O óleo da macaúba, palmeira nativa das Américas, pode ser utilizado para diversas aplicações nos setores alimentício, fármaco, cosmético e de biocombustível. A árvore também é aliada na recuperação de pastagens, em integração com a pecuária, ajudando no sequestro de carbono. Alavancar a cadeia produtiva da macaúba, criando uma demanda para óleos vegetais com a melhoria das pastagens, é a aposta da startup Inocas, com sede em Patos de Minas (MG).
A empresa, que já plantou 2.000 hectares de macaúba em 54 propriedades, está expandindo a atividade para o Vale do Paraíba (SP-RJ) e para o Pará. A startup fornece aos produtores apoio técnico e insumo e se compromete a comprar os frutos. O plano é até 2030 ter 30 mil ha consorciados em sistema silvopastoril. "O Brasil tem 43 milhões de ha de pastagens degradadas, e a macaúba pode auxiliar a tornar esses pastos produtivos com absorção de carbono suficiente para atender 104% da meta climática assumida pelo país", afirma Johannes Zimpel, CEO e cofundador da Inocas.
Fomentar novas cadeias produtivas tem sido a tônica dos programas voltados à promoção da bioeconomia. Mas aos poucos cresce a oferta de serviços. No caso da Inocas, embora os óleos vegetais sejam parte da tese de valor da startup, a prestação de serviços está no cerne do negócio - desde o apoio técnico aos produtores para recuperação das pastagens até a estruturação de projetos de crédito de carbono atrelados ao cultivo. Para sua entrada na Amazônia, a startup participou de edital da Amaz, principal aceleradora de negócios de impacto na região, que ajudou na captação de R$ 200 mil e na articulação de networking local.
“Quando se fala em serviços em bioeconomia, as atividades que têm se mostrado mais pujantes são aquelas atreladas a regeneração e conservação florestal com estruturação de projetos de crédito de carbono”, diz Mariano Cenamo, diretor executivo da Amaz, que tem 23 negócios no portfólio e já realizou R$ 5,6 milhões em investimentos. Os negócios geram benefícios para 1.197 famílias e ajudam a conservar 3,7 milhões de ha de floresta. A aceleradora tem um fundo de financiamento híbrido (blended finance) para negócios de impacto de R$ 25 milhões para os próximos cinco anos, voltado à Amazônia.
Também no portfólio da Amaz, a Floresta S/A promove a regeneração de áreas desmatadas com agroflorestas voltadas à produção de cacau, banana, açaí e café por meio de recursos de patrocinadores, geralmente pessoas físicas, interessados em investir em projetos de impacto socioambiental. “As agroflorestas vão produzir madeira, frutas e créditos de carbono e permitem gerar recursos tanto para os produtores quanto para os investidores”, diz Thiago Campos, CEO da Floresta S/A. O investimento médio é de R$ 150 mil, com expectativa de rentabilidade de 12% e 16% ao ano e payback a partir de oito anos. A startup escolheu o município de Iracema (RR) como ponto de partida, uma vez que a região tem altos índices de desmatamento e degradação florestal.
No âmbito de políticas públicas, Estados da Amazônia Legal, como Amazonas, Pará e Acre, já têm iniciativas com foco na bioeconomia, e o governo federal criou a Secretaria Nacional de Bioeconomia, dentro do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Na Superintendência da Zona Franca de Manaus, o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) visa captar recursos de investimentos obrigatórios em pesquisa e desenvolvimento para gerar novos produtos, serviços e negócios. O programa conecta indústrias a projetos de universidades, instituições ou startups. Como a maioria das indústrias do polo de Manaus não tem core business associado à Amazônia, o PPBio surge como estratégia de diversificação de investimentos e de conexão com a agenda ESG. Já foram investidos R$ 24,6 milhões em 30 projetos. “Estamos validando um piloto de negócios viáveis da bioeconomia que, se ganhar escala, pode ser um caminho para um novo modelo econômico para a região”, diz Carlos Gabriel Koury, coordenador do PPBio.