Um Só Planeta
Por — de São Paulo (SP)

“Estamos diante de algo gravíssimo e de proporções nunca vistas.” É assim que a meteorologista Estael Sias classifica o cenário devastador que tomou conta do Rio Grande do Sul. Após perder a própria casa em Canoas, cidade onde mora há quase duas décadas, segue lutando para levar informação diante do caos - e ela alerta que a situação não está controlada e que o quadro pode se agravar nos próximos dias.

“Tento não pensar na minha casa, estou me concentrando no trabalho. As pessoas estão muito abaladas, mas com muita fé. Agora, é importante que a gente se ajude. Vamos superar, vai dar certo”, diz a meteorologista que tem trabalhado até 16 horas por dia.

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Formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e mestre em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP), ela é sócia-diretora da MetSul Meteorologia, que desde o final de abril tem emitido alertas sobre a gravidade da crise. Em uma conversa com Marie Claire, afirma que a área afetada pelo grande volume de chuvas pode ser ampliada, chegando até Pelotas, quarta cidade mais populosa do estado.

“Nós estamos em um terreno, de certa forma, desconhecido, tanto em níveis de volume de chuva, com o dos níveis de rios”, afirma. Entre domingo (12) e terça-feira (14), um volume alto de precipitação também pode fazer o nível das águas subirem em regiões já castigadas pelas cheias.

'Sem precedentes'

MARIE CLAIRE Qual é o panorama neste momento e quais são as principais preocupações diante da possibilidade de que o quadro se agrave?
ESTAEL SIAS
Nas próximas horas e nos próximos dias, uma preocupação é com essa circulação natural das águas descendo para a Lagoa dos Patos [no sul do Rio Grande do Sul]. Nós utilizamos como referência 1941, que foi a maior cheia do Rio Guaíra. O que está acontecendo agora ultrapassa a gravidade do que aconteceu em 1941. Nós estamos num terreno, de certa forma, desconhecido, tanto em níveis de volume de chuva, dos níveis de rios. Acreditamos numa situação que pode ser grave no Sul do estado, tanto no entorno, como do lado da Costa Doce [que engloba cidades como Chuí, Guaíba, Jaguarão, Pelotas, Piratini e Rio Grande] e parte do litoral.

Então, todos os arroios e os rios que se comunicam com a Lagoa dos Patos inevitavelmente sentirão os efeitos de toda essa água descendo. E são volumes extraordinários, são volumes altíssimos, porque vêm dos rios Itacoari, Caíba, Sinos e do Jacuí. E todos esses rios tiveram cheias históricas, também sem precedentes.

Somente quando a água da lagoa ficar em um nível menor que o terreno, é que a água volta para o seu leito normal. Dentro de um cenário que a gente não conhece, a gente nunca lidou com dados nessa magnitude, fica difícil precisar, mas a gente imagina, pelo histórico dos últimos dias, que será algo gravíssimo e de proporções nunca vistas. Pelo menos nos últimos 100, 150 anos, a gente não tem registro de algo similar ao que está acontecendo no Rio Grande do Sul nesse momento.

MC Você também é especialista em Defesa Civil [ela atuou no órgão em São Paulo]. Quais serão os principais desafios de quem está atuando na linha de frente da assistência à população?
ES
Primeiro, creio que lidar com a quantidade de desabrigados. Serão semanas, meses, até que alguns possam voltar para suas casas, porque nem todos poderão voltar. O foco tem que se cuidar das pessoas, alimentação, assistência médica. Os profissionais com quem conversei estão exaustos, completamente abalados, porque muitos dos que estão trabalhando também perderam tudo. Sem dúvida, será necessário apoio nacional e internacional. Esse é um dos maiores desastres que já vimos, inclusive em proporção internacional. Entre sábado e terça temos a previsão de novos volumes de chuva, o que pode agravar a situação.

MC Qual é o volume de chuvas previsto para os próximos dias? Que impacto isso pode gerar?
ES
Em meteorologia, a gente trabalha com estimativas. É previsto um volume de 100, 150 até 200 mm de chuvas [entre domingo e terça]. Agora, o que é importante, não é somente o volume de chuvas, mas também as características do relevo, porque em algumas áreas pode gerar novas inundações. Receber esse montante de chuva, em um solo já castigado, pode trazer consequências graves.

