Juliana Paiva: "Nunca pedi irmãos e me realizo como irmã na ficção"

Filha única na vida real, a atriz interpreta Electra Mancini, jovem com outros quatro irmãos, interpretados por Ramille, Thiago Martins, Nathalia Dill e Isacque Lopes.

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Com carreira alavancada no remake de Ti-ti-ti (Globo, 2010), Juliana conquistou projeção como Fatinha na temporada 2012 de Malhação e fez sucesso como a espevitada Cassandra de Totalmente Demais (Globo, 2015). Com protagonistas em novelas como Salve-se quem puder (Globo, 2020) e O Tempo não Para (Globo, 2018), a atriz avalia que desta vez a personagem não caminha para a comédia. "É a personagem com maior carga dramática entre as que já fiz", afirma.

Com experiência de já ter protagonizado outras novelas, Juliana valoriza a oportunidade de dividir a trama central com mais atores. "Muitas vezes, o lugar do protagonismo acaba sendo solitário -- o pessoal chega, grava e vai embora, enquanto o protagonista vai ficando, ficando... O protagonismo compartilhado é muito bom. Todo mundo no mesmo barco e se ajudando. A gente bate texto, ri da cara do outro, zoa, já temos piadinhas internas (risos)."

Quem: Você volta à TV em uma novela que aborda as relações familiares. Se tivesse que eleger um momento em que a família é tudo para você, qual seria?
Juliana Paiva: Difícil escolher um momento. Família é tudo para mim e isso rege a minha vida. Sempre tive uma ótima relação com a minha família. Tive meus pais como porto seguro, minha base, melhores amigos, melhor colo, melhores conselhos. Meu pai já se eternizou e você descobre que o sentimento de família -- que já era enorme -- se torna infinito. Nossa família é nossa essência, quem nos conhece desde sempre, de onde a gente veio. É muito bom fazer uma novela que vai mostrar uma família tão plural. Cada um tem sua personalidade, mas o amor une a todos e faz com que todos possam se identificar.

Electra tem características clássicas de mocinha -- paga por um crime que não cometeu e quer encontrar o grande amor --, mas não faz a linha vitimista. Quais os desafios ao compor esta personagem?
O público vai conhecer a Electra de uma forma diferente do habitual. A personagem já é apresentada no olho do furacão, com ela presa por um crime que não cometeu, no momento de saída da cadeia e as tentativas de retomar a vida, recuperar o tempo perdido, as relações, a família e os amores. A história é contada aos poucos. Se ela ama tanto o cara, por que fez algo contra ele? As situações vão se revelando aos poucos. Tem sido um desafio instigante. É a personagem com maior carga dramática entre as que já fiz. É uma trama que prende muito. Pelas chamadas, o público já tem manifestado a curiosidade em acompanhar e desvendar. Como intérprete, isso é maravilhoso. O mais legal desta trama é que ela é possível de acontecer. Poderia acontecer com qualquer um. Qualquer um pode se ver em uma grande armadilha. Poderia acontecer com qualquer pessoa próxima a nós. Acho que isso vai levar o público ao final de cada capítulo querer conversar sobre o que foi mostrado. "Que situação louca! E se fosse com a gente?". O que acontece com a Electra é muito real e você tem que optar entre acreditar na pessoa que você conhece a vida inteira ou acreditar na injustiça da polícia que culpou a Electra. É um dilema grande e muito possível de acontecer na vida real.

A Electra se vê obrigada a conviver com os outros quatro irmãos. Diferentemente da ficção, você é filha única. Ter irmãos chegou a ser um desejo em alguma fase da vida?
Sou filha única e nunca pedi irmãos. Só pedi um cachorrinho e ganhei (risos). Sempre fui muito cercada de amigos e meus pais sempre foram muito brincalhões, presentes. Eles fizeram parte de cada etapa da minha vida ativamente. Tenho primos próximos e nunca tive a necessidade de ter irmãos. Nunca pedi irmãos, mas me realizo no papel de irmã na ficção. Já tive alguns irmãos na ficção e é uma relação muito especial. Os irmãos são o maior elo, além dos nossos pais, com o nosso passado. Os irmãos são a quem você pode recorrer em diversos momentos. Conforme a vida vai passando, as pessoas vão ficando mais velhas, enfim... É importante essa parceria.

A avó é uma personagem central na história. Você chegou a conviver com suas avós?
Sempre convivi muito com as minhas avós. Hoje, não tenho mais minha avó paterna. Minha avó materna segue com a gente, adora novela e está louca para ver este meu novo trabalho. Disse que ela estava sendo representada por Arlette Salles e ela amou! Acho que relação com avó é muito importante para qualquer ser humano. É um elo muito bonito. Sempre gostei de ouvi-las contar histórias do tempo delas. Você percebe como tanta coisa mudou, como conheceram meus avôs. Adoro essa troca entre gerações, o que posso ouvir, o que posso aprender, o que permanece igual.

Quais as principais memórias?
Vó sempre tem o mimo de fazer aquela comidinha gostosa, aquele mimo. Minha avó cozinhava drumet -- um franguinho -- e ela colocava açúcar na frigideira. Ficava uma delícia. Minha avó materna sempre fez o melhor pudim da face da Terra. Ela está prestes a fazer pudim e sempre diz: "É a última vez que eu faço pudim, hein? Não faço mais". Também adoro cartas com elas. Sempre me dei muito bem com minhas avós e adoro essa relação.

O dia a dia de gravações da novela faz com que os atores tenham um grande convívio. Já se pegou em relações fraternais com os colegas desta novela?
Com certeza, nós nos tornamos uma grande família. Em qualquer projeto intenso, como uma novela costuma ser, é natural que as pessoas se aproximem, se apoiem e se envolvam com as histórias uns dos outros. No caso dos irmãos dessa novela, isso já está acontecendo. São colegas muito especiais. A gente se ajuda muito.

Muitas vezes, o lugar do protagonismo acaba sendo solitário -- o pessoal chega, grava e vai embora, enquanto o protagonista vai ficando, ficando... O protagonismo compartilhado é muito bom. Todo mundo no mesmo barco e se ajudando. A gente bate texto, ri da cara do outro, zoa, já temos piadinhas internas (risos). Além do núcleo dos irmãos, o Jayme Matarazzo tem sido uma grata surpresa para mim. Ele faz o Luca, par romântico da Electra, e tem sido um companheirão de cena. Faz toda a diferença no resultado do trabalho quando o ambiente é saudável. Espero que o público consiga perceber essa conexão nas telas.