É possível fazer diferente? (Parte III: A história)

É possível fazer diferente? (Parte III: A história)

Você quer entender a história toda?
Clique aqui e leia o Capítulo I - O desafio do dia a dia.
Clique aqui e leia o Capítulo II - O Primeiro passo: O Propósito.

Capítulo 3: A história

Alguns dias depois do mergulho nas leituras sobre propósito Guilherme ouviu um colega comentar que havia feito um curso de Storytelling e que isso estava ajudando muito nas atividades profissionais e até mesmo pessoais. Guilherme não sabia muito do que o tema tratava e, apesar da descrença em fórmulas mágicas, resolveu investigar o assunto mais a fundo. Já nas primeiras referências que encontrou, Guilherme leu um parágrafo que fez enxergar o assunto sobre uma perspectiva diferente: “Storytelling é a forma de comunicação mais antiga e mais eficiente” (Mathews & Wacker, 2007) e Guilherme começou a se questionar se isso era realmente possível. Será que o Storytelling poderia ajudar a ativar o propósito nas organizações?

Para poder fazer a ligação entre os dois temas era necessário compreender os elementos de Storytelling. Este era um momento crucial, Guilherme precisava escolher entre o tempo de se dedicar para aprender mais sobre Storytelling ou preparar a abordagem a ser apresentada ao cliente em potencial nos moldes tradicionais. A abordagem tradicional já demandava tempo suficiente, bem mais das oito horas de trabalho do seu dia. Ainda de quebra, ele acabara de assumir o papel de replicador de conhecimento na área que ele trabalhava e fora aceito no MBA in company.

Mesmo sabendo que o seu tempo era escasso, Guilherme resolveu estudar um pouco do tema e aquela noite de quarta-feira foi dedicada a mais leituras. Durante a sua pesquisa, Guilherme aprendeu que o Storytelling significa contar uma história relevante, e não apenas mais uma história e que saber contar uma história relevante não é um dom, mas sim uma técnica que precisa ser estudada e praticada.

No seu dia a dia Guilherme já observava que a maioria das pessoas tenta descrever as suas rotinas com uma forma de pensamento linear, entretanto a vida não é linear (muitas vezes ela é de caos - Kellert, 1993). A vida é complexa, imprevisível, está em mudança constante e existe a necessidade de navegar a partir de um maior nível de complexidade (Barrett, 2014). Nesta dicotomia entre o linear e complexo, a técnica de Storytelling permite criar uma forma de comunicação que atende os dois lados do paradoxo (Simmons, 2006).

Como Guilherme recém tinha assumido a função de replicador de conhecimento para a sua especialidade, ele também viu no Storytelling a oportunidade para difusão do conhecimento e uma ferramenta para ser usada no contexto da aprendizagem. A forma pela qual as histórias são estruturadas torna o Storytelling ideal para a transmissão de elementos culturais como regras, valores éticos, cultura organizacional e experiências vividas.

Mas, para que tudo isso aconteça, uma boa história deve fazer a conexão com a sua audiência. Guilherme percebeu que para esta conexão existir, as histórias devem conter elementos da verdade humana. Como as pessoas recebem mais informação do que elas querem, usam ou podem processar (Simmons, 2006), os elementos da rotina das pessoas, quando incluídos em uma história, fazem as pessoas se identificarem com o assunto. Estes elementos são as âncoras com que criam a conexão da história com o público.

Assim, Guilherme deveria ser capaz de fazer com que a história revelasse à sua audiência algo sobre eles mesmos. Bingo! Este era o ponto para conectar com o propósito das organizações. Para fazer isso ele deveria apresentar um contexto relevante, somado a um desafio que requer uma ação.

Apesar de toda a teoria, Guilherme sentia que ainda faltava algo na abordagem que ele precisava apresentar. Ainda faltava uma peça para completar quebra-cabeça. Ao olhar o relógio ele se espantou ao perceber como o tempo havia passado rápido naquela noite, já era madrugada. A solução para o problema ainda estava por ser descoberta.

Continua...
Capítulo IV - Por que?
Capítulo V - Felizes para sempre? A história do “impostor que foi para a cadeia”
Apêndice - O lado negro do Storytelling

Referências:

Barrett, R.; 2014: A organização dirigida por valores: liberando o potencial humano para performance e lucratividade. Elsevier-Campus. 2014.

Kellert, S. H.; 1993. In the Wake of Chaos: Unpredictable Order in Dynamical Systems. University of Chicago Press. p. 32.ISBN 0-226-42976-8.

Mathews, R.; Wacker, W.; 2007. What’s Your Story? Storytelling to Move Markets, Audiences, People, and Brands. FT Press.

Simmons, A.; 2006. The Story Factor. Basic Books.

 

Disclaimer: 

Este texto aborda os dilemas e os desafios de um consultor que, ao longo do tempo, muda a sua forma de ver o mundo dos negócios. Esta mudança de percepção do mundo começa em uma conversa despretensiosa em uma reunião que o deixa inspirado. Isso faz com que o personagem busque novas referências de estudo para entender como ele realmente pode ajudar os seus clientes. Esta é uma história fictícia e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Agradecimento especial ao Ricardo Taborda dos Reis pela revisão do texto e sugestões de melhorias.

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Sobre o autor: Leandro Loss é gerente de Gestão do Conhecimento na EY - Advisory Services e Professor de Gestão do Conhecimento da FIA - Fundação Instituto de Administração. Ele tem mais de 10 anos de experiência na área de Gestão de Conhecimento e Aprendizagem Organizacional.

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