A Casa do Pão de Queijo, uma das maiores redes de cafeteria do país, entrou com pedido de recuperação judicial. A ação foi protocolada sexta-feira (28) na Vara de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem da 4ª RAJ, em Campinas (SP), e inclui a CPQ Brasil S/A e 28 filiais - todas localizadas em aeroportos.
A companhia informa, na ação, um passivo de R$ 57,5 milhões a ser renegociado no processo. Desse total, R$ 244,3 mil seriam devidos a trabalhadores, R$ 55,8 milhões aos chamados quirografários - a classe sem garantias - e R$ 1,3 milhão a credores enquadrados como microempresas e empresas de pequeno porte.
Consta na ação, além disso, que a dívida não sujeita aos efeitos do processo de recuperação judicial soma R$ 53,2 milhões e que existe um passivo tributário de R$ 28,7 milhões.
A empresa relata, na ação, ter sido severamente afetada pela pandemia. Cita que problemas com uma parceria comercial também contribuíram para a crise e afirma, por fim, a inundação do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, onde ficam quatro lojas "rentáveis e com fluxo de caixa significativo".
De acordo com a empresa, a tragédia climática causou um impacto financeiro negativo de R$ 1 milhão por mês em vendas e uma perda de Ebitda de aproximadamente R$ 250 mil por mês. "Sem previsão de retorno à normalidade, a empresa teve que demitir 55 funcionários, agravando ainda mais a crise."
A Casa do Pão de Queijo pediu à Justiça a antecipação do chamado "stay period", o período em que ficam suspensas as ações e execuções contra a empresa devedora. São 180 dias que podem ser renovados por mais 180. O pedido é para que o juiz determine a suspensão antes mesmo de decidir se defere ou não o processamento da recuperação judicial.
Outro pedido "urgente" é para que o juiz determine a manutenção de todos os contratos de locação e que proíba a interrupção do fornecimento de energia elétrica.
Expansão e crise
A Casa do Pão de Queijo narra no processo que "vinha experimentando um crescimento sólido" no começo dos anos 2000. Operava com sucesso em diversos aeroportos geridos pela Infraero e foi convidada a expandir suas operações para novos aeroportos privatizados, incluindo Guarulhos, Brasília, Galeão e Campinas.
Essa expansão, diz, foi motivada pelo crescimento econômico do país e por grandes eventos, como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Em virtude desse sucesso inicial, decidiu continuar expandido em 2018 e 2019, abrindo mais lojas próprias nos aeroportos recém privatizados de Fortaleza, Porto Alegre, Goiânia, Salvador e Vitória.
Com a pandemia, no entanto, as operações da Casa do Pão de Queijo foram severamente afetadas. Consta na ação que nos três primeiros meses de pandemia a empresa registrou perda de 97% de seu faturamento e que encerrou o ano de 2020 com uma redução total de 50%.
"As lojas recém-inauguradas em Fortaleza e Porto Alegre estavam ainda em fase de consolidação, e a empresa tinha financiamentos significativos a serem pagos", afirma na ação.
Adicionalmente, diz, as concessionárias dos aeroportos continuaram cobrando aluguéis altos. "A manutenção dos altos valores de aluguel, mesmo em um cenário de baixíssimo movimento de passageiros, tornou a operação das lojas financeiramente insustentável".
Muitos franqueados, também impactados pela pandemia, desistiram do negócio, o que resultou em redução de vendas de produtos para a empresa. A fábrica, além disso, teve que interromper a produção por diversas vezes devido às restrições de circulação de pessoas, o que também resultou em perda de produtividade.
Além disso, a empresa afirma ter enfrentado problemas com um projeto desenvolvido em parceria com uma multinacional mexicana do setor de alimentos, o que também teria contribuído para a crise.
Por fim, cita a inundação do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, causada pelas fortes chuvas que atingiram o Estado no mês de maio, onde ficam "quatro lojas que eram rentáveis e geravam um fluxo de caixa significativo."
01/07/2024 00:08:11