Saúde
 

Por Vanessa Lima


Recorrer à metáfora de uma corrida para falar da idade fértil feminina pode não ser algo muito animador, mas não tem jeito: diferentemente do que acontece com o homem, a mulher tem um prazo dado pela biologia, caso queira gerar um bebê, mesmo diante dos recursos oferecidos pela evolução da ciência. E a pista dessa corrida ganha obstáculos, no caso de quem sofre com determinadas condições de saúde capazes de dificultar a realização desse sonho. É o caso de problemas hormonais, malformações e até sequelas de doenças infecciosas, que afetam a região pélvica. A boa notícia é que, muitas vezes, há tratamentos e soluções que ajudam a superar ou a contornar os percalços, principalmente quando são identificados precocemente.

Desde exames para diagnósticos precisos até técnicas de criopreservação (congelamento de tecidos biológicos e células, como óvulos, espermatozoides e embriões) e de fertilização, passando pela elaboração de medicamentos, a medicina reprodutiva tem tido muitos avanços. “Nos últimos 30 anos, houve um aumento significativo do entendimento da fisiologia da reprodução e foram desenvolvidas técnicas cada vez mais sofisticadas de tratamento para casais com dificuldades para engravidar”, afirma Paulo Gallo de Sá, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).

Problemas hormonais, malformações e até sequelas de doenças infecciosas, que afetam a região pélvica, podem dificultar as tentativas de engravidar  — Foto: GettyImages
Problemas hormonais, malformações e até sequelas de doenças infecciosas, que afetam a região pélvica, podem dificultar as tentativas de engravidar — Foto: GettyImages

Atualmente, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de casais que enfrentam problemas de concepção gira em torno de 12% a 15%. “Em 40% dos casos, a causa é feminina, em 40%, masculina, em 10%, os dois têm problemas e, em 10%, é idiopática – quando são realizados todos os exames e o motivo não é detectado”, explica a ginecologista e obstetra Nilka Donadio, consultora em reprodução humana da Dasa Genômica e do Centro Diagnóstico em Fertilidade do Alta Diagnósticos. Segundo ela, boa parte dos problemas para a mulher engravidar está relacionada a doenças como a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) e endometriose. Mas há também outras questões, como fatores tubários (relacionados às trompas, que conduzem os óvulos liberados pelos ovários ao útero) e uterinos (caso de miomas ou malformações).

A detecção precoce dos problemas é uma forma de ganhar vantagem e dar passos à frente (lembra da corrida?). Por isso, é fundamental acompanhar com frequência a sua saúde, manter os exames e consultas ginecológicas em dia e verificar a reserva ovariana, por exemplo, que é a quantidade de folículos armazenada nos ovários. Ela pode ser considerada um marcador da fertilidade feminina, já que a mulher nasce com um número determinado de folículos (estima-se que de 1 a 2 milhões) e, a cada ciclo menstrual, dentro de um deles, o óvulo amadurece. Se a reserva estiver baixa, dependendo da idade, é recomendado o congelamento de óvulos.

Para ajudar você a saber quais problemas e sintomas são um alerta para investigar melhor a sua saúde reprodutiva, listamos algumas das condições mais comuns que podem comprometer a fertilidade feminina:

1. ENDOMETRIOSE

O que é?
Cerca de 30% dos casos de mulheres que têm dificuldade para engravidar estão associados a essa condição. Ocorre quando o endométrio, tecido que reveste o útero internamente (e é eliminado durante a menstruação), começa a crescer fora da cavidade uterina, em regiões como abdome, sobre ovários, trompas, ligamentos uterinos, intestino e bexiga. Nem sempre a ultrassonografia simples detecta a doença. Na maioria das vezes, é necessária a ressonância pélvica ou o ultrassom com preparo intestinal.

Por que acontece?
As causas não são totalmente conhecidas, mas podem ser multifatoriais. Uma das possibilidades é de que a genética esteja relacionada a deficiências no sistema imunológico — que deveria rejeitar o tecido do endométrio fora do ambiente natural. A hereditariedade também tem influência.

Quais são os sintomas?
Cólicas menstruais intensas são o mais comum. A mulher pode, ainda, sentir dor na relação sexual, ter ciclos menstruais irregulares, além, é claro, da infertilidade, em alguns casos.

