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Por — De São Paulo


“Posso ser próximo de uma pessoa e ser independente na tomada de decisão. Foi isso que o BC mostrou ao longo do caminho” — Foto: Ana Paula Paiva/Valor
“Posso ser próximo de uma pessoa e ser independente na tomada de decisão. Foi isso que o BC mostrou ao longo do caminho” — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirma que as críticas do presidente Lula à condução da política monetária dificultam o trabalho de controle da inflação. Ele diz que as acusações de suposta falta de independência por sua proximidade com o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, se baseiam em “factoides” e ignoram a ação concreta de ter subido os juros nas eleições presidenciais.

“Quando você tem uma pessoa da importância do presidente questionando aspectos técnicos da decisão do Banco Central, gera um prêmio de risco na frente”, afirma, em entrevista ao Valor. “Essa incerteza maior acaba fazendo com que o nosso trabalho fique mais difícil.”

Campos Neto nega que tenha sido convidado para ser ministro da Fazenda numa hipotética candidatura de Tarcísio a presidente em 2030. “A próxima pessoa que sentar na minha cadeira provavelmente vai a eventos do governo. O que tem que ser cobrado dele não é se ele vai estar num evento do governo, se ele vai estar numa festa na casa de uma pessoa que seja muito de esquerda. O que deve ser cobrado é qual foi a decisão que tomou.”

O presidente do BC diz que não tem nenhum problema com como ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apesar dos ruídos recentes. “Acho que ele está fazendo um esforço fiscal muito grande”, afirma.

Também disse não ter nenhuma restrição ao fato de que o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, representou a instituição em reunião no Palácio do Planalto sobre o decreto que adotou metas contínuas. “Eu não vi nenhum problema”, afirma. “Ele me ligou antes.”

A seguir, alguns dos principais trechos da entrevista:

Valor: O sr. foi criticado por ter aceito uma homenagem da Assembleia Legislativa de São Paulo e por ter ido a um jantar com o governador Tarcísio de Freitas. O presidente do Banco Central deveria ter mais resguardo para não deixar dúvida sobre sua independência do mundo político?

Roberto Campos Neto: Sempre disse, desde o começo, porque esse tema já apareceu várias vezes, que é importante separar o que é a proximidade do que é independência ou dependência. Posso ser próximo de uma pessoa e ser independente na tomada de decisão. Foi isso que o Banco Central mostrou ao longo do caminho. Fez a maior alta de juros em um ano de eleição na história do mundo emergente. A gente precisa considerar não os ‘factóides’, e sim o que de fato foi feito. Quando começaram a sair essas notícias, estava no período de silêncio. Não tive a capacidade de me explicar.

Valor: O sr. sinalizou ao governador Tarcísio que aceitaria ser ministro da Fazenda dele?

Campos Neto: Não, nunca tive nenhuma conversa, em nenhum momento, sobre ser ministro de nada. O Tarcísio é meu amigo pessoal há bastante tempo. As nossas famílias são muito próximas. A gente tem um relacionamento muito próximo. Discutimos bastante sobre economia, desde a época que ele era ministro da infraestrutura. Ele dizia que era importante entender a economia do Brasil para poder vender os projetos. Então ele sempre me ligava, a gente conversava de economia. Todas as vezes, que não são muitas, que a gente discutiu sobre política, a percepção que eu tenho é que ele não é candidato a presidente. E fica uma especulação sobre uma influência política, sobre a minha decisão numa possível candidatura em 2030. Daqui a seis anos, eu vou ter 61 anos. Acho que faz pouco sentido esse tipo de especulação. Eu tinha sido chamado para três eventos da mesma natureza. Um evento foi chamado pelo governador Mauro Mendes, de Mato Grosso, em 19 de outubro. Foi um evento parecido, teve um almoço e confraternização. Eu ganhei uma homenagem. Tinha o evento em São Paulo e tinha um outro evento, que ainda não aconteceu, que seria no Rio de Janeiro, que foi organizado pelo [prefeito Eduardo] Paes. Três eventos organizados por pessoas de alas políticas diferentes para reconhecer o trabalho do Banco Central. Eu entendi que participar desses eventos é uma homenagem não à minha pessoa, mas a homenagem ao trabalho do Banco Central, que eu represento. A próxima pessoa que sentar na minha cadeira provavelmente vai a eventos do governo. O que tem que ser cobrado dele não é se ele vai estar num evento do governo, se ele vai estar numa festa na casa de uma pessoa que seja muito de esquerda. O que deve ser cobrado é qual foi a decisão que tomou. Eu espero que isso se aplique no meu trabalho e que se aplique também ao meu sucessor.

