Ponto de vista
Por , em colaboração para Marie Claire


Como Sex and The City mexe com as crenças das mulheres da geração Z, 25 anos após sua estreia  — Foto: Divulgação/Getty Images/Colagem: Júlia Grassetti
Como Sex and The City mexe com as crenças das mulheres da geração Z, 25 anos após sua estreia — Foto: Divulgação/Getty Images/Colagem: Júlia Grassetti

É como reencontrar quatro amigas de longa data e perceber que, ao mesmo tempo que nada mudou, tudo mudou. Foi isso o que senti com o retorno de Sex and The City (SATC), que chegou ao catálogo da Netflix mais de 25 anos depois de sua estreia.

Provavelmente, não sou a única. Qualquer mulher da geração millennial, gostando ou não da série, sabe o impacto que Sex and The City causou na cultura, no entretenimento, e no imaginário feminino nos anos 1990-2000. Pela primeira vez, um fenômeno mundial de audiência se dedicava a retratar a intimidade de quatro mulheres de seu tempo, solteiras, com mais de 30 anos, lidando com as pressões externas e internas para encontrar um parceiro, falando abertamente sobre sexo.

Como dizem os jovens, Sex and The City engatinhou para séries como Girls e Fleabag pudessem correr. O que nos leva a um fenômeno curioso: o estrondoso sucesso que Sex and The City vem fazendo entre a gen Z, ainda que esse público esteja dividido entre os que “cancelam” a série e os que caíram nas graças dela.

Clipes de Sex and The City estão se proliferando no TikTok, com recortes, ora icônicos, ora polêmicos, dos episódios. Fale bem ou fale mal, mas fale de mim – já diria Mc Melody, que, como representante da gen Z, sabe muito bem que o que mais importa hoje é gerar engajamento.

A geração millennial já estava atenta ao fato de que, em muitos aspectos, Sex and The City envelheceu como leite fora da geladeira. Nossa juventude, infelizmente, não foi pautada pelo debate feminista, progressista e inclusivo, como no caso da geração que veio em seguida. E essas quatro protagonistas, na época contemporâneas, nada mais eram do que um nítido reflexo de seu tempo.

A acusação de que Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte seriam personagens “machocentradas” não chega a ser absurda. A maioria de suas conversas, ao longo de seis temporadas, gira em torno dos homens. Isso sem contar a falta de diversidade do elenco e outros “deslizes” que hoje seriam considerados imperdoáveis.

Não é preciso fazer muito esforço para identificar piadas e tramas dos episódios que flertam com estereótipos e preconceitos. Assédio sexual? Presente. Porém, não identificado como tal. Que dirá opressões mais “sutis" como gaslighting, mansplaining, manterrupting, love bombing e outros termos in english que sequer faziam parte do vocabulário dessa mulherada.

Como Sex and The City mexe com as crenças das mulheres da geração Z, 25 anos após sua estreia — Foto: Divulgação/Getty Images/Colagem: Júlia Grassetti
Como Sex and The City mexe com as crenças das mulheres da geração Z, 25 anos após sua estreia — Foto: Divulgação/Getty Images/Colagem: Júlia Grassetti

Partindo dessa perspectiva, Sex and The City pode parecer um show de horrores. E talvez seja, mesmo. Afinal, não existe expressão mais adequada para descrever a vida sexual e afetiva de uma mulher heterossexual e solteira na faixa dos 30, 40 anos. E é isso o que faz da série, apesar dos pesares, atemporal.

Afirmar que a série é transgressora não é o mesmo do que passar pano para todas as limitações que acabei de citar. Para comprovar minha defesa, peço ajuda aos universitários – no caso, a gen Z que chega em peso para somar à fandom e está bem consciente de que o contexto das personagens era completamente diferente do atual. Digo mais: não são apenas essas quatro protagonistas que precisam superar seus preconceitos... Eu mesma, uma millennial de carteirinha embolorada, quando me vi maratonando os episódios novamente, a princípio senti que estava em uma vertiginosa recaída com aquele boy lixo – como Carrie sempre volta para Mr. Big.

Só que a cada tabu estilhaçado pelas desventuras sexuais e amorosas do elenco principal, mais evidente ficava a relevância da série – que, sem dúvidas, é um marco em termos de representação feminina para a cultura de massas dos anos 2000.

Sendo roteirista, escritora, e devoradora de histórias, protagonistas femininas são meu hiperfoco. E quando pensei que estaria diante de personagens datadas, que renderiam uma baita crítica ao machismo velado de uma narrativa pretensiosamente feminista, quebrei a cara – como Carrie sempre quebra a dela com Mr. Big.

Se o elenco principal de Sex and The City é amado pelo público feminino, não é por causa de sua rotina cosmopolita glamourizada, seus corpos esquálidos e looks impecáveis, e sim por causa de seus defeitos. Elas erram mais do que acertam e, por isso, geram bom entretenimento, boas risadas e boas reflexões. Basta assistir a um único episódio para entender que as frustrações dessas personagens não são apenas culpa dos homens. Isso as liberta da condição de vítimas, e liberta as mulheres do heteropessimismo que ganha cada vez mais força entre feministas contemporâneas.

O problema de aderir à teoria de que nenhum homem presta, que chamo carinhosamente de “boy lixismo estrutural”, é que os homens continuam sendo o principal assunto. Ora, ora, quem é a “machocentrada” agora?

Meu ponto é que nada pode ser mais transformador para uma mulher do que olhar para seus próprios bloqueios, gatilhos, expectativas e carências. E o quarteto de Sex and The City tem esses traços de personalidade muito bem desenhados. Cada uma encontrou uma estratégia diferente para sobreviver em uma sociedade em que uma mulher solteira parece ter menos valor do que uma mulher casada, ou comprometida.

Carrie é viciada na adrenalina de paixões intensas e temporárias. Samantha é adepta do sexo casual sem qualquer responsabilidade afetiva. Charlotte idealiza o amor romântico, o casamento e a maternidade. E Miranda hipervaloriza suas conquistas profissionais e tenta encaixar sua pacata vida afetiva em uma planilha do Excel.

Em algum momento da vida, todas nós já fomos uma delas, ou todas elas. E num patriarcado, que nos ensina desde meninas que, para termos algum valor, precisamos ser amadas por um homem, essa relação de “Deus me livre, mas quem me dera” com os relacionamentos afetivos é perfeitamente compreensível.

Essas personagens também se transformam ao longo das temporadas, aprendendo com seus erros e vivendo experiências completamente inesperadas. Ninguém poderia imaginar que a workaholic Miranda se tornaria uma excelente mãe. Samantha se vê em uma sensível batalha contra o câncer de mama, se permitindo, pela primeira vez, viver um relacionamento amoroso que não se baseia apenas em sexo e aparências.

É por isso que ontem, hoje e sempre mulheres imperfeitas devem ser nossas musas. Elas nos ensinam, pois aprendemos a não errar como elas. E elas nos acolhem, pois aceitamos que também erramos.

E já que estamos falando de autossabotagem, precisamos falar de Carrie Bradshaw. Não seremos as únicas. A protagonista, submetida ao raio x problematizador dos nossos tempos, vem roubando a cena com uma curiosa teoria elaborada tanto pelo público millennial, que reassiste à série com outros olhos, quanto pela gen Z, que a assiste pela primeira vez. Essa teoria é a de que Carrie Bradshaw é, na verdade, a vilã de Sex and The City. Porque Carrie é egoísta, autocentrada, carente, imatura, vaidosa, fútil... E tudo isso faz com ela acabe sendo uma péssima amiga, uma péssima namorada e uma péssima feminista. No entanto, vilanizar Carrie por ser superficial é reproduzir o mesmo erro, pois só conseguiremos aprender com essa personagem imperfeita se olharmos para ela com mais profundidade.

Carrie é o que chamamos de anti-heroína. Uma heroína humana, porque não é só feita de virtudes, como as mocinhas e mocinhos das narrativas à moda antiga. O que caracteriza um anti-herói é o fato de ser ele o pior inimigo de si mesmo. E Carrie não foge à essa regra.

Se ao longo de seu relacionamento com Mr. Big, julgamos por Carrie por sempre ceder a um parceiro tóxico, no caso de seu relacionamento com Aidan, julgamos Carrie pelo motivo oposto, porque agora é ela que se comporta como um “boy lixo ”. Carrie não é vítima, nem vilã. Ela é humana. É esse o segredo de sua relação duradoura – 26 anos e contando – com o público feminino.

E ainda que Carrie seja escritora, e sua narração reflexiva costure as tramas de todos os episódios, é justo Charlotte, a personagem mais menosprezada do quarteto por seu conservadorismo, que encontra as palavras certas para amarrar toda essa história: “Talvez as nossas amigas sejam as nossas almas gêmeas”. Eles passam, elas ficam.

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