Como tratar?
Em algumas situações, é indicada cirurgia por videolaparoscopia para remover os focos de endometriose e as aderências (quando os tecidos se grudam). Embora a cirurgia melhore os sintomas de dor nas relações sexuais e cólicas, nem sempre resolve a dificuldade para engravidar, principalmente se as trompas foram acometidas pela doença. Quando os exames mostram que a cirurgia não será suficiente, o indicado é recorrer à reprodução assistida. Para mulheres que pretendem engravidar mais tarde, mas precisam operar, vale congelar os óvulos antes da cirurgia. Isso porque o procedimento traz risco de redução da reserva ovariana — queda no número de óvulos —, baixando as taxas de gravidez no futuro.

2. MIOMA

O que é?
Tumor benigno do músculo do útero, chamado miométrio. Pode atrapalhar a fertilidade, dependendo do tamanho e do posicionamento. Isso acontece, em geral, quando crescem em direção à parte interna do órgão e são grandes, maiores de 5 cm.

Por que acontece?
Tem origem genética. O crescimento dos miomas ocorre em resposta ao estrogênio — o hormônio feminino — ao longo da idade reprodutiva e, depois da menopausa, os nódulos diminuem de tamanho.

Quais são os sintomas?
Em alguns casos, é assintomático. Em outros, provoca aumento do fluxo menstrual e coágulos. Algumas mulheres apresentam aumento de volume abdominal, por causa do crescimento dos tumores. Se estiverem posicionados perto da parte central do útero, podem dificultar a gravidez e causar abortos.

Como tratar?
Se os miomas estiverem atrapalhando a fertilidade, por conta do tamanho e do posicionamento, é necessária uma intervenção cirúrgica.

3. FATOR TUBOPERITONEAL

O que é?
Alteração da função das trompas, que podem estar parcialmente ou totalmente obstruídas, levando à dificuldade ou até mesmo impedindo a passagem dos espermatozoides, que precisam encontrar com o óvulo e fecundá-lo. Em geral, ocorre por fatores que provocam a junção entre as trompas e o peritônio — tecido que recobre toda a parte interna do abdome e da pelve.

Por que acontece?
Como consequência da endometriose ou de doenças inflamatórias pélvicas, transmitidas sexualmente, como clamídia e gonorreia.

Quais são os sintomas?
No caso de endometriose, podem ser as cólicas intensas no período menstrual e a dor na relação sexual. Quando a aderência é uma consequência de infecções prévias, é possível não haver sintomas.

Como tratar?
Em alguns casos, o tratamento cirúrgico é uma opção, mas, na maioria das vezes, é indicado recorrer à reprodução assistida, com técnicas como a fertilização in vitro. Ela não trata a doença, mas possibilita a gravidez.

4. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO (SOP)

O que é?
Distúrbio hormonal que atinge de 6% a 19% das mulheres em idade fértil no mundo. Caracteriza-se pelo ovário aumentado, com a presença de múltiplos cistos de até 10 mm. A mulher tem irregularidade na menstruação, com atrasos ou ausência, porque não ovula da maneira esperada, o que leva, frequentemente, à infertilidade.

Por que acontece?
A causa não é totalmente conhecida, mas é possível ser uma combinação de genética com fatores ambientais.

Quais são os sintomas?
Alterações hormonais, aumento de pelos, acne, ciclo menstrual irregular e, em casos mais graves, alterações da glicemia, obesidade e infertilidade. Mulheres com SOP têm ainda maior probabilidade de apresentar problemas cardiovasculares após a menopausa.

Como tratar?
Por ser uma doença crônica, o tratamento atua nos sintomas. Perda de peso e mudanças no estilo de vida, com dieta equilibrada e exercícios, ajudam. No caso da infertilidade, em geral, são recomendados medicamentos para regulação hormonal e de indução da ovulação, que costumam ter boas respostas.

5. MALFORMAÇÃO DO ÚTERO

O que é?
Alterações anatômicas do órgão são capazes de atrapalhar a fertilidade ou prejudicar a permanência do bebê, na gravidez. Elas podem envolver o formato, o volume, a função e a parte interna, a chamada cavidade endometrial. Uma dessas malformações é a incompetência cervical, quando o colo do útero se abre conforme a gestação avança, causando abortamento ou prematuridade. O útero septado, outro exemplo, tem um tecido fibroso que pode ir até o colo do útero ou à vagina, aumentando também o risco de aborto. Há mulheres com útero unicorno, que apresenta metade do órgão e apenas uma tuba (tubos que conduzem os óvulos liberados pelos ovários), diminuindo as chances de gravidez. E também o útero hipoplásico, conhecido como infantil, que não se desenvolve ou não cresce até o tamanho esperado na idade fértil.

Por que acontece?
As causas costumam ser genéticas. As malformações acontecem por falhas no desenvolvimento embrionário durante a formação dos órgãos reprodutores femininos.

Quais são os sintomas?
Depende. O útero hipoplásico, por exemplo, pode ser identificado pelo atraso da primeira menstruação. Outras malformações são diagnosticadas nos exames de rotina ginecológica, como o ultrassom. Algumas anomalias só serão detectadas quando a mulher percebe a dificuldade para engravidar e faz exames investigativos mais específicos.

Como tratar?
Também depende da malformação. Algumas têm soluções cirúrgicas para corrigir o formato do útero. Quando cirurgias não são eficazes, vale recorrer à fertilização in vitro (FIV).

6. FALÊNCIA OVARIANA PRECOCE (FOP)

O que é?
Conhecida popularmente como menopausa precoce, a falência ovariana precoce é quando os ovários param de funcionar, não produzem mais o estrogênio em níveis esperados e nem liberam óvulos como deveriam, antes de a mulher completar 40 anos. Atinge cerca de 1% das mulheres com menos de 40. Destas, 0,1% têm menos de 30 anos.

Por que acontece?
Pode ter causa genética, hereditária ou acontecer em decorrência de danos ao tecido ovariano em procedimentos cirúrgicos ou por doenças autoimunes (funcionamento anormal do sistema imunológico, que leva o corpo a atacar os próprios tecidos). Na investigação, exames genéticos devem ser solicitados, pois algumas alterações que levam à falência ovariana precoce são passadas para os filhos, levando a problemas sérios no desenvolvimento.

Quais são os sintomas?
Irregularidade ou ausência do ciclo menstrual, ondas de calor, conhecidas como fogachos, irritabilidade e infertilidade.

Como tratar?
Em casos raros, se a falência ovariana for precocemente diagnosticada e a mulher ainda apresentar ciclos menstruais, é possível engravidar naturalmente, apesar das chances serem baixas. Uma opção é usar injeções de hormônio para aumentar a capacidade de resposta dos ovários e fazer FIV. Se a mulher desejar engravidar mais tarde, vale congelar os óvulos obtidos após estímulo ovariano. Porém, se a falência ovariana já estiver estabelecida, sem resposta dos ovários às medicações injetáveis, chamadas gonadotrofinas, é preciso recorrer à ovodoação, ou seja, usar óvulos doados por outra mulher.

Problemas com a fertilidade também podem ter relação com o corpo masculino — Foto: GettyImages
Problemas com a fertilidade também podem ter relação com o corpo masculino — Foto: GettyImages

De olho nos homens!

Ainda é muito comum que se atribua uma dificuldade de engravidar do casal, primeiro, à mulher. No entanto, há tantas causas identificadas no corpo masculino quanto no feminino. Quando é determinado que um casal tem problemas com a fertilidade — ou seja, mais de um ano de tentativas, com atividade sexual regular — e o teste de gravidez positivo não vem, ambas as partes precisam ser investigadas.

O primeiro passo, para o homem, é fazer o espermograma, exame que avalia a composição e as condições do esperma. “Uma das causas mais comuns de infertilidade entre os homens é a varicocele, quando os vasos sanguíneos que envolvem o testículo são mais grossos”, explica a consultora em reprodução humana Nilka Donadio, da Dasa Genômica. “Isso leva ao aumento da temperatura testicular e, assim, diminui a qualidade e a produção dos espermatozoides”, completa. Se a condição for identificada, pode ser necessária uma intervenção cirúrgica ou as técnicas de reprodução assistida.

Fontes: Paulo Gallo de Sá, ginecologista e obstetra, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH); Nilka Donadio, ginecologista e obstetra, consultora em reprodução humana da Dasa Genômica e do Centro Diagnóstico em Fertilidade do Alta Diagnósticos; Ministério da Saúde; Organização Mundial da Saúde

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