Valor: O sr. teria desaconselhado o governador Tarcisio a ser candidado em 2026 porque prevê uma situação econômica negativa?

Campos Neto: [Risos] Você acha que o Tarcísio, que saiu lá de Brasília, ministro da Infraestrutura, que ganhou o governo de São Paulo, vai pedir conselho para mim sobre política? Isso é parecido com uma coisa que disseram uma vez que o Bolsonaro pedia conselhos para mim sobre política ou sobre pesquisas ou coisas desse tipo. Não faz nenhum sentido. Se tem alguém que, quando tem dúvida sobre o cenário político, tem que fazer pergunta, sou eu. Isso não existiu de forma alguma. O que eu disse e que eu sempre digo para o Tarcísio é sobre o cenário econômico. O que eu tenho dito, não só para o Tarcísio, mas está em todas as minhas apresentações, é que eu vejo um cenário em que temos juros muito altos sobre uma dívida muito alta globalmente e que a gente vai passar por momentos daqui para frente onde essa liquidez vai começar a enxugar. Essa liquidez que está sendo enxugada vai começar a ter efeitos nos emergentes.

Valor: O presidente Lula comparou o sr. com o senador Sergio Moro, sugerindo que ele cumpria uma agenda política quando era juiz da Lava Jato. O sr. vai ser candidado a alguma coisa?

Campos Neto: Não planejo nada. O tempo vai dizer a verdade. Em algum momento, disseram que o Roberto fala mais com o presidente Bolsonaro do que com o presidente Lula. Eu acho que eu nunca falei com o presidente Bolsonaro, nunca, depois da eleição. O Roberto fala muito com Tarcísio. Sim, nós somos amigos. Falamos muito. Acho que a gente tem que sair dessa retórica de quem fala com quem e pensar no aspecto técnico do trabalho que está prevalecendo. Não tenho intenção de me candidatar a nada, não vou me candidatar a nada. No mesmo artigo que especulava que eu tinha dito que seria ministro da Economia, o que é um absurdo, também dizia eu tinha sido cortejado pelo banco Itaú e pelo banco BTG, o que também não é verdade. Nunca falei com o Itaú, nem com o BTG sobre nada. Nesse mesmo artigo dizia também que uma outra opção é que eu podia fazer um banco digital. Um artigo que tinham muitas possibilidades. Quando tem tantas possibilidades, de fato é porque ainda não tomei nenhum tipo de decisão. Eu gosto de finanças e tecnologia. Muito provavelmente, o que eu vou fazer no futuro é uma coisa que mistura essas duas coisas. Mas não será no governo.

Valor: O diretor Gabriel Galípolo esteve no Palácio na terça-feira para tratar dos detalhes da meta contínua. Não deveria ter ido o presidente do Banco Central?

Campos Neto: Ele estava tratando do assunto da meta já há algum tempo. Tinha uma proximidade com o pessoal que estava fazendo esse trabalho. O diretor Galípolo foi, mas poderia ter sido o diretor Diogo [Guillen], que também estava trabalhando com isso. Eu não vi nenhum problema. Ele me ligou antes e falou: 'olha vai ter essa reunião e tal’. Eu falei: ‘vai, é importante esclarecer’. Tem alguns aspectos do decreto que foram uma vitória muito grande em termos de transparência, principalmente o tema do 36 meses. Estamos dizendo basicamente que qualquer mudança de meta hoje vale só para daqui a três anos. Isso dá um sinal de transparência muito grande. Não tenho nenhum problema quando algum diretor vai em outro tipo de reunião me representando ou porque é chamado.

