Agenda ESG: 2024 está cheio de eventos de sustentabilidade

A última conferência do clima da ONU, a COP 28 em Dubai, nos Emirados Árabes, deixou evidente o interesse dos brasileiros: o país teve a maior comitiva oficial, com 1.337 pessoas, entre membros e representantes de governos municipais e estaduais, dos poderes legislativos e judiciários, além de empresários, ativistas, acadêmicos dentre outros interessados no desafio das mudanças climáticas. Isso, sem contar os brasileiros que participaram dos debates, mas não estavam listados na comitiva oficial.

Acompanhar tudo é, na opinião de quem é engajado na agenda, “humanamente impossível”. Por isso, o Prática ESG pediu a diversos especialistas do setor para listarem os eventos prioritários, que devem ser acompanhados mais de perto. Confira:

A agenda de eventos relacionados a temas de descarbonização é extensa, sendo a Conferência das Partes (COP 29), em Baku, no Azerbaijão, entre 11 a 22 de novembro, um dos principais de 2024, ainda que muitas pessoas acreditem que o evento deste ano será menos relevante do que o do ano que vem, quando acontecerá no Brasil, em Belém (Pará).

“Me incomoda um pouco as pessoas só falarem da COP 30 no Brasil. A COP 29, na minha opinião, precisa ser bem sucedida, se não o desafio para a sedeada aqui será bem maior”, comenta Sonia Consiglio, especialista em Sustentabilidade e SDG Pioneer do Pacto Global da ONU.

Ela destaca que este ano o tema do financiamento para endereçar a urgência climática, especialmente em países emergentes e mais vulneráveis é uma questão muito importante.

“A COP 28, no ano passado, focou na avaliação dos avanços e falhas, e o gap do que estamos fazendo com o que precisamos ainda para chegar ao Acordo de Paris. A do Brasil, em 2025, será o palco onde os compromissos climáticos do Acordo de Paris serão revistos. Por isso, na COP 29, precisaremos falar de financiamento, que é a base para atacar todas as questões do clima, de biodiversidade e outras tantas que serão revisitadas depois”, comenta Consiglio.

O fato de a conferência de 2024 ser, novamente, sediada em um país produtor de petróleo, também pode trazer a discussão dos combustíveis fósseis à tona novamente, na opinião do advogado e sócio do escritório Lee, Brock, Camargo Advogados (LBCA) Yun Ki Lee, quem acompanha de perto há alguns anos as discussões.

“A COP-29 dará continuidade a tendência de sediar eventos em países produtores de combustíveis fósseis. Com a liderança de Mukhtar Babayev, um ex-executivo da indústria petrolífera, a conferência busca avançar na luta contra as mudanças climáticas, apesar de uma percepção crescente de que esforços substanciais para um acordo global estão se distanciando”, diz. Para Lee, questões como o fundo de perdas e danos continuam sem progresso significativo, o que aumenta a pressão para a COP-30, a ser sediada em Belém, Brasil, que muitos veem como uma oportunidade para estabelecer pontes críticas.

Lee pontua que a agenda climática, porém, não se limita só a COPs. Ele cita outros quatro eventos que, em sua opinião, serão importantes de acompanhar este ano. “Eles cobrirão uma gama ampla de tópicos globais do ESG, que devem atrair uma participação internacional diversificada e que pode ter impacto global significativo. Cada qual possui uma importância e um impacto singular nos três espectros do ESG”, diz o advogado.

World ESG Summit (de 19 a 21 de fevereiro, em Al-Khobar, Arábia Saudita) se concentrará, principalmente, no setor de energia e em práticas sustentáveis com o objetivo de integrar os princípios do ESG em vários setores. Apesar de ser um evento mais específico, ele contará com um impacto global significativo, especialmente pela organização ser ligada em parte à indústria petrolífera, um dos setores mais poluentes. O Summit visa a abordar os três pilares fundamentais do ESG e as estratégias para alcançar um futuro Net Zero.

Sustainability LIVE Net Zero (de 6 a 7 de março, em Londres) é notável por seu foco na transição para o Net Zero (global net emissions of carbon dioxide will need to fall to net zero by 2050), reunindo executivos de nível C e vozes globais em sustentabilidade. O evento abordará os desafios e as oportunidades para alcançar o Net Zero e abrange vários setores.

World Future Energy Summit (de 16 a 18 de abril, em Abu Dhabi) é um dos principais eventos de negócios focados em energia futura e sustentável, abordando temas que vão desde resíduos ecológicos, energia limpa e até cidades inteligentes. Com seu alcance global, é um marco para os setores de energia renovável e sustentável.

Innovation Zero (de 30 de abril a 1º de maio, em Londres) é o maior congresso do Reino Unido sobre a Net Zero, cujo foco é o acelerar da transição para uma economia de baixo carbono. Este evento inclui uma diversificada gama de tópicos e reúne especialistas e líderes em ações ambientais e soluções de baixo carbono.

A Colômbia sediará, entre 21 de outubro e 1º de novembro de 2024 a 16º COP da Biodiversidade, como é conhecida a Conferência da ONU sobre Biodiversidade das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica.

Ricardo Assumpção, líder de ESG na América Latina Sul da consultoria EY, comenta que esta edição será especialmente importante porque ela antecede à COP do clima. “De uma vez por todas entendemos que é primordial para o clima o crédito de carbono com biodiversidade. Um se beneficia do outro e vice-versa”, diz.

Por ser ainda em um país sulamericano, o executivo acredita que será uma oportunidade de mostrar a potencialidade da região e do Brasil especialmente, uma vez que o país, sozinho, é abrigo para cerca de 15% das biodiversidade do planeta.

“A conferência acontecerá quando as atenções já estarão provavelmente voltadas para a COP de Belém em 2025, mas poderá ser muito importante para integrar a biodiversidade nas discussões empresariais”, comenta Edson Ricardo Barbero, consultor de empresas e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Vanessa Pinsky, especialista em Sustentabilidade, lembra que a perda da biodiversidade é uma crise tão complexa quanto às mudanças climáticas. “Não há combate às mudanças climáticas sem manter os ecossistemas equilibrados por conta da manutenção dos serviços ambientais”, diz.

Ela lembra que é nessa COP que serão discutido os termos e governança dos arranjos de implementação do acordo histórico da cúpula de em Montreal, no Canadá, em 2022, quando países signatários se comprometeram a proteger 30% da vida terrestre e marinha até 2030. “As empresas têm um papel fundamental nessa agenda da biodiversidade que crescerá muito nos próximos anos”, afirma.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID ou IDB, na sigla em inglês), terá a edição bianual do seu IDB Invest Sustainability Week 2024 entre 11 e 13 de junho em Manaus, no Amazonas.

“Os bancos multilaterais têm um papel relevante no financiamento da agenda climática, pois investem em setores chave para a agenda climática, como infraestrutura, mobilidade, saneamento, construção civil, cidades sustentáveis. São setores que demandam mais investimentos”, explica Assumpção, da EY. No Brasil, o BID, especificamente por meio de sua unidade de investimentos, o BID Invest, tem tido um papel relevante nesse sentido, adiciona.

Ainda no âmbito internacional, setembro é um mês movimentado em Nova York, Estados Unidos. É quando a ONU realiza sua assembleia geral anual e líderes do mundo todo viajam à cidade. Também é neste período que acontece a Climate Week, a Semana do Clima. NY atrai de ativistas a banqueiros que entendem as oportunidades e também os riscos das mudanças climáticas.

Durante pouco mais de uma semana, dezenas de eventos, apresentações, reuniões, jantares e cafés buscam aproximar os stakeholders envolvidos na agenda para promover networking, negócios, trocas de conhecimento e aprendizados. Este ano, começa dia 22 de setembro.

Diversos eventos paralelos acontecem na cidade durante este período, inclusive promovidos por organizações e empresas brasileiras. Dois deles se destacam: o Brazil Climate Summit, realizado na Universidade de Columbia por alunos, ex-alunos, e professores, e o SDGs in Brazil, organizado pelo Pacto Global da ONU no Brasil.

Ainda no Brasil, as conferências do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), do Instituto Ethos, do próprio Pacto Global da ONU no Brazil, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), do AYA Earth Partners e eventos anuais de bancos internacionais no país são sempre relevantes.

No fim de fevereiro (26 e 27), G20 Brasil começou sua agenda de eventos, com a liderança brasileira na presidência. Para fevereiro, às vésperas do encontro em São Paulo de ministros de Finanças do G20, grupo das maiores economias do mundo, será realizado também na capital paulista o Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas, organizado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e realizado no AYA HUB.

Além disso, 2024 será realiza dasegunda edição do Converge Capital Conference, evento com foco em finanças, que reuniu, na primeira edição, em 2020, representantes de fundos, famílias de alta renda e empresas para debater como os investimentos privados podem ajudar a criar uma sociedade mais justa dentro desses parâmetros do mercado. Também já está confirmada a 2ª Expo ESG do Estado de São Paulo, em Piracicaba, no interior paulista, no início de agosto.

A pedido do Prática ESG, Ricardo Politi, presidente no Brasil e líder de Investimento Global da organização internacional Amazon Investor Coalition, e sua equipe, reuniram em uma lista os principais eventos do ano. Confira abaixo: