os recursos possíveis para dar conforto a ela"

É também tempo de finalizar o pré-natal. "É o momento de confirmar alguns exames de sangue, ultrassom, manter um bom controle da saúde da mãe e do bebê, e focar também em uma rotina mais tranquila, com descanso, boa qualidade de sono, para que ela possa estar preparada para o parto", diz Larissa Cassiano.

Fisicamente, a mulher já costuma sentir dores nas costas, está mais pesada, pode sentir inchaço nas pernas, além da sensação de falta de ar, devido ao volume abdominal. O bebê, por sua vez, já está totalmente formado e em crescimento. “A mãe começa a sentir azia. Nessa fase, aconselhamos a comer em menor quantidade, porém mais vezes, para que o estômago não fique muito cheio, o que causa piora nessa sensação de azia”, diz a Carla Delascio, que é pós-graduada em nutrologia. A médica explica ainda é importante que a mãe consuma, no terceiro trimestre, alimentos de alta densidade nutricional, ricos em ferro e complexo B, por conta da perda de sangue que costuma ocorrer no parto. No final da gravidez, a mãe é aconselhada também a consumir frutas e carboidratos, para ter um aporte energético maior para o trabalho de parto.

Também nesta etapa é importante intensificar o trabalho corporal para o parto, com exercícios que alonguem a musculatura perineal, contribuam para a consciência da mulher sobre essa região e auxiliem até com a comum incontinência urinária. "Trabalhamos com posturas que favorecem menores lesões no períneo, respirações e posições para o expulsivo, e nos concentramos ainda mais no relaxamento da região pélvica. A partir das 32 semanas, gosto também de ensinar uma massagem perineal que tem muitos benefícios para o trabalho de parto e a redução no risco de episiotomia", completa a fisioterapeuta Pamella Ramona.

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