No ano passado, 31,9% das mulheres do mundo enfrentaram insegurança alimentar moderada ou severa, comparado ao índice de 27,6% entre os homens, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, uma em cada quatro mulheres não tem acesso adequado à infraestrutura sanitária e a saneamento, aponta estudo do Instituto Trata Brasil com outras instituições. E só no Estado do Rio, a Justiça deferiu mais de 33.830 medidas protetivas em 2021 para mulheres vítimas de violência.
Notícias assim, da ‘feminização’ da fome aos feminicídios, comprovam que a igualdade de gênero ainda é meta com muitas distâncias a serem eliminadas. E se esse panorama revela que, na busca pelo cumprimento da Agenda 2030, as mulheres enfrentam barreiras ainda maiores, elas também têm uma missão vital no avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Na Glocal Experience, a filósofa Djamila Ribeiro e a assistente social Carla Akotirene, ambas feministas negras, se juntaram para dialogar sobre o tema. E puseram o dedo numa ferida aberta: nas questões de gênero, não basta um tratamento universal, há de se levar em conta também raça e classe social, que aprofundam diferenças de acesso e oportunidades. “Falar de gênero na ausência de raça não dá conta da leitura da nossa sociedade. Gênero sem classe social, também não”, afirma Akotirene.
Djamila Ribeiro reforça a ideia da interseccionalidade, ao mencionar os ODS. “Não temos como pensar enfrentamento da pobreza, por exemplo, sem essa perspectiva interseccional. A maior parte das pessoas que passam fome é negra, num país que teve quatro séculos de escravidão. Pessoas negras partem de um lugar radicalmente diferente das pessoas brancas.”