MC Muito tem se falado sobre a possibilidade de que algumas cidades se tornem inabitáveis depois que a água baixar. É possível pensar nessa possibilidade?
ES
É algo a se pensar. O que posso dizer é que vai acontecer uma reorganização natural dessas cidades. O poder público vai ter que organizar uma forma de viver nesses locais, porque houve perdas gigantescas. Possivelmente, algumas áreas serão condenadas, sobretudo as de risco, o que vai obrigar uma mudança na forma de vida. Postos de trabalho também foram perdidos, o que pode gerar uma migração.

MC Desde o final de abril, o MetSul tem alertado para o cenário catastrófico que poderia acontecer. Muitos consideraram que a resposta do Governo do Rio Grande Sul não foi suficiente, sobretudo nos alertas. Como você avalia esse cenário?
ES
Eu acredito que houve um aprendizado, na forma que se comunicaram os alertas [em comparação às enchentes do Vale do Taquari, em setembro de 2023]. O gestor [o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB)], tem feito os comunicados, o que traz credibilidade. É preciso ampliar as questões de logística e seguir com os alertas. Muita gente não quer sair de casa, mas é preciso deixar claro os riscos que elas correm. Sinto que há uma evolução, mas sempre é possível melhorar.

MC Como está sendo seu dia a dia de trabalho desde que a situação piorou?
ES
Eu perdi minha casa. Estou na casa de amigos, que me receberam muito bem. Saí de casa com meu marido, filho, cachorros. Tô com meu notebook e meu celular, que são meus instrumentos de trabalho. Tenho trabalhado 15, 16 horas por dia, porque temos os comunicados, a gente tem tentado ajudar o máximo possível a população, nossos clientes, agricultores. Até nas redes sociais eu tenho respondido perguntas, tudo para ajudar que a informação se espalhe. Eu moro em Canoas há 17 anos, conheço muita gente, muitos que foram diretamente afetados. Tento não pensar na minha casa, estou me concentrando no trabalho. As pessoas estão muito abaladas, mas com muita fé. Agora, é importante que a gente se ajude. Vamos superar, vai dar certo.

MC Seu trabalho está refletindo diretamente na vida das pessoas. Nesse momento, como você se sente diante de tanta responsabilidade?
ES
Acredito que tudo o que a gente poderia fazer, a gente fez, em termos de alerta. Desde o momento em que a gente imaginou o que poderia acontecer, a gente se pronunciou. É nossa missão proteger as pessoas, esse sentimento de que podemos fazer a diferença. Eu perdi minha casa, meus sócios também, todos nós [gaúchos] perdemos muito. Apesar de estar angustiada, cansada, ainda procuro o que posso fazer, não vou parar. Agora, quando tudo melhorar, vou lutar para que as cidades se preparem melhor diante dessas tragédias, que riscos podemos evitar. A gente tem muito o que avançar, muitas cidades não conseguem lidar com esses desafios. Eu quero muito investir nisso, até em ações educacionais.

MC O que você acredita que é possível fazer agora para evitar que desastres como esses voltem a acontecer?
ES
Acredito que o plano diretor das cidades terá que ser modificado, reestruturado. Acredito que a Defesa Civil tem que ser reformulada, com o comando ocupado por cargos de carreira. É importante que estejam no controle pessoas com anos de experiência, que conheçam as áreas de risco, que saibam como funcionam as buscas. Isso é fundamental, algo urgente.

Educação ambiental também, as pessoas precisam saber o que fazer em situações de risco, como preservar áreas de encostas. Há muito para ser feito, mas temos condições de avançar, porque temos conhecimento, material humano. Acredito que muitas cidades precisem de meteorologistas, profissionais que conhecem as realidades, o que pode aumentar a precisão das previsões. Ampliar a Defesa Civil e valorizar os profissionais. Esse é um caminho que precisamos seguir.

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