• Sabrina Ongaratto
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Descobrir o sexo do bebê tornou-se um grande "evento" na gravidez. Vale tudo: bolos criativos, balões surpresa, fumaças coloridas... E mesmo na pandemia, os chás revelação continuaram de forma online. Prova disso, é que o evento nunca foi tão buscado em sites de pesquisa como no ano passado, segundo dados do Google Trends.

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Muitos laboratórios afirmam que a festa impulsionou a procura pelo teste de sexagem fetal — um exame de sangue com 99% de confiabilidade, que permite descobrir o sexo do feto a partir da 8ª semana de gestação. Pelo ultrassom, por exemplo, isso só é possível por volta da 13ª semana.

Aumento do chá revelação impulsiona procura por teste de sexagem fetal (Foto: Getty)

Aumento do chá revelação impulsiona procura por teste de sexagem fetal (Foto: Getty)

Tendência de crescimento

Segundo a Labi, laboratório de exames de análises que atua nas regiões da Grande São Paulo, Grande ABC e Grande Rio, desde o início da pandemia, a procura pelo teste de sexagem fetal dobrou em comparação ao ano anterior. "A maior procura ainda continua sendo na unidade — cerca de 85% das coletas são feitas de forma presencial —, mas é notável também o aumento da procura pelo teste com atendimento domiciliar, levando em consideração que o cenário pandêmico fez com que muitas pessoas optassem por cuidar da saúde de uma forma mais segura e conveniente para o momento atual", explicou Octavio Fernandes, cofundador e vice-presidente de Operações da Labi.

A Dasa, rede de laboratórios com unidades no Brasil e na América Latina, também confirmou o crescimento. "Houve, de fato, um aumento significativo na realização de exames de sexagem fetal, de 2019 para 2021. Em 2020, houve um crescimento de 51% do primeiro para o segundo trimestre; e 43% do terceiro para o quarto. E em 2021, o aumento foi de 11% do primeiro para o segundo trimestre", informou a assessoria de imprensa à CRESCER.

Segundo a geneticista Michele Migliavacca, gerente da área médica da GeneOne, laboratório de genômica com atuação no Brasil e América Latina, a busca aumentou pela própria difusão de conhecimento sobre o teste e também por uma questão cultural do país, que tem como uma nova tradição os chás revelação. "Com as redes sociais, as pessoas passaram a divulgar mais que fizeram o exame. Além disso, existe uma questão cultural no nosso país, que é descobrir o quanto antes o sexo para poder montar o enxoval", afirmou.

No DB Diagnósticos, laboratório com unidades no Paraná, em São Paulo e em Pernambuco, o aumento — que chegou a 59%, em 2020, se comparado a 2019. "Com o distanciamento social, o chá revelação se adaptou ao formato digital. Amigos e familiares se reuniam virtualmente para acompanhar a descoberta do sexo do bebê", disse Nelson Gaburo, gerente geral da unidade DB Molecular. E, segundo ele, a expectativa é que a procura pelo teste aumente cada vez mais. "Muitas mulheres grávidas ficam ansiosas pela descoberta do sexo do bebê e por isso procuram adiantar o processo", disse.

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Sobre o teste

O teste de sexagem fetal é feito através de uma amostra do sangue da mãe. Segundo a geneticista Michele Migliavacca, da GeneOne, quando o embrião se forma, as mesmas células que formam o corpo do bebê dão origem a placenta. "Se os dois se originaram da mesma célula, tudo é igual. Sabemos que o DNA da placenta cai na corrente sanguínea da mãe, então, partindo dessa lógica, a partir de uma amostra do sangue dela, conseguimos fazer uma análise direcionada para o cromossomo Y. Se ele estiver presente, o teste dará positivo, portanto, é menino. Se não aparece nada, subentende-se que é menina", explicou. "Mas o exame só deve ser feito a partir de oito semanas de gestação. Antes disso, a quantidade de DNA na corrente sanguínea da mãe é muito pequena", alertou.

No caso de gestação de gêmeos, o resultado vale para os dois bebês se forem univitelinos. "Na gestação de bivitelinos é mais complicado, pois o resultado masculino indica que um dos fetos é menino, sem ter a certeza do outro. Se o resultado for feminino, indica que os dois bebês possuem esse sexo", explica Nelson Gaburo, do DB Molecular. 

O valor do teste varia de acordo com o laboratório, mas, em média, pode custar de R$ 200 a R$ 400. "Para realizar o exame não é necessário pedido médico. A gestante precisa apenas estar bem alimentada e hidratada para não passar mal no momento da coleta", completou ele. O resultado demora, em média, de 5 dias a 7 dias para ficar pronto.

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A confiabilidade do teste é superior a 99%, mas não chega a 100%. A geneticista explica: "Isso porque podemos ter, primeiro, uma divergência entre as células do bebê e da placenta. É raro, mas acontece. Existem ainda mulheres que podem ter o cromossomo Y, apesar de não ser comum, como é o caso daquelas que passaram por um transplante e receberam, por exemplo, um rim de um homem. Nesse caso, o órgão acaba soltando o cromossomo Y na corrente sanguínea". Segundo a especialista, apesar de o teste ter uma abordagem atual “recreativa”, ele foi desenvolvido com o objetivo de determinar doenças genéticas que afetam principalmente meninos. "São doenças que afetam, na grande maioria, meninos. Mas isso se perdeu quando houve um grande aumento na procura desse exame por questões culturais", disse.

Procura pelo NIPT

Paralelamente ao teste de sexagem fetal, outro exame que também vem registrando aumento na procura é o NIPT (sigla em inglês para teste pré-natal não invasivo), um teste genético pré-natal que faz um estudo do DNA do bebê. Isto é, ele rastreia as principais alterações cromossômicas que podem impactar a saúde da criança, como a síndrome de Down, além de indicar o sexo do bebê. Nesse caso, segundo a DASA, o aumento na procura foi de 108% do primeiro para o segundo trimestre de 2020; e de 60% do segundo para terceiro trimestre; mantendo-se em alta até o momento.

Segundo a geneticista Michele Migliavacca, o NIPT é um teste que usa a mesma abordagem da sexagem fetal, mas, em invés de só olhar para o cromossomo Y, que revela o sexo, observa outros cromossomos que podem indicar uma síndrome genética. "Ele tem duas versões: a básica, que consegue ver o sexo e detectar as síndromes de Down, Patau, Edwards e Turner; e a versão ampliada que analisa ainda diversas outras síndromes e doenças, como Prader, Willi, Angelman, Cri du chat, DiGeorge e 1p36", explicou.

No entanto, segundo a especialista, é um exame que precisa de indicação médica. "Qualquer gestante pode fazer, mas o ideal é que antes, ela passe por uma aconselhamento para saber como lidar com os resultados. É extremamente importante a detecção precoce para que os pais aprendam a lidar com o diagnóstico e possam fazer um preparo emocional", afirmou. A indicação é fazer a partir de 9 semanas completas de gestação, mas o exame é oferecido apenas na rede privada. "Alguns países já o incorporaram na triagem da saúde pública, mas, no Brasil, permanece apenas na privada", finalizou.

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