Valor: Teve uma série de faíscas no seu relacionamento com o ministro Haddad, envolvendo autonomia administrativa do Banco Central e depois quando o Banco Central mudou a política monetária. Como está seu relacionamento hoje com ele?

Campos Neto: Eu tento não prestar atenção na história de ruídos. Eu estou sempre disponível para conversar. Toda vez que é um tema que eu acho que vai ajudar, principalmente nessa parte fiscal, onde puder ajudar eu sempre tenho ajudado. Acho que pessoas no governo são prova disso, que eu sempre tento ajudar na parte fiscal. Quando a gente fala do fiscal, é sempre num ângulo que impacta a política monetária. O sistema depende do fiscal e depende do monetário. Não tem nenhum problema com com o ministro da Fazenda e acho que ele está fazendo um esforço fiscal muito grande. É um trabalho muito mais difícil, porque depende de muito mais agentes. Para que aconteça, você precisa estar alinhado com o Congresso, às vezes tem uma coisa no Judiciário. Nossa função aqui não é criticar o fiscal, nem criticar o Executivo.

Valor: O presidente Lula fez algumas críticas não só o sr., mas também à condução da política monetária e à autonomia em lei ao Banco Central. Essas críticas tem atrapalhado de alguma maneira o trabalho para controlar a inflação?

Campos Neto: Obviamente, quando você tem uma pessoa da importância do presidente questionando aspectos técnicos da decisão do Banco Central, gera um prêmio de risco na frente. O prêmio de risco sempre faz com que você tenha que olhar o desenvolvimento dessas variáveis e como que isso impacta a nossa política. Então, de certa forma, quando você tem um questionamento em relação ao trabalho técnico do Banco Central, sim, impacta o canal de transmissão de política monetária. Mas não cabe ao presidente do Banco Central ficar respondendo ou questionando o que foi dito pelo presidente da República. O que a gente tem que fazer é comunicar: 'Olha, se for ter um questionamento em relação a isso, isso ou isso, vai gerar mais prêmio de risco. Gerando mais prêmio de risco, vai ter uma incerteza maior. Essa incerteza maior acaba fazendo com que o nosso trabalho fique mais difícil. O nosso trabalho ficando mais difícil, significa que a convergência da inflação é mais lenta e significa que a gente vai demorar mais tempo para atingir uma situação de inflação mais baixa com juros mais baixos, que é o que todos queremos. No fim, todos queremos a mesma coisa. Todos nós queremos ter uma inflação baixa controlada, juros baixos, crescimento saudáveis, geração de emprego. Nossa missão no final das contas é a mesma.

Valor: O presidente Lula se queixou que a inflação corrente está baixa e que o Banco Central mantem o juro alto porque alega que está de olho na inflação futura. Está havendo exagero do BC na política monetária?

Campos Neto: No sistema de metas, tem que olhar para frente. Por quê? Ao contrário às vezes da política fiscal, que tem um impacto mais de curto prazo, a política monetária leva entre 12 e 18 meses para fazer efeito. Então preciso tomar uma ação hoje olhando o que está sendo esperado na frente. Se eu tomar uma ação hoje baseada na inflação corrente, é muito parecido como dirigir um carro olhando o retrovisor. Eu não vou enxergar o que está para frente e o carro vai bater. Entendo que, às vezes, para algumas pessoas, não é tão fácil entender qual é o papel da expectativa na formação de preço. O sistema de metas tem um pilar fundamental que é a transmissão via canal de expectativas. É importante que a gente leve isso em consideração.

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