Nina Tomsic não imaginava voltar tão cedo às novelas. A atriz de 23 anos, que vive a Dracena de No Rancho Fundo, recebeu o convite para a trama das 6 com surpresa, alegria e determinação: afinal, a personagem, melhor amiga de Blandina (Luisa Arraes) é justa, correta e aquela que tenta fazer da vilã um ser mais humano – nos próximos capítulos da trama, Dracena vai revelar que a outra nunca foi rica e inventou uma série de mentiras para se casar com Zé Beltino (Igor Fidalgo), pondo um fim ao romance.
“A Dracena é como se fosse o lado mais humanizado da história da Blandina. É uma pessoa muito pé no chão, interessada em fazer o que é o certo”, conta Nina. “Para ela, a Blandina é tudo que sempre quis ser e tem tudo o que deseja: uma família, o amor da mãe, a coragem de se jogar. A Dracena perdeu a mãe, tem um pai péssimo ausente. Cresceu com bullying... Isso gerou um encantamento pela amiga que, para ela, significa muito. Por isso que quando a Blandina rouba as coisas da Dracena e foge dói tanto”, pontua a atriz.
Nas primeiras semanas da trama, teve quem shipasse as amigas como possibilidade romântica. “Eu amaria que fosse por esse caminho, mas sou suspeita pra falar. Acho que seria o máximo essas duas personagens tão fortes poderem viver uma narrativa que fosse independente de um homem”, diz Nina. “Ia ser lindo ver esse núcleo tão potente e tão feminino crescendo. Mas seja o que acontecer, sei que a relação das duas vai sempre ser construída com muito amor e muita profundidade”, avalia.
Assim que foi escalada para a novela, Nina recebeu um convite de Luísa para ir com ela para Pernambuco, passar uma semana em Recife, e se ambientar um pouco no Nordeste da trama. “Foi muito bom para estudar o sotaque; era pré-Carnaval e nos divertimos muito. Foi também muito importante porque para construir essa relação entre a Blandina e a Dracena a gente teve também que construir uma intimidade”, diz Nina, que em sua segunda novela já tem uma trajetória mais longa no teatro.
Vocação
“Eu sempre digo que é um mistério como virei atriz. Mas sinto que nasci para isso e, desde cedo, era o que eu queria ser”, conta Nina, que muito pequena entrou em um curso de teatro e não parou mais. “Quando minha mãe me colocava de castigo, o castigo era ficar sem teatro”, lembra.
Filha de pai arquiteto, Alexandre Villas, e mãe designer, Valerie Tomsic, ela não tinha referências de artistas na família, mas de arte, sim. A obsessão pelo teatro, como a atriz chama, teve o apoio dos pais, que vendo a menina atuar não tiveram dúvida de sua vocação. “Minha mãe sempre conta que viu um monólogo meu, quando eu tinha 8 anos, e pensou: ‘Meu Deus, não tem volta!’”, brinca ela, que tem um irmão mais novo.
Apesar da certeza do que queria, Nina confessa que sentiu um friozinho na barriga ao fazer o Enem. Ela, que hoje cursa Artes Cênicas na UNI-Rio, ficou nervosa na hora de escolher o que fazer no ensino superior, mas, como diz, “as máscaras do teatro sempre torceram e apoiaram muito”.
No audiovisual, as oportunidades foram surgindo uma atrás da outra. Nina fez sua estreia na televisão na série Filhas de Eva, do Globoplay, engatou Quanto Mais Vida, Melhor! e fez a protagonista de A Vida pela Frente, série criada por Leandra Leal. Mas seu coração sempre esteve no no teatro.
“É muito doloroso esse caminho em que porque trabalho no audiovisual agora sou considerada atriz. Isso é muito injusto com o teatro”, diz Nina, que na transição entre os dois meios viu no primeiro uma forma também de ter uma recompensa financeira maior.
Como muitos que se apaixonaram pela interpretação, ela não se preocupava muito com o retorno econômico no começo no palco. “Foi uma virada de chave, mas quem me ensinou muito foi o meu grupo de teatro, as pessoas mais velhas dele”, conta Nina, sobre a convivência com os colegas. “Eles me ensinaram que não adianta ficar ensaiando todos os dias, tem que colocar a peça na rua, ter público”, diz.
Grupo Chão
Nina fundou o Grupo Chão, companhia de teatro com a qual ganhou prêmios de Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Esquete e Prêmio de Júri Popular em festivais de esquetes universitários. Ela, que esteve em cartaz com Ensaio Ir Embora foi premiada também em festival internacional em Dresden, na Alemanha, onde ganhou Melhor Espetáculo no festival Kids On Stage- Hellerau.
“No teatro, eu escrevo, atuo, produzo, faço tudo. Meu maior choque, entre o palco e a TV, foi entender que no teatro tudo é muito coletivo, enquanto que no audiovisual tem uma pessoa para cada função”, explica ela, que tomou um susto ao fazer um teste de paleta de cores para As Filhas de Eva.
Com sua imagem no ar veio também a exposição. Nina diz que deu sorte de cruzar com pessoas bacanas em seu caminho e ter sido muito bem acolhida nas produções das quais fez parte. Ela também aproveitou para observar atrizes experientes, como Giovanna Antonelli, Leandra e muitas outras que já admirava.
Já nas redes sociais Nina tenta não pensar muito em quem está do outro lado. “Lido com muita gente e tiro o melhor disto: conversar, conhecer gente nova, trocar ideias com pessoas que nunca encontraria de outra forma. Tenho 55 mil seguidores, mas finjo que tenho 10 e que são meus melhores amigos” brinca, sobre a forma leve que conduz sua presença no Instagram e frisando que não é influenciadora.
Nina, que também fez a série Da Ponte pra Lá, no Max, conta que pela primeira vez está tentando usufruir o tempo livre sem pensar em trabalho. Ela, que está solteira, vem procurando “acalmar a mente nos dias livres”, mas sempre pensando em No Rancho Fundo e na faculdade.
“Faltam cinco matérias para terminar, quero me formar”, diz a atriz, que tem consciência do futuro incerto que a carreira de atriz pode oferecer. “É uma profissão difícil. Eu olho para o meu futuro e não sei se vou me aposentar. Mas eu sei os caminhos que eu quero chegar. Eu defendo muito o estudo do teatro, o fazer”